Chegou como o principal favorito. Sai como favorito a conquistar… as três Grandes Voltas. É certo que as expectativas são desmedidas e tudo pode acontecer até ao final da Vuelta, em setembro, mas estamos a falar de Tadej Pogacar. E com Tadej Pogacar tudo é possível. Antes do início desta edição da Volta a Itália, há três semanas, o esloveno da UAE Team Emirates entrava como o principal favorito a vestir a maglia rosa em Roma. A concorrência não estava ao nível de outros tempos e, apesar de a formação com sede na Ásia não ter uma super equipa, perspetivava-se que seria suficiente para o triunfo de Pogacar na estreia na corsa rosa.

E assim foi. Pode dizer-se que este Giro não teve grande história e que foi dominado do princípio ao fim por um protagonista. A ideia não está errada, mas na estrada não foi bem assim. Como não podia deixar de ser, a prova começou a todo o gás, com as duas primeiras etapas a serem dominadas pela montanha. No primeiro dia, Jhonatan Narváez, da Ineos, triunfou e vestiu a camisola rosa, que perdeu no dia seguinte… para Pogacar. Com a primeira vitória de sempre no Giro, o esloveno subiu ao topo da classificação geral e nunca mais largou o primeiro lugar.

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A partir daí, a UAE Emirates entrou em cena com vista a cumprir o primeiro grande objetivo da temporada: conquistar a Volta a Itália. Com uma equipa talhada para o seu líder, Mikkel Bjerg, Felix Grossschartner, Vegard Stake Laengen, Rafal Majka e Domen Novak revelaram-se fundamentais nas etapas de maior dureza, sem esquecer Rui Oliveira e Juan Molano, os primeiros a serem chamados ao serviço. Por tudo isto, não foi surpreendente ver Pogacar chegar ao fim da primeira semana com mais duas vitórias no bolso (etapas 7 e 8).

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A segunda semana foi bem mais tranquila para o ciclista de 25 anos, mais por “culpa” do terreno do que propriamente devido a outras circunstâncias que, nas últimas Grandes Voltas, afetaram o desempenho do canibal. Ainda assim, somou o quarto triunfo antes do último dia de descanso, com mais uma exibição de luxo nas montanhas transalpinas. E, dois dias depois, celebrou o penta, numa etapa que estava talhada para terminar com a vitória dos fugitivos, mas o instinto ganhador de Pogacar não permitiu.

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Um dos temas que mais fez correr tinta ao longo das últimas três semanas foi a possibilidade de Pogacar conquistar a três Grandes Voltas numa única temporada. A primeira já está. Segue-se o Tour, onde a concorrência é substancialmente diferente, mas não deverá estar em grande forma, dado que Primoz Roglic, Remco Evenepoel e Jonas Vingegaard caíram nos primeiros meses da época e estão em recuperação, com os dois primeiros a regressarem à competição no início de junho. Caso vença em França, sobra apenas a Vuelta.

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Presença na Vuelta? Acho que não. Tenho outros planos após o Tour. O grande objetivo da temporada é o Tour e o Campeonato do Mundo. Vamos com calma”, respondeu o esloveno aos jornalistas, referindo que o objetivo passa por triunfar em Zurique em setembro, já depois da Volta a Espanha. Resta esperar.

Na etapa deste sábado, a última de montanha e a derradeira para fazer diferenças na classificação geral, as alterações foram poucas. A grande mudança acabou por verificar-se… no equipamento de Pogacar. Ao contrário das tiradas anteriores, o esloveno apresentou-se com a bicicleta totalmente rosa e teve problemas ainda antes da partida real. Ainda assim, nada de grave, já que, no final, somou a sexta vitória, igualando Eddy Merckx, que amealhou o mesmo número de triunfos no Giro de 1973. Tudo aconteceu fruto de um ataque fulminante a 36 quilómetros do fim, que não foi seguido pelos rivais diretos.

Como escrevemos no início, este Giro não foi de um homem só, muito por conta da presença de Jhonatan Milan que, ainda assim, será ofuscada pelo brilharete de Pogacar. Aos 23 anos, o italiano perfila-se como o melhor sprinter do mundo e, a correr em casa, somou, até ao momento, três triunfos. O quarto pode aparecer no domingo, em Roma.

Ponto assente é que o corredor da Lidl-Trek dominou as chegadas mais rápidas deste Giro e, com isso, assegurou a conquista da maglia ciclamino, de líder dos pontos. À semelhança de Pogacar, Milan também dominou esta classificação, a qual lidera desde a quarta etapa. Num mundo onde não existisse um extraterrestre esloveno, Jonathan Milan estaria muito perto de deixar de ser um comum mortal.