A associação ambientalista Zero criticou esta quarta-feira investimentos na expansão do abastecimento do gás fóssil, alertando que colocam em risco o cumprimento das ambições climáticas do país e as metas com as quais Portugal se comprometeu.

Um dia após o fim da consulta pública, promovida pela Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos (ERSE), sobre o Plano de Desenvolvimento e Investimento nas Redes de Distribuição de Gás (PDIRG-D) para o período 2025-2029, a Zero diz, em comunicado, que expandir a rede de gás fóssil entra em contradição com a tendência de eletrificação e “mina os objetivos climáticos do país”.

A associação considera também inadmissível que se invistam 400 milhões de euros na rede de gás fóssil — o plano prevê investimentos de cerca de 395 milhões de euros no reforço e expansão do abastecimento —, quando “o país não está a conseguir reduzir ao ritmo necessário” as emissões de gases com efeito de estufa “para cumprir os objetivos climáticos nacionais e com que se comprometeu internacionalmente”.

Além de haver o risco de os investimentos se tornarem irrecuperáveis, a Zero aponta ainda para a necessidade premente de se diminuir a dependência energética do exterior e não de se investir num gás poluente, e apelida o plano de anacrónico, ao prever que em 2040 o consumo de gás seja praticamente o mesmo do de atualmente.

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Onde está a descarbonização?“, questiona a Zero.

Lembrando a diretiva europeia sobre a eliminação progressiva das caldeiras a combustíveis fósseis, a associação escreve assim no comunicado: “É absurdo investir em redes de gás para alimentar equipamentos domésticos que vão deixar de ser utilizados a prazo e cuja substituição deveria ser promovida de forma muito mais ativa por parte das autoridades nacionais junto dos consumidores domésticos e indústrias”.

No documento a Zero concorda com investimentos na rede de transporte e distribuição de gás, mas de manutenção e para acomodar biometano em casos que se justifique, devendo este ser usado “nos processos industriais sem outra alternativa” e nas habitações onde não seja possível a eletrificação.

E diz opor-se ao uso de hidrogénio verde na rede de gás, porque a redução de emissões de gases com efeito de estufa é muito pequena e porque o uso de hidrogénio para aquecimento “é um processo ineficiente”, devendo este gás ser usado especialmente na descarbonização da indústria, da aviação e do transporte marítimo.

Portugal, resume a associação ambientalista no comunicado, “não deve promover a expansão da rede de gás fóssil, mas sim encarar a eficiência energética como um dos pilares essenciais do processo para promover a descarbonização“, passando esta pela eletrificação e produção de eletricidade a partir de energias renováveis.