O presidente da Comunidade Islâmica de Lisboa (CIL) apoiou a construção de uma mesquita na Mouraria, acreditando que vai “criar união” entre os crentes de origem do Bangladesh, que se têm dividido em vários locais de culto informais.

“Concordamos com a existência de uma mesquita no Martim Moniz [zona também designada de Mouraria], porque neste momento existem três sítios de culto nessa área e isso cria algum tipo de dificuldade específica em termos de unificar a comunidade, os membros da religião muçulmana, especificamente”, afirmou o presidente da CIL, Mahomed Iqbal, no âmbito de uma audição na Assembleia Municipal de Lisboa (AML) esta sexta-feira.

A audição foi realizada a propósito da eventual construção de uma nova mesquita na Mouraria, assunto que está a ser apreciado pelas 3.ª e 6.ª comissões da AML, que fiscalizam as áreas de Urbanismo e Direitos Humanos e Sociais, respetivamente.

As comissões já ouviram outras entidades, nomeadamente o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), que reforçou o apoio ao projeto, anunciado há mais de 10 anos, e criticou a indecisão política.

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Para o presidente da CIL, a construção de uma mesquita na Mouraria servirá também para responder às dificuldades hoje existentes de capacidade dos locais de culto naquela área, assegurando “a paz quotidiana das pessoas que convivem naquela zona”.

“Não é absolutamente nada justo que um sítio limitado de culto, com capacidade para 300 pessoas, tenha de fazer com que haja congregação fora, à espera da sua vez de rezar, especialmente às sextas-feiras”, apontou Mahomed Iqbal, afirmando que quanto maior capacidade tiver a nova mesquita, menos perturbações haverá na cidade.

No entanto, ressalvou que a sexta-feira é o dia da semana mais importante para os muçulmanos e existe “uma enchente muito grande” em qualquer parte do mundo, contando que em Nova Iorque rezou na rua junto à mesquita.

Os deputados de PSD, IL, MPT e CDS-PP colocaram questões sobre o local previsto para a nova mesquita na Mouraria, na Rua do Benformoso, que motivou a expropriação dos prédios necessários à execução do projeto, sem acordo de todos os proprietários afetados.

Referindo que a disputa sobre a expropriação “ainda perdura”, a IL perguntou se “isso pode pôr em questão a construção de uma mesquita em solo pacificado”.

A resposta foi dada pelo vice-presidente da CIL Abdul Seco, que disse que a mesquita “não tem de ser necessariamente naquele local” e salientou que, segundo o Islão, “todo o templo ou todo o local onde se reza não pode ser construído onde haja alguém que tenha sido lesado”. De qualquer forma, acrescentou, a decisão não é da comunidade islâmica.

Sobre o alerta de possível guetização da zona da Mouraria, a CIL, que tem como sede a mesquita central de Lisboa, junto à Praça de Espanha, manifestou “uma preocupação muito forte” e está a “fazer o máximo possível para evitar” esse fenómeno, embora a concentração nessa área tenha que ver com o facto de a comunidade do Bangladesh se sentir “muito mais segura quando está entre os seus”.

Relativamente à proposta de financiamento público na construção da nova mesquita, com o MPT a manifestar-se contra porque o Estado português é laico e o PS a pedir imparcialidade lembrando o investimento na Jornada Mundial da Juventude, o presidente da CIL recusou pronunciar-se, já que a comunidade islâmica não conta com dinheiro público para funcionar, inclusive no mês do Ramadão pagou várias vezes o policiamento na mesquita central de Lisboa.

Em resposta a questões do Chega sobre o cumprimento da lei portuguesa em vez da Sharia, a lei islâmica, e sobre “um problema de radicalismo” na zona da Mouraria, Mahomed Iqbal assegurou que a comunidade islâmica “está totalmente sujeita à lei portuguesa, sem qualquer interesse, vontade ou insistência de tentar implementar uma lei que gera a religião muçulmana”.

Além disso, acrescentou, a comunidade islâmica considera-se parte integrante da comunidade portuguesa e vê a segurança como “primordial”, sendo a primeira a alertar as autoridades quando há desconfiança.

“Nós temos tanto medo como qualquer outra pessoa […]. Quando desconfiamos, fazemos tudo o que seja humanamente possível para que a paz seja estabelecida”, apontou o presidente da CIL.

Também o vice-presidente da CIL sublinhou: “Um terrorista pode ser eventualmente um muçulmano, mas um muçulmano não é de todo um terrorista”.

Em relação à falta de condições estruturais dos atuais locais de culto na Mouraria, sem capacidade para acolher todos os crentes, o que pode constituir um “perigo”, a CIL defendeu que essa é “uma preocupação comum”, adiantando que mesmo na mesquita central de Lisboa tem de ser construída uma saída de emergência na sala de culto.

Mahomed Iqbal disse ainda que houve “uma alteração profunda da composição de muçulmanos em Portugal”, que começou por ter origem na Guiné-Bissau e na África Ocidental, cresceu com pessoas vindas de Marrocos, Tunísia, Argélia e Egito e “aumentou tremendamente nos últimos cinco anos e recentemente com as pessoas oriundas do Bangladesh, Paquistão e Índia”.

“Tentamos fazer com as pessoas aprendam português o mais rápido possível”, para se integrarem no país, indicou, acrescentando que a comunidade islâmica representa “menos de 1% da população portuguesa, mesmo com a nova vaga de imigração”.

O presidente da CIL revelou também que “há muitas pessoas que querem se converter ao Islão”, ressalvando que não é porque a comunidade “procura deliberadamente” que isso aconteça, até porque “pergunta três vezes, se as pessoas têm a certeza absoluta”.