As autoridades espanholas usaram um software espião para acederem aos telemóveis dos suspeitos no esquema de corrupção, relacionado com a compra de máscaras, que envolve o ex-ministro da Transportes e do Fomento do PSOE, José Luis Ábalos e que está, há semanas, a abalar a esfera política espanhola, escreve o El País. Contudo, foi a pista do dinheiro que se revelou decisiva para as autoridades acusarem os suspeitos, entre os quais se encontra o ex-assessor de Ábalos, Koldo García, que desempenhou funções no governo do PSOE durante quatro anos — entre 2018 e 2021.

Ainda antes de abrir um inquérito a partir da denúncia feita pelo PP de Madrid, a Procuradoria Anticorrupção acedeu às contas bancárias de Koldo García e da mulher e verificou que, no primeiro ano da pandemia (2020), os pagamentos recebidos por Koldo García tinham duplicado, para mais de 75 mil euros. Em 2021, triplicaram, para os 95 mil euros. E, mesmo em 2022, mantiveram-se muito acima do normal, nos 88 mil euros.

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Os procuradores espanhóis concluíram que parte deste dinheiro (cerca de 140 mil euros) não tinha uma justificação. Ao mesmo tempo que via os rendimentos aumentarem, o ex-assessor do governo espanhol aumentava o património imobiliário. Em setembro de 2020, comprou uma casa em Benidorm, no sul do país. Em dezembro do mesmo ano, comprou uma outra casa na mesma cidade para a mulher, e, em março de 2022, uma outra para a filha. Os apartamentos, localizados em frente à zona de praia, custaram mais de 44o mil euros.

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O irmão, Joseba García, um dos 20 detidos no âmbito da operação Delorme, esteve também envolvido na compra destas propriedades e também triplicou os rendimentos durante os anos da pandemia de Covid-19.

A análise às contas bancárias e ao património foi decisiva para a investigação, que levou, em meados de fevereiro, à detenção de 20 pessoas, entre as quais o próprio Koldo García, o irmão e a mulher. O ex-assessor do então ministro do Fomento José Luis Ábalos está acusado de vários crimes, entre os quais organização criminosa, suborno, tráfico de influências e lavagem de dinheiro.

Koldo é suspeito de ter recebido 10 milhões de euros em luvas para intermediar a compra de máscaras (em regime de ajuste direto, isto é, sem concurso público) entre o Estado espanhol e as comunidades autónomas das Baleares e das Canárias e empresa Soluciones de Gestión, num valor global superior a 50 milhões de euros.

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Para os investigadores, era também importante consolidar a prova com a recolha de mais elementos. Com a autorização prévia do juiz Ismael Moreno, a Guardia Civil instalou dispositivos de localização em 15 veículos utilizados pelos suspeitos e escutas em locais onde os suspeitos se encontravam.

Para além disso, recorreram também a um software espião, o Pegasus, para aceder ao registo das comunicações de 10 telemóveis, entre os quais o de Koldo García mas também os de Juan Carlos Cueto (dono da Soluciones de Gestión, que terá pago avultadas comissões a García em troca da celebração dos contratos) e o de Víctor de Aldama (presidente do Zamora Club de Futbol, também implicado no esquema).