Era a segunda final internacional da temporada, era também a final internacional com mais ligação direta a Portugal. Por um lado, e num cenário pouco habitual por estas andanças, era um encontro decisivo que tinha arbitragem de um juiz nacional, Artur Soares Dias, que no último fim de semana teve um gesto reconhecido de dar a camisola a um jogador do Lusitânia de Lourosa após o jogo frente ao Feirense depois de Henrique Martins ter mostrado o seu reconhecimento por ser dirigido pelo “melhor árbitro português”. Por outro, era uma partida discutida por uma equipa com sete jogadores nacionais (mais três com ligação ao nosso país) no seu país. Razões não faltavam para o Olympiacos preparar uma festa de arromba mas antes havia a Fiorentina pela frente. Uma Fiorentina que, em 2023, perdera a Liga Conferência diante do West Ham.

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Hoje a equipa de Florença não tem jogadores portugueses no plantel mas, de forma indireta, mantinha essa ligação. Como? Além dos anos em que Rui Costa se tornou o Príncipe da cidade numa dupla memorável com Gabriel Batistuta, o último título da formação viola, a Taça de Itália de 2001, tinha chegado com um golo de Nuno Gomes, avançado que se transferiu para a equipa depois de um fantástico Europeu de 2000 e ainda hoje é recordado como herói dessa conquista. Depois dessa era dourada, o clube bateu no fundo, faliu, teve de começar tudo de novo mas voltou a estabilizar na Serie A, faltando-lhe agora um troféu que assinalasse todo esse trajeto ascendente e que “vingasse” a derrota da última temporada frente aos hammers.

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“Estamos muito orgulhosos com esta presença na final, toda a gente ficou encantada. Jogámos esta prova europeia dois anos consecutivos e chegámos outras tantas vezes à decisão. É uma grande alegria e também o reflexo de três anos incríveis”, apontava Vincenzo Italiano, que queria fechar o ciclo no clube com o título que ainda lhe faltava depois de ter perdido também a final da Taça de Itália diante do Inter. “Este é o nível a que deve estar sempre a Fiorentina: alto. Temos de chegar às finais, às meias. andar sempre na metade de cima da Serie A. O clube tem de manter este caminho”, acrescentava entre elogios ao investimento que foi sendo feito pela Mediacom de Rocco Commisso, milionário norte-americano nascido em Calabria que queria também dedicar a Liga Conferência a Joe Barone, antigo CEO que morreu de forma súbita em março.

No entanto, o ambiente era tudo menos favorável em Pireu diante de um Olympiacos que surpreendeu nas meias-finais com duas vitórias frente ao teoricamente favorito Aston Villa (que fez uma campanha tão boa na Premier que garantiu lugar na fase de grupos da próxima Liga dos Campeões). A euforia era tanta que, após a qualificação para a final, a impiedosa imprensa grega recebeu o treinador espanhol Jose Luis Mendilibar com uma ovação de pé na chegada à conferência. Afinal, o técnico que no ano passado ganhou a Liga Europa pelo Sevilha diante da Roma de José Mourinho assegurou a primeira decisão europeia de sempre dos helénicos e logo a jogar “em casa”. De líder perito em fugas à despromoção tornou-se um mestre na Europa.

“Chegar aqui é um mérito mas se perderes não vais entrar na história”, alertava Mendilibar, falando para uma massa adepta habituada a estas andanças no basquetebol (embora tenha sido o Panathinaikos a sagrar-se campeão europeu esta temporada, batendo na final o Real Madrid) mas que iria viver agora a sua primeira experiência no futebol. E era neste contexto que David Carmo, Chiquinho, André Horta, João Carvalho, Daniel Podence, Rúben Vezo e Gelson Martins (estes não inscritos na prova), além dos conhecidos Jovane Cabral, Fran Navarro e Sotiris Alexandropoulos, chegavam à decisão. E foi nesse contexto que todos fizeram a festa, confirmando-se não só a estrelinha de José Luis Mendilibar mas também a veia goleadora de El Kaabi, internacional marroquino de 30 anos que fez de tudo um pouco na vida até chegar ao futebol para ajudar a família, incluindo trabalhar como aprendiz de carpinteiro, e teve agora a sua noite de glória.

Melhor início era complicado. Num ambiente frenético que tornava quase impossível ouvir o que quer que fosse na AEK Arena em Atenas a não ser adeptos, o Olympiacos criou a primeira oportunidade do encontro numa jogada iniciada por Chiquinho que teve remate em arco de Daniel Podence para uma grande defesa de Pietro Terracciano (4′) mas a Fiorentina respondeu logo de seguida, criando perigo após uma iniciativa pela direita de Nico González que acabou com uma tentativa ao lado de Belotti (5′) e vendo um golo anulado na sequência de um canto por fora de jogo de Milinkovic após cruzamento/remate de Biraghi (9′). O jogo estava bom, daqueles que os adeptos gostam mas que deixam os treinadores inquietos, mas faltavam os golos.

Oportunidades não faltariam até ao intervalo. Aproveitando um momento de superioridade no encontro, o conjunto transalpino voltou a ficar perto de inaugurar o marcador mas o remate de Bonaventura, a ganhar uma segunda bola à entrada da área, ficou nas mãos de Kostas Tzolakis (21′). Pouco depois, na sequência de um canto, Daniel Podence soltou-se bem da marcação individual para aparecer ao primeiro poste a desviar de cabeça para defesa de Terracciano em cima da linha (25′). E ainda houve uma rosca de Nico González na área, quando a defesa helénica tinha dado a bola como “morta” mas Kouamé manteve em campo (38′). O descanso chegaria sem golos mas com garantia quase anunciada de que parecia uma questão de tempo.

Não foi assim. Ao contrário do que tinha acontecido nos 45 minutos iniciais, a segunda parte teve muito menos espaço, emoção no último terço ou oportunidades, sendo que o quarto de hora final chegou com uma única ameaça com perigo num remate meio atabalhoado de Kouamé que Tzolakis conseguiu desviar com a mão para canto. Acabado de entrar em campo André Horta assistiu num livre lateral Iborra para um desvio de cabeça a rasar o poste (80′) mas o prolongamento estava à vista, já com alguns sinais de dificuldades físicas por parte de jogadores das duas equipas. Aí, Jovetic criou o primeiro lance para nova grande defesa de Terracciano (95′) mas seria necessário esperar até aos 116′ para El Kaabi surgir de forma oportuna na área após cruzamento de Hezze que saiu de uma nova boa zona de pressão de André Horta para fazer o 1-0. Se Podence e Chiquinho tinham estado em destaque, o antigo médio do Sp. Braga teve também uma entrada muito importante para segurar uma equipa em dificuldades físicas e “empurrar” os gregos para o triunfo.