Em condições normais, às 20h já se saberia se o Sporting tinha ou não reforçado a sua condição de líder do Campeonato com a sétima vitória consecutiva ou se o Famalicão tinha conseguido travar a série de duas derrotas seguidas na prova. Ao invés, falou-se de tudo menos futebol. Porque, na verdade, houve um pouco de tudo menos futebol: centenas de adeptos à porta do Estádio Municipal com bilhete mas sem entrada, um adiamento que afinal não passava de um paliativo para justificar o injustificável, violência gratuita nas ruas adjacentes do recinto, a falta de acordo para uma nova data por não haver garantias por parte das forças de segurança. Tudo em duas horas e meia num encontro que acabou cancelado e sem uma decisão.

Famalicão-Sporting foi adiado por falta de policiamento e ainda não tem data. Leões regressam a Lisboa

17h. Nada de equipas, nada de público e nenhuma informação (oficial ou oficiosa)

Um pouco antes das 17h, percebia-se que alguma coisa não estava bem em relação ao Famalicão-Sporting. Por um lado, e ao contrário do que é normal, ainda não estavam disponíveis as equipas iniciais sem que a isso fosse acrescentada uma justificação; por outro, as portas do Estádio Municipal de Famalicão não tinham ainda sido abertas, com centenas de pessoas à espera desse momento para ocuparem os seus lugares mais cedo na bancada. Aí havia apenas uma certeza: só muito dificilmente a partida poderia começar às 18h como estava agendado, com responsáveis dos dois clubes, elementos da Liga e forças da autoridade de um lado para o outro na zona perto da sala de conferências de imprensa em movimentações “anormais”.

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17h15. PSP começa a tentar encontrar alternativas, jogadores do Sporting equipados

Os minutos iam passando e entretanto percebia-se que o problema a atrasar tudo passava pelos elementos das forças policiais que não estavam presentes. Como o Observador revelou na altura, estavam escalados 15 operacionais mais 13 colocaram baixa, o que fez com que se tentasse encontrar soluções para garantir esse número que tinha sido definido na avaliação de risco à partida da 20.ª jornada do Campeonato. Como em Braga não estava a ser conseguida essa alternativa, avançaram contactos como elementos da Maia e do Porto. Enquanto tudo isso acontecia, os jogadores do Sporting já estavam equipados à porta do balneário e iam recriando-se com uma bola. Os responsáveis leoninos também não tinham dúvidas em relação ao que pretendiam: jogar este sábado, tendo em conta o calendário complicado que têm nas próximas semanas.

17h40. O jogo é oficialmente adiado para as 19h (com a garantia de que se vai realizar)

A reunião que juntou todas as partes na sala de conferências de imprensa terminou com uma decisão clara: o jogo iria realizar-se mas apenas às 19h. À saída, todos os protagonistas apresentavam caras mais “aliviadas”, com o árbitro Fábio Veríssimo à conversa com Hugo Viana, diretor desportivo dos leões. “A Liga Portugal informa que, devido a dificuldades de policiamento que lhe são alheias, o início do jogo entre Famalicão e Sporting está previsto para as 19 horas. A Liga Portugal, embora seja alheia aos motivos que levaram ao atraso no início do jogo, lamenta o transtorno causado às equipas e adeptos, mas será sempre intransigente na defesa das garantias de segurança nas partidas das competições por si organizadas, de forma a assegurar a proteção de adeptos e intervenientes”, anunciou-se em comunicado. Quase em paralelo, saíram as equipas iniciais, com Rúben Amorim a apostar em Geny Catamo e Paulinho.

17h45. Forças das autoridades parecem começar a chegar e aguarda-se a abertura de portas

Começa a chegar a informação de que as forças das autoridades em falta (o Corpo de Intervenção e também os spotters estavam presentes) estariam para chegar a Vila Nova de Famalicão, com essa informação que foi veiculada de que alguns elementos rumariam a partir do Tribunal de Instrução Criminal do Porto, onde estão a ser ouvidos os detidos da “Operação Pretoriano”. Cá fora, os adeptos aguardam com ansiedade perante as notícias a entrada no Estádio Municipal. Também os jogadores, agora não só os do Sporting mas também os do Famalicão, andam pela zona próxima dos balneários à espera da “luz verde” para o aquecimento.

18h. Episódios graves de violência após chegada de um grupo de casuais

Começam a chegar relatos (e depois imagens, e mais tarde pelo menos quatro filmes feitos com telemóvel) de episódios de violência no exterior do recinto com pelo menos dois feridos, de acordo com as notícias iniciais. Segundo foram explicando ao Observador, tudo começou quando um grupo de casuais, que se deslocou para Famalicão à parte das claques do Sporting, avançou contra um grupo de adeptos do Famalicão. Depois de lutas na estrada e nos passeios, que deixaram o Oficial de Ligação aos Adeptos da casa, Pedro Silva, estendido no chão sem reação, houve depois arremesso de pedras, garrafas e cadeiras entre esses adeptos e outros que tinham ido para o café. Os casuais deixaram essa zona quando chegou o Corpo de Intervenção (criticado pelos adeptos famalicenses por terem demorado tanto), sendo que as ambulâncias foram depois chegando ao local para assistirem um total de seis feridos, um com maior gravidade e cinco ligeiros.

18h35. Perímetro de segurança reforçado e a impaciência de Rúben Amorim

Enquanto as pessoas cá foram continuavam à espera para entrar no Municipal de Famalicão, a polícia que estava presente no exterior do recinto ia aumentando o perímetro de segurança para que não existissem mais confrontos. Ainda assim, houve mais um tumulto, neste caso entre adeptos e forças policiais. No interior do estádio, e enquanto os dois presidentes, Miguel Ribeiro e Frederico Varandas, iam trocando impressões sobre o que tinha passado também lá fora, Rúben Amorim, de mãos nos bolsos, ia mostrando sinais de impaciência perante o passar dos minutos sem uma decisão. Os próprios jogadores começam a mostrar uma postura como quem já não acreditava que o encontro fosse mesmo realizar-se ainda este sábado.

18h55. Equipas voltam a ser chamada para uma reunião: jogo estava mesmo adiado

Os responsáveis das duas equipas, os delegados da Liga e os membros das forças policiais voltam a reunir-se na sala de conferências de imprensa do Estádio Municipal de Famalicão. O encontro demora poucos minutos e logo no início é comunicado que o jogo não se irá realizar este sábado. A hipótese de haver jogo no domingo é a primeira alternativa estudada por todas as partes e até poderia ser aceite por Famalicão e Sporting (neste caso, com um calendário bem mais denso) mas a PSP não conseguiu assegurar a garantia total de que o filme não se podia repetir 24 horas depois. Perante essa premissa, os leões assumiram que iriam regressar a Lisboa, sem ficar uma nova data definida. Só nos próximos dias haverá uma decisão, sendo que, de acordo com as fontes contactadas pelo Observador, só há dois cenários possíveis em caso de vitória na Taça em Leiria: adiar a primeira mão das meias da prova com Vizela ou Benfica ou jogar em março.

19h30. A troca de “culpas” entre comunicados enquanto o Sporting voltava a Lisboa

Enquanto os jogadores do Sporting voltavam a trocar de roupa para entrarem no autocarro e seguirem a sua viagem para Lisboa, e numa fase em que as dúvidas em relação à realização do FC Porto-Rio Ave não muito longe iam sendo dissipadas, Liga e PSP trocaram “culpas” através de comunicados oficiais.

“A Liga Portugal informa que o jogo entre Famalicão e Sporting foi adiado, por acordo dos clubes, para data ainda a definir, depois de ter recebido informações por parte do responsável pela força policial presente no Estádio Municipal de Famalicão de que não existem condições de segurança para a realização do mesmo hoje nem amanhã. A Liga Portugal repudia os incidentes ocorridos no exterior do Estádio Municipal de Famalicão, enquanto os adeptos de Famalicão e Sporting guardavam pela abertura de portas para acederem ao interior do recinto, atrasada pelo facto de os agentes destacados para o policiamento do jogo não terem comparecido no estádio”, começou por explicar o órgão que tutela o futebol profissional.

“A Liga Portugal informa que, na reunião de preparação que organiza na semana que antecede todos os jogos das suas competições, foram garantidas, por parte das autoridades, todas as condições de segurança para a realização da partida, tendo a Liga Portugal sido surpreendida, em cima da hora do encontro, com a informação de que os agentes destacados para o Famalicão-Sporting teriam, como forma de protesto, alegado baixa médica para não marcarem presença no local, colocando em causa a paz pública e a integridade física dos milhares de adeptos que aguardavam a entrada no recinto, bem como um total desrespeito por todos aqueles que, alguns percorrendo centenas de quilómetros, se deslocaram ao recinto desportivo. A Liga Portugal e os clubes, que anualmente despendem milhões de euros para garantir a segurança nas competições profissionais, não admitem que o futebol seja, em virtude da enorme visibilidade, instrumentalizado para a resolução de assuntos com os quais não tem qualquer relação, colocando em causa não apenas o normal desenrolar das competições profissionais mas também a preparação da participação internacional dos clubes presentes em provas da UEFA e, mais grave, a segurança dos adeptos que pretendem assistir aos jogos”, prosseguiu a mesma missiva enviada pela Liga.

“A Liga Portugal exige ao Governo, em especial ao ministro da Administração Interna, a instauração de um processo de inquérito com caráter de urgência, de forma a apurar responsabilidades pelo sucedido, em defesa dos adeptos e das famílias, e informa que exigirá também, nas instâncias próprias, ser ressarcida pelos danos provocados por ações irresponsáveis às quais é totalmente alheia”, concluiu.

“A PSP tinha planeado e preparado o efetivo policial adequado e necessário para assegurar o normal desenrolar do evento Famalicão-Sporting. Antes do início do policiamento ao evento, um número não habitual de polícias informaram que se encontravam doentes, comunicando baixa médica. A PSP prontamente acionou meios policiais de outras unidades de polícia, meios esses que também vieram a comunicar situações de indisposição, com deslocação para unidades hospitalares. Foram ainda acionados meios da Força Destacada da Unidade Especial de Polícia no Porto e da Guarda Nacional Republicana, visando reforçar o policiamento ao evento desportivo”, destacou a PSP em comunicado.

“Porém, tendo existido alguns incidentes de ordem pública junto ao Estádio Municipal de Famalicão, mesmo tendo sido possível reforçar as imediações do mesmo, a PSP, em coordenação com o organizador e o promotor do evento, decidiu que não se encontravam reunidas as condições necessárias para a realização do jogo. A PSP apela a todos os adeptos de futebol que compreendam a complexidade da situação e que cumpram as indicações dos polícias que se encontram em Famalicão e que evitem comportamentos e atitudes de risco que comprometam a ordem e tranquilidade públicas”, acrescentou ainda a PSP.

Entretanto, o Ministro da Administração Interna abriu um “inquérito urgente” aos acontecimentos do policiamento do jogo Famalicão-Sporting. A decisão consta de um comunicado divulgado esta noite. “Será também aberto inquérito a declarações de sindicalista sobre a atividade da PSP no contexto dos próximos atos eleitorais”, acrescentou ainda o comunicado. O Ministério convocou ainda os responsáveis máximos das forças de segurança para reunião. Ou seja, e a partir de agora, a única coisa ainda ligada ao futebol é mesmo a data de um encontro que deveria ter decorrido este sábado e que continua sem espaço para realização mas há outro “jogo” que teve agora mais um pontapé de saída e que vai ser discutido a outro nível diferente.