Aconteceu de tudo um pouco ao Real Madrid na presente temporada. Logo a abrir, Courtois e Eder Militão contraíram lesões graves e ficaram de fora vários meses. Depois, o eixo central recuado tornou-se quase uma posição amaldiçoada no plantel, agora com Rüdiger e David Alaba também lesionados. Por fim, os problemas físicos das unidades mais ofensivas da equipa fizeram com que se fossem quase revezando entre quem podia ou não ir a jogo num plantel que deixou de contar com Karim Benzema. A isso, de uma ou outra forma, os merengues foram sempre conseguindo responder e a goleada no Santiago Bernabéu na partida que valia a liderança da Liga frente ao Girona foi mais um exemplo paradigmático de como algumas vezes parece que são as camisolas que jogam acima de tudo e todos. Agora, seguia-se o mais complicado teste.

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É certo que o conjunto da capital espanhola conseguira superar todos os obstáculos que foram aparecendo pela frente, caindo apenas na Taça frente ao Atl. Madrid numa temporada em que já ganharam a Supertaça e estão na frente da Liga, mas com um suplemento chamado Bellingham que parecia ter sempre a resolução para qualquer problema que a equipa enfrentasse. Era preciso alguém para marcar golos? Bellingham aparecia. Era preciso alguém para segurar a equipa a meio-campo? Bellingham aparecia. Era preciso alguém para “colar” setores e salvaguardar a defesa? Bellingham aparecia. Questão? Não haveria Bellingham na Alemanha. E a primeira mão dos oitavos da Champions frente a um RB Leipzig cheio de talento individual mas que é capaz de fazer o melhor e o pior em termos coletivos era o próximo desafio para superar.

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“Se está a ser o melhor início de temporada por ter sofrido apenas duas derrotas até aqui? Bem, enquanto série pode ser que sim… Vejo uma equipa sólida, séria, motivada, com bom ambiente, onde ninguém se queixa e todos acrescentam algo… Apesar de tudo o que já passámos e as dificuldades que tivemos, estamos aqui e isso deve-se muito ao carácter dos meus jogadores. A motivação está sempre em alta porque gosto muito do que faço e de onde o faço. Gosto muito do plantel que tenho. Agora volta a Liga dos Campeões, que sabemos que é a competição mais importante para o madridismo. Ausência de Bellingham? Nunca penso nos que não estão, sem ele por exemplo ganhámos todos os quatro jogos. Estas lesões depois têm um outro lado porque se tornam oportunidades para outros jogadores”, apontara Carlo Ancelotti.

Como referia a imprensa espanhola, este era o duelo entre duas correntes diferentes de futebol que dividia um futebol de sangue azul dos espanhóis, 14 vezes campeões europeus, e um futebol que está a reinventar o jogo alemão assente na parceria feita com a bebida energética e que foi capaz de na última época bater o pé ao Real Madrid (3-2). Mas era, sobretudo, um duelo de Champions. O que é que isso significa? Que uma equipa como o RB Leipzig pode fazer desfilar alguns dos maiores talentos jovens da Europa a jogar um bom futebol mas que no final a vitória fica sempre para o conjunto merengue que em vez de lamentar o problema de não contar com Jude Bellingham criou duas soluções para o triunfo chamadas Lunin, que “sentou” Kepa e fez uma exibição monstruosa na Baliza, e Brahim Díaz, que voltou após três anos de empréstimo ao AC Milan para mostrar como tem futebol ao nível dos melhores criativos europeus.

Depois de uma primeira parte que começou praticamente com um polémico golo anulado aos alemães e que teve um Real a sentir grandes dificuldades em chegar ao último terço para colocar a bola em Vinícius Jr. ou Rodrygo, o segundo tempo foi mais movimentado e com os espanhóis a conseguirem contrariar a ligeira tendência favorável aos germânicos logo a abrir com um golo fabuloso de Brahim Díaz, a fintar várias adversários da direita para o meio até fazer um remate em arco sem hipóteses para Gulácsi (48′). Logo na resposta, Dani Olmo e depois Sesko viram o empate travado por Lunin e aquilo que se viu é que nem a vantagem deu outra estabilidade ao jogo dos merengues, que não conseguiram colocar a partida mais a seu jeito e foram vendo os visitados criarem várias situações de perigo. Com o tempo, o RB Leipzig “cedeu”. E cedeu de tal forma que Brahim Díaz teve mais um lance maradoniano para Vinícius Jr. acertar no poste, antes de mais uma intervenção enorme de Lunin a justificar a aposta de Carlo Ancelotti em vez de Kepa.