Foi entre o final de 2021 e o início de 2022 que Daniil Medvedev teve o seu melhor período no circuito ATP. Aí, ganhou o primeiro Grand Slam no US Open com uma das mais pesadas derrotas de Novak Djokovic numa final e repetiu depois a presença na decisão do Open da Austrália, onde Rafa Nadal levou a melhor. Nem isso impediu que chegasse a número 1 do ranking mundial também por todo o imbróglio em que o sérvio se viu envolvido por não estar vacinado contra a Covid-19. Em 2023, depois de um mau arranque em Melbourne e de um insperado desaire a abrir Roland Garros, consolidou essa ascensão a principal adversário dos Mosqueteiros de todos os recordes: ganhou Roterdão, Doha, Dubai, Miami (perdendo antes a final em Indian Wells com Carlos Alcaraz) e Roma, chegou às meias de Wimbledon, foi às finais de Pequim e Viena.

Nuno Borges chega pela primeira vez aos oitavos de final do Open da Austrália

Mais do que resultados, Medvedev conseguiu ir fazendo uma espécie de rebranding da imagem “beliscada” muitas vezes com o simples facto de ser russo. Se durante largos meses Andrey Rublev, dentro de raquetes partidas e críticas abertas ao árbitro, era o jogador do país que mais se destacava, o atual número 3 mundial mudou a forma como era visto com uma atitude mais descontraída e respeitadora nos torneios em que ia entrando. O próprio admite que essa mudança existiu. “Sempre fui uma pessoa alegre mas sinto que agora sou mais feliz do que nunca. No último mês e meio senti paz comigo mesmo, sinto que conheço os meus objetivos e como posso alcançá-los. Gosto mais de mim e sei preocupar-me mais com as pessoas de quem gosto. Sei que posso ter altos e baixos durante a temporada porque este desporto é complicado mas considero que comecei uma nova etapa na minha vida. Estou entusiasmado com o que vem aí”, admitiu, contando também um episódio com Novak Djokovic numa Taça Davis que lhe marcou o resto da carreira.

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Essa leveza sente-se também no jogo de Medvedev, que depois de um triunfo a quatro sets por desistência frente ao francês Térence Atmane teve de ir à “negra” com o finlandês Emil Ruusuvuori antes de defrontar o canadiano Félix Auger-Aliassime. A vitória surgiu pela primeira vez em três parciais mas, devido a todo o calendário do dia, o russo só chegou à cama quase às 4h da manhã. “Quando era jovem, até aos 21 anos, saía muito à noite. Não foi bom para o ténis, impedia-me de jogar como agora, mas talvez essa experiência de quase não dormir me tenha ajudado desta vez. E tenho a capacidade de adormecer em qualquer momento e lugar!”, ironizou o número 3 mundial a esse propósito, relativizando essa possível condicionante.

Antes fazia “birras”, agora fez história no Open da Austrália: para Nuno Borges, podia não ser uma questão de tempo, mas o tempo ajudou-o

Agora, era a vez de defrontar Nuno Borges, depois dos elogios ao triunfo frente a Grigor Dimitrov. Para ser honesto ele acabou de chegar ao circuito, mas uma vez vi-o a jogar com Wu Yibing, há dois anos. Também vi o primeiro set de hoje [madrugada de sábado] e ele estava jogar bem e bater o Grigor, que tem estado muito bem ultimamente, é um grande feito. Espero mostrar o meu melhor nível”, comentou, apresentando-se com confiança para chegar de novo aos quartos, onde teria depois pela frente o polaco Hubert Hurkacz e a revelação francesa Arthur Cazaux. No entanto, o português também quer ter ainda uma palavra a dizer.

“Estou a viver o sonho e vou continuar à procura de mais”: o pós-vitória de Nuno Borges, entre um jogo de pares e o invicto Dimitrov

Após a surpresa que já tinha protagonizado na segunda ronda com o espanhol Alejandro Davidovic Fokina, naquele que foi o primeiro triunfo da carreira contra um top 25, Nuno Borges conseguiu também bater o pé frente ao búlgaro Grigor Dimitrov, atual 13.º do ranking mundial que somava por vitórias os jogos feitos em 2024. Com isso, o maiato tornou-se apenas o segundo jogador nacional de sempre a chegar aos oitavos de um Grand Slam depois de João Sousa no US Open de 2018 e em Wimbledon no ano de 2019, ficando também com a segunda vitória diante do ranking mais baixo após o triunfo diante de Pablo Carreño Busta na segunda ronda do US Open de 2018. A primeira entrada no top 50 estava garantida e com mais em aberto.

Se João Sousa perdeu com Novak Djokovic (2018) e Rafa Nadal (2019) quando chegou à quarta ronda de um Grand Slam, o facto de Nuno Borges defrontar Daniil Medvedev permitiu-lhe fazer um encontro histórico no court principal em Melbourne (Rod Laver Arena), em mais uma realização de um sonho a partir das 2h30 da manhã desta segunda-feira. “Sinto-me bem. Não foi fácil adormecer ontem [sábado] à noite mas consegui descansar bem. O prognóstico é bom para amanhã [madrugada de segunda-feira]. Estou muito motivado e entusiasmado para jogar, ainda por cima num campo grande. Nem acredito que estou na segunda semana do Open da Austrália. É seguir em frente e continuar a dar tudo. Tenho um dia mais tranquilo, não vou treinar muito. Vou manter o ritmo e tentar recuperar bem”, destacou ao jornal Record.