Foi um truque na manga durante dois meses e meio. Desde o início de fevereiro e até à segunda metade de abril, o Sporting teve um jogo em atraso que tornava as próprias escorregadelas mais relativas e as escorregadelas do Benfica mais importantes: até porque Frederico Varandas tinha garantido logo no dia do adiamento do encontro em Vila Nova de Famalicão que o objetivo era chegar ao dia da partida na liderança isolada do Campeonato, algo que os leões não tinham na altura.

“Não entramos em cabalas da PSP nem em teorias da conspiração mirabolantes contra o Sporting. Primeiro, porque não é verdade. E segundo, porque isso nos desresponsabiliza. Tira lucidez e tira foco à nossa missão, que é vencer. Queríamos que tivesse acontecido? Não. Mas aconteceu. Aconteceu e até já definimos um objetivo: chegar à data do jogo com menos um jogo e em primeiro lugar. Quando houver oportunidade de calendário, seja março, abril ou maio, estaremos preparados para jogar e ir buscar os três pontos”, disse, na altura, o presidente leonino. E a equipa assumiu o objetivo.

Ficha de jogo

Mostrar Esconder

Famalicão-Sporting, 0-1

20.ª jornada da Primeira Liga

Estádio Municipal 22 de Junho, em Vila Nova de Famalicão

Árbitro: Fábio Veríssimo (AF Leiria)

Famalicão: Luiz Júnior, Nathan, Riccieli, Justin de Haas, Martín Aguirregabiria, Topić (Filipe Soares, 78′), Zaydou Youssouf, Puma Rodríguez (Sorriso, 70′), Gustavo Sá (Óscar Aranda, 84′), Chiquinho, Jhonder Cádiz (Florian Danho, 84′)

Suplentes não utilizados: Zlobin, Tom Lacoux, Henrique Araújo, Gustavo Assunção, Alex Dobre

Treinador: Armando Evangelista

Sporting: Franco Israel, Diomande (Eduardo Quaresma, 45′), Coates, Gonçalo Inácio, Geny Catamo (Ricardo Esgaio, 68′), Hjulmand, Daniel Bragança (Morita, 68′), Nuno Santos (Iván Fresneda, 86′), Trincão, Gyökeres, Pedro Gonçalves (Paulinho, 68′)

Suplentes não utilizados: Diogo Pinto, Jeremiah St. Juste, Marcus Edwards, Koba Koindredi

Treinador: Rúben Amorim

Golos: Pedro Gonçalves (19′)

Ação disciplinar: cartão amarelo a Diomande (41′), a Daniel Bragança (43′), a Zlobin (59′), a Jhonder Cádiz (66′), a Ricardo Esgaio (74′), a Hjulmand (90+1′)

De lá para cá, mesmo com menos um jogo, o Sporting só perdeu pontos em Vila do Conde contra o Rio Ave, venceu o Benfica em Alvalade e viu os encarnados tropeçarem em mais do que uma ocasião, chegando à deslocação a Famalicão precisamente nas condições exigidas por Frederico Varandas: com menos uma jornada disputada e com quatro pontos de vantagem para o Benfica, podendo alargar essa distância para sete pontos em caso de vitória e ficar a um passo da conquista do Campeonato.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Ora, neste contexto e ainda sem Matheus Reis, que está lesionado, Rúben Amorim lançava Nuno Santos na ala esquerda e Geny Catamo do outro lado, com Coates a regressar ao trio de centrais e Daniel Bragança a fazer dupla com Hjulmand no meio-campo e em detrimento de Morita. Do outro lado, num Famalicão que vinha de um empate no Dragão com o FC Porto e que mudou de treinador desde a data original do jogo, Armando Evangelista o crónico Cádiz como referência ofensiva, apoiado por Chiquinho, Gustavo Sá e Puma Rodríguez.

Numa primeira parte que não teve muitas oportunidades de golo, depressa se percebeu que o Famalicão teria muitas dificuldades para sair de forma organizada. O Sporting aplicava uma pressão muito alta, com Gyökeres a descair na direita e Bragança a subir para colocar o bloco ainda mais elevado e asfixiar o adversário, que chegou aos 25 minutos sem qualquer ação na área leonina e totalmente obrigado a jogar de forma mais direta para sair do próprio meio-campo.

A primeira aproximação dos leões à baliza de Luiz Júnior aconteceu por intermédio de Gyökeres, que cabeceou por cima depois de um cruzamento de Trincão na direita (8′), e Bragança ficou muito perto de inaugurar o marcador com um pontapé forte de fora de área que acertou na trave e ainda foi desviado pelo guarda-redes (14′). Pouco depois, contudo, o Sporting conseguiu mesmo chegar a uma vantagem que já se ia tornando previsível.

Nuno Santos recuperou uma bola em zona elevada e soltou Gyökeres, que conduziu pelo corredor central antes de deixar em Trincão; o avançado recebeu, temporizou e abriu em Pedro Gonçalves, que atirou cruzado à saída de Luiz Júnior e voltou a marcar à antiga equipa (19′). O jogo caiu em ritmo e intensidade depois do golo, sem que o Famalicão conseguisse reagir e com o Sporting a baixar ligeiramente os níveis de pressão e as aproximações à baliza contrária, e a única vez em que os leões ficaram perto de aumentar a vantagem foi depois da meia-hora e num lance em que Diomande nem sequer finalizou após cruzamento de Catamo (33′).

A equipa de Armando Evangelista fez o primeiro remate já perto do intervalo, por intermédio de um livre direto de Chiquinho que passou por cima (42′), e a superioridade leonina era evidente e justificada. Ao intervalo, apesar de não estar a criar muitas oportunidades e de ter um caudal ofensivo qb, o Sporting estava a vencer o Famalicão e tinha o jogo aparentemente controlado.

Rúben Amorim mexeu logo ao intervalo e acautelou o cartão amarelo de Diomande, lançando Eduardo Quaresma. Gyökeres foi o primeiro a causar perigo, com um remate de fora de área que desviou num adversário (52′), mas a verdade é que o jogo parecia ligeiramente diferente. O Sporting já não aplicava a mesma pressão alta e dava espaço ao Famalicão, que aproveitava para atacar de forma mais construída e também não permitia que os leões assentassem arraiais no meio-campo oposto.

Amorim voltou a fazer substituições a pouco mais de 20 minutos do fim e numa altura em que o Famalicão estava claramente a crescer e a aproveitar um declínio de rendimento do Sporting, lançando Esgaio, Morita e Paulinho de uma vez para tentar voltar a conquistar o controlo das ocorrências. Armando Evangelista respondeu com Sorriso, claramente para continuar a explorar o cansaço leonino, e o jogo permanecia demasiado afastado das balizas.

Morita podia ter feito xeque-mate, num lance em que atirou ao lado na área depois de um enorme desequilíbrio de Trincão na direita (73′), e Cádiz teve a melhor oportunidade do Famalicão com um pontapé quase sem ângulo que passou por cima (80′). Já pouco aconteceu até ao fim, com a equipa da casa a ter constantemente mais bola e os leões a optarem por gerir ao invés de procurarem intensamente o segundo golo, e Rúben Amorim fechou mesmo as avenidas com a entrada de Fresneda já nos últimos instantes.

No fim, o Sporting venceu o Famalicão e ficou mesmo com sete pontos de vantagem em relação ao Benfica na liderança da Primeira Liga, estando agora a um passo do título quando faltam cinco jornadas para o final da temporada. Num dia sofrido, onde a ideia de que o Campeonato está próximo claramente agitou as emoções e as sensações nos últimos instantes, Pedro Gonçalves conseguiu ser a voz de uma equipa que tinha um objetivo com dois meses e meio para cumprir. E cumpriu.