Sydney McLaughlin-Levrone bateu o recorde mundial dos 400 metros barreiras pela primeira vez em junho de 2021. Pulverizou a própria marca no agosto seguinte, quando conquistou a medalha de ouro em Tóquio. E ainda não parou de o fazer: voltou a bater o recorde em junho de 2022, em julho de 2022, em junho de 2024 e também esta quinta-feira e pela sexta vez, no dia em que voltou a ser de ouro nos Jogos Olímpicos de Paris.

A atleta norte-americana sagrou-se bicampeã olímpica dos 400 metros barreiras, à frente da compatriota Anna Cockrell e da neerlandesa Femke Bol, e estabeleceu a nova marca em 50.37, 28 centésimos abaixo do que tinha registado nos Mundiais de há dois meses, onde também foi medalha de ouro. Tida como a grande coqueluche do atletismo norte-americano há praticamente uma década, Sydney McLaughlin-Levrone já é um dos nomes maiores da geração pós-Allyson Felix, a mulher mais medalhada de sempre do atletismo olímpico.

E foi precisamente Allyson Felix, que entre 2004 e 2016 conquistou nove medalhas olímpicas entre seis ouros e três pratas, que ainda em fevereiro de 2021 teceu o maior dos elogios a Sydney McLaughlin-Levrone. Na altura, a atleta integrou a lista dos Time100 Next, o grupo de 100 personalidades de várias áreas que a revista Time apresenta anualmente como as pessoas que vão marcar o mundo nos próximos anos. Tal como sempre, tal como todos, a publicação norte-americana pediu a uma figura do desporto, a área de Sydney McLaughlin-Levrone, para escrever sobre a atleta. E a eleita foi, precisamente, Allyson Felix.

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“A Sydney tem uma confiança tímida que exige a nossa atenção. Está a criar o seu próprio caminho, mas entende que caminhamos nos ombros daqueles que vieram antes de nós. Treino ao lado dela todos os dias e aquilo em que reparo mais é no seu tremendo potencial — e não só enquanto atleta olímpica. Ela tem o potencial para ser a melhor de todos os tempos nos 400 metros barreiras, sim, mas, mais importante do que isso, tem o potencial de impactar vidas. Essa é a sua maior força. Sei que a marca que ela vai deixar neste mundo será muito maior do que apenas recordes e medalhas”, escreveu Felix, cujo treinador foi durante muito tempo o mesmo da atleta de 25 anos.

Num ano foi voluntária, ficou noiva, casou e bateu quatro vezes o recorde do mundo. Sydney é a nova coqueluche dos EUA. Tem 22 anos

A vitória desta quinta-feira é então a segunda grande conquista da atleta natural de New Brunswick, New Jersey, nos Jogos Olímpicos. Em 2016 e com apenas 16 anos, McLaughlin-Levrone tornou-se a atleta mais nova desde 1972 a integrar a equipa olímpica de atletismo dos Estados Unidos. Na altura, no Rio de Janeiro, não conseguiu apurar-se para a final e não foi além de um 16.º lugar na classificação geral. Cinco anos depois, chegou a Tóquio já enquanto recordista mundial, como uma das maiores promessas do atletismo feminino norte-americano e depois de um crescimento cimentado e comprovado.

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Em 2017, tornou-se a primeira a ser eleita a melhor atleta do ensino secundário dos Estados Unidos em dois anos consecutivos. Após uma única temporada na University of Kentucky, decidiu abandonar o desporto universitário e tornar-se profissional ao assinar um muito valioso contrato de publicidade com a marca desportiva New Balance. Estabeleceu o registo mundial que agora voltou a quebrar em junho desse ano, nos trials olímpicos norte-americanos, tornando-se a primeira mulher a percorrer os 400 metros barreiras em menos de 52 segundos. Logo depois, assinou outro contrato publicitário, com a TAG-Heuer, e deu mais um passo rumo ao estatuto de velocista feminina norte-americana mais reconhecida e mediática do mundo.

Filha de dois atletas, já que o pai Willie e a mãe Mary eram ambos velocistas, Sydney é ainda a irmã mais nova de Taylor McLaughlin, que em 2016 foi medalha de prata nos 400 metros barreiras dos Mundiais Sub-20. Mais do que uma atleta de sucesso, a norte-americana tem-se tornado uma voz ativa contra o bullying e de sensibilização face à importância da saúde mental, revelando o assédio online de que foi vítima durante o ensino secundário e a depressão que sofreu logo depois dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Depois de impressionar o mundo inteiro em Tóquio, onde também fez parte da equipa dos Estados Unidos que venceu a estafeta 4×400 barreiras, casou — acrescentando o Levrone ao apelido, já que em 2021 ainda era apenas McLaughlin –, deu nome à pista de atletismo na cidade onde nasceu e publicou um livro. Entretanto, voltou aos Jogos Olímpicos para prolongar uma história que não tem fim à vista.