A homenagem será efetuada em parceria com o Instituto do Mundo Árabe, disse o dramaturgo e encenador Tiago Rodrigues, durante a reunião pública efetuada esta terça-feira no Café des Idées, em Avignon, onde foram debatidos alguns dos destaques da edição em curso, que teve início no passado dia 29 de junho e encerra no próximo domingo.

A coreógrafa cabo-verdiana Marlene Monteiro Freitas, Leão de Prata de carreira da Bienal de Dança de Veneza, em 2018, será a artista cúmplice da próxima edição do festival de teatro, e abrirá o palco principal do certame – a Corte de Honra do Palácio dos Papas -, em julho de 2025, com a estreia mundial de uma nova obra, como Tiago Rodrigues especifica na sua conta oficial no Facebook.

Outro nome anunciado para a edição de 2025 foi o do encenador suíço Milo Rau, que levará a Avignon um espetáculo itinerante, a percorrer toda a região, no âmbito do projeto Sala Comum (Volksstück, comunal, do povo), em parceria com o Festival de Viena (Wiener Festwochen).

Em 2025, o encenador Gwenaël Morin, do Théâtre Permanent de Lyon, irá continuar o seu projeto “Desmantelar as muralhas para terminar a ponte”, em ligação com o território, pelo que irá apresentar uma nova peça relacionada com a língua convidada, depois das apresentações de “Le Songe”, em 2023, e “Quixote”, nesta edição.

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No início da edição deste ano, a poucos dias da primeira volta das eleições francesas, na conferência de abertura, Tiago Rodrigues apelou ao voto contra a extrema-direita em França. Em entrevista à agência Lusa, na altura, lembrou os valores do certame, “um festival republicano, democrático, progressista, ecologista, feminista e antirracista”.

Para o encenador e dramaturgo português, a extrema-direita e a União Nacional de Marine Le Pen seriam “uma ameaça não apenas para a diversidade de visões do mundo que dá forma ao festival e para a liberdade de expressão que é o coração do evento”, mas também “uma ameaça à democracia francesa”.

No seu apelo público ao voto contra a extrema-direita, Tiago Rodrigues afirmara: “Sou filho de um jornalista exilado em França nos anos 60 para escapar à perseguição da ditadura fascista em Portugal. Além do dever para com Jean Vilar [fundador do Festival] e todas as equipas do Festival de Avignon, devo ao meu pai – e à França que o acolheu – esta responsabilidade de apelar a travar a extrema-direita.”

Em vésperas da segunda volta das eleições que deram vitória à Frente Popular e deixaram o partido de Marine Le Pen em terceiro lugar, Tiago Rodrigues organizou uma programação especial “contra a extrema-direita”, a que deu o nome de “La nuit d’Avignon”. À iniciativa juntaram-se a Cidade de Avignon, sindicatos de trabalhadores de espetáculos e os artistas do festival.

O coreógrafo Boris Charmatz, artista convidado, abriu essa noite com cerca de cem bailarinos a reinterpretarem “Revolutionary”, uma coreografia de 1922 de Isadora Duncan, de inspiração histórica e social, e o ‘rapper’ francês Joey Starr declamou um poema de Léon-Gontran Damas, escritor nascido na Guiana Francesa, um dos autores anti-coloniais do movimento Negritude do senegalês Léopold Sengor.

O diretor artístico do festival, que acabara de estrear a sua nova peça, “Hecuba, não Hecuba”, com a Comédie-Française, que chegará a Portugal em janeiro, subiu a palco e apresentou-se: “O meu nome é Tiago Rodrigues e trabalho para o Festival d’Avignon. Esta é uma noite de união democrática, de força e esperança”.

A 78.ª edição do Festival de Avignon termina no próximo domingo.