O aumento de crianças e jovens em perigo sinalizadas pelas comissões de proteção não significa que existam mais casos, mas que a comunidade está mais atenta a estas situações, disse nesta quarta-feira a presidente da comissão nacional.

A presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ), Rosário Farmhouse, considerou que o crescimento desse número é um dos reflexos do trabalho feito pelas estruturas que atuam nesta área, da sensibilização que tem sido feita e das ferramentas que facilitam a comunicação de casos.

Isto significa não necessariamente que tenhamos mais crianças em perigo, mas que há uma maior sensibilização, um maior conhecimento, uma maior vontade de todos participarem, de todos comunicarem aquilo que consideram que são situações de perigo e em que as crianças estão desprotegidas”, sublinhou hoje Rosário Farmhouse.

As declarações foram feitas à margem do encontro anual de avaliação da atividade das Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ), que começou nesta quarta-feira na Covilhã, e onde foi apresentado o relatório anual, que aponta para um aumento do número de casos reportados, 84 mil menores acompanhados e 47 mil novos casos em 2023.

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“Estes dados vêm confirmar que me parece que temos uma comunidade mais atenta, mais a combater a indiferença em relação ao que se passa com as crianças à volta”, salientou a presidente do organismo.

Rosário Farmhouse, que anunciou a sua saída da presidência da CNPDPCJ, cargo que ocupa há sete anos, afirmou existir nesta quarta-feira uma maior capacidade de comunicar o que se passa, até pelas próprias crianças, através de ferramentas que lhes permitem fazer a denúncia pelos próprios meios.

A responsável deu o exemplo da linha criada para crianças ou do formulário online “que permite que qualquer pessoa o possa fazer do local onde está”.

“Não sei se há maior violência no concreto, mas há uma maior atenção e uma maior sensibilidade. Esperemos que seja mesmo isso que amplie esses números, porque os esforços são muitos para esta prevenção”, acrescentou Rosário Farmhouse.

Depois das forças de segurança, o maior número de comunicações de perigo chega através das escolas e a responsável frisou existir essa articulação com as CPCJ, além de acentuar a formação que tem sido feita com docentes, não docentes e com a sociedade em geral.

“Genericamente, eu creio que os estabelecimentos de ensino estão muito atentos e estão cada vez mais próximos”, vincou a presidente da CNPDPCJ, embora admita que possam existir “situações pontuais de desconhecimento de professores ou de alguns diretores que possam não ter ainda percebido como é que o sistema funciona”.

De um modo geral, enfatizou, as escolas procuram formação para conhecerem os sinais e estarem atentas a situações de risco.

As Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) acompanharam quase 80 mil crianças em 2023, mais 6,7% do que em 2022, tendo recebido perto de 55 mil comunicações de perigo, a maioria por negligência e violência doméstica.