As sondagens já estavam a antecipar uma hecatombe para os conservadores britânicos, mas Rishi Sunak precisa agora de lidar com mais uma crise. A campanha no Reino Unido foi abalada pelas suspeitas de que alguns membros do próprio partido Conservador terão tentado ganhar dinheiro com a crise política, fazendo apostas sobre quando é que seria a data final da eleição antecipada (que acabou por ser marcada para o dia 4 de julho).
A imprensa britânica tem revelado vários casos, sendo o mais recente de uma pessoa próxima do primeiro-ministro e no centro da campanha dos tories. Trata-se do próprio diretor diretor de campanha, Tony Lee, que está a ser investigado por uma alegada aposta sobre a data das eleições. O partido confirmou esta quinta-feira que Lee meteu uma baixa por duas semanas, ficando afastado da campanha que está a dirigir mesmo à beira da ida às urnas.
Outro alvo das investigações é a mulher de Lee, Laura Sanders, que é também candidata a deputada pelos conservadores, avançou a BBC. A estes nomes soma-se o de Craig Williams, também candidato a deputado e conselheiro do primeiro-ministro a nível parlamentar. Williams terá apostado 100 libras (118 euros) na data das eleições dias antes de Sunak ter vindo a público anunciar a data final, e já reconheceu entretanto que cometeu um “enorme erro de avaliação”, admitindo estar “alvoroçado” com a eleição. Também um polícia do corpo de segurança pessoal de Sunak estará sob investigação.
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A imprensa britânica cita uma declaração da assessoria do partido Conservador, que admite ter sido contactado pela Comissão de Apostas por causa de um “número pequeno de indivíduos”, sem fazer mais comentários, dado o caráter “independente” desse organismo que está agora a investigar as acusações.
Já a oposição tem aproveitado o tema que, surpreendentemente, invadiu a campanha para pressionar Sunak. “Se fosse um dos meus candidatos, seria mandado embora antes de que os seus pés tocassem no chão”, disparou o líder dos trabalhistas, Keir Starmer, citado pelo Politico.
Já o diretor de campanha dos trabalhistas, Pat McFadden, enviou uma carta a Sunak defendendo que o escândalo pode ser ainda mais vasto: “Se alguns dos maiores responsáveis sentiram que tinham carta branca para usar erradamente a informação que tinham sobre a eleição para obterem lucro, temos de perguntar quantos mais tiveram acesso antecipado a essa informação, e fizeram apostas em nome próprio ou através de familiares e amigos”.
O cenário já não era simpático para os conservadores antes de este escândalo ter rebentado. Esta quinta-feira, o Telegraph divulgava uma sondagem que previa um resultado tão fraco para os tories — perderiam 312 deputados e passariam a contar com apenas 53 lugares no Parlamento — que o assento do próprio Sunak estaria em risco.
Já o Labour, afastado há 14 anos do poder, tem recebido boas notícias, no que toca aos estudos de opinião. Neste caso, previa-se que passasse a ter 516 deputados — mais 314 do que tem atualmente — formando a “super-maioria” que se tem temido, entre os conservadores, que consiga formar graças à aparente insatisfação do eleitorado com o atual governo.
“Incrivelmente zangado”, Sunak fala em “assunto muito sério”
Em reação, o primeiro-ministro britânico prometeu expulsar os membros do partido envolvidos no escândalo caso se comprove que foram cometidas irregularidades. Questionado num programa da estação pública BBC, Sunak revelou ter ficado “incrivelmente zangado, incrivelmente zangado ao saber destas alegações”.
“É um assunto muito sério. É correto que estejam a ser devidamente investigadas pelas autoridades competentes, incluindo uma investigação criminal por parte da polícia”, respondeu.
Pressionado sobre se vai suspender os dois candidatos às eleições em causa, Sunak vincou que “estas investigações estão a decorrer” e que “a integridade desse processo deve ser respeitada”. “Mas o que posso dizer é que, se se descobrir que alguém violou as regras, não só deverá enfrentar todas as consequências da lei, como farei com que seja expulso do Partido Conservador”, concluiu.
*Notícia atualizada às 23h35 com as declarações do primeiro-ministro britânico