Primeiro imperou o coração, depois sobressaiu a qualidade, agora tinha vingado a resiliência. Apesar de ter enfrentado um caminho particularmente complicado ao longo de todo o Campeonato da Europa Sub-17, logo a começar com um “grupo da morte” com Espanha, Inglaterra e Itália, Portugal foi conseguindo manter o seu ritmo quase camaleónico de jogo para jogo até voltar a uma final da prova quando tudo parecia estar perdido nas meias-finais. Aliás, puxando um pouco o filme atrás, o encontro estava “resolvido” para a Sérvia aos 50′: ganhava por 2-0, já tinha atirado duas vezes aos postes da baliza de Diogo Ferreira, conseguia estar a aproveitar todos os erros nacionais para “ferir” a Seleção. Depois, tudo mudou. Antes tinha-se visto coração, qualidade e resiliência nas partidas de Portugal mediante os contextos, naquela última meia hora houve um pouco de tudo e a reviravolta por 3-2 chegou mesmo nos descontos quase como se fosse inevitável.

Portugal perde final do Europeu Sub-17 com Itália e falha terceiro título na categoria na terceira final

Agora, seguia-se a Itália. Nas duas finais anteriores desde que o torneio passou a ser de Sub-17 com o atual formato, Portugal bateu a Espanha (em 2003 no tempo regulamentar, em 2016 nas grandes penalidades) e agora encontrava pela frente o único conjunto ainda sem derrotas na edição de 2024 depois de uma fase de grupos 100% vitoriosa e uma única igualdade nos oitavos com a Inglaterra. “São sempre uma equipa muito organizada, combativa, com valores individuais muito bons. Esperamos um jogo com qualidade, emoção e que seja uma festa do futebol numa final de Sub-17″, descrevera o selecionador João Santos.

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Mais uma reviravolta que já cá Mora: Portugal vence Sérvia com golo nos descontos e está na final do Europeu Sub-17

Apesar de todas essas valias, Portugal tentava focar-se em si próprio. Se antes do jogo com a Sérvia existia algum receio com a capacidade física, a reviravolta deixou bem patente que o coração e a cabeça conseguem várias vezes resolver aquilo que as pernas não respondem tão bem como desejável. “Temo-nos pautado por apresentarmos um futebol positivo, gostamos de marcar golos e é isso que esperamos. Somos uma equipa que cria muitas oportunidades, num ou noutro momento não fomos tão eficazes, mas ao longo desta época temos um registo enorme de golos marcados e é nesse caminho que queremos continuar a seguir, independentemente contra quem seja. Chegamos à final com imenso orgulho, com a consciência tranquila de que fizemos tudo até aqui bem feito e que queremos continuar a fazê-lo até ao fim”, acrescentara.

Estava dado o mote para a geração de Rodrigo Mora, Geovany Quenda, Diogo Ferreira e companhia poder dar seguimento a outras vagas que conquistaram o troféu, entre aquela que tinha Miguel Veloso, Moutinho, Saleiro, Paulo Machado e o herói da final Márcio Sousa em 2003 e aquela onde constavam Diogo Costa, Diogo Dalot, Diogo Leite, Rafael Leão, Florentino Luís ou Gedson Fernandes em 2016. No entanto, aquilo que tinha acontecido com a Espanha e a Sérvia repetiu-se contra outro desfecho: o início foi mau, o que se seguiu agora não melhorou em nada. Esses 20 minutos iniciais deitaram por terra o sonho do título europeu e se não houve duas sem três em relação a maus arranques, também não houve dois sem três troféus.

Grande destaque da final? Francesco Camarda. O jovem avançado de 16 anos, que fez a estreia pelos seniores do AC Milan na presente temporada depois de uma autorização especial dada pela Federação, mostrou que é um dos grandes nomes da nova vaga de talentos transalpinos onde se destacam ainda figuras como Liberali ou Mosconi, foi o terceiro mais novo de sempre a marcar numa final e tornou-se apenas o sexto jogador a bisar numa decisão da categoria. Não foi acaso que, ainda durante o encontro em Limassol, o conhecido Fabrizio Romano escrevia que o número 9 da squadra azzurra vai assinar um novo contrato com o AC Milan até ao final da semana após receber vários convites por ser o mais novo a estrear-se na Serie A.

A entrada dificilmente poderia ser pior. Aliás, ainda podia ter sido pior se a Itália tivesse outra eficácia, o que podia desde logo arrumar de vez a questão. Mosconi deixou o primeiro aviso com um trabalho à entrada da área com remate ao lado (1′), Camarda também criou perigo num lance em que Liberali passou por tudo e todos sem qualquer gesto de oposição mais sério (3′), Coletta inaugurou mesmo o marcador na sequência de um desvio de cabeça ao segundo poste após cruzamento de Cama (7′) e Camarda, antes rematara para defesa de Diogo Ferreira (13′), foi lançado na profundidade descaído sobre a direita nas costas do lateral para ter um arranque forte, fletir para o meio sem oposição e rematar cruzado para o 2-0 (16′). Os transalpinos estavam com a corda toda mas a passividade dos jogadores nacionais deitava tudo a perder no setor recuado.

Portugal precisava serenar e aos poucos isso foi acontecendo. Questão? A Itália apresentava uma abordagem bem mais “adulta” do que a Sérvia. A Seleção não deixou de ter oportunidades para reduzir ainda na primeira parte, entre um remate de Geovany Quenda defendido por Pessina para a frente com a recarga de Eduardo Fernandes a ir de forma caprichosa na sua direção (19′), uma iniciativa individual de Quenda que terminou com um tiro de ângulo apertado para defesa do guarda-redes transalpino (22′), uma tentativa de Eduardo Fernandes para nova defesa de Pessina (29′) e dois momentos de Rodrigo Mora que saíram desenquadrados com a baliza (42′ e 45+2′), mas o intervalo chegaria com o 2-0 tal como acontecera com a Sérvia.

Sem mexer em jogadores, João Santos tentou corrigir posicionamentos perante um losango transalpino que ia dificultando a tentativa de reação do conjunto nacional, colocando Quenda na esquerda e Eduardo na direita. As linhas subiam, a Itália aproveitava: Liberali lançou Mosconi na profundidade, a assistência em Camarda entrou e o avançado bisou com um toque de classe perante a saída de Diogo Ferreira (50′). Essa foi a grande diferença em relação às meias-finais e o golpe que praticamente sentenciou o resto da final, sendo que a pouca gasolina que a Seleção tinha ainda no tanque foi-se perdendo de forma inevitável apesar de uma ou outra iniciativa de Rodrigo Mora entre muitas substituições que não mudaram o rumo da partida.