Bores, o lince do deserto que vivia como um animal doméstico numa família na Madeira, morreu esta quarta-feira, cerca de um mês depois de ter sido apreendido pela GNR. A informação foi avançada pela Associação Ajuda Alimentar a Cães nas redes sociais.

No mesmo dia, a associação já tinha partilhado que o animal estava “entre a vida e a morte” e que desde o dia que “foi sedado para regressar a casa através de um dardo tranquilizante, não recuperou”.

“Chegou sedado a casa e durante mais de um dia não acordou e foi levado para uma clínica veterinária de urgência. Desde esse dia foram várias as tentativas do regresso a casa mas o estado de saúde só tem vindo a piorar. Desde que foi sedado perdeu a capacidade de andar e de comer”, lê-se na publicação que acrescentava que “hoje [ndr: esta quarta-feira] deixou de reagir a qualquer estímulo”. O animal acabou por morrer durante a tarde.

Bores foi apreendido a 3 de julho pela GNR na Madeira na sequência de uma denúncia ao Ministério Público. O animal de seis anos tinha vivido toda a sua vida como animal de companhia “dentro de uma quinta em liberdade e completamente segura”, a conviver com outros animais e humanos. “Foi adquirido em bebé, antes da consciência sobre o bem estar animal. Foi um erro cometido de forma inconsciente, sem má índole e sem qualquer tentativa de exploração há seis anos atrás”. Quando foi retirado à família, a Associação Ajuda Alimentar a Cães partilhou a história e avançou que o lince se encontrava agora “numa jaula pequena, fechada, completamente triste, stressado e depressivo” no Aquaparque.

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Depois da partilha, foi criada a petição pública “Regresso do Bores ao seu lar”, que angariou mais de 21 mil assinaturas. O animal acabou por regressar a casa no dia 1 de agosto. No entanto, ainda no decorrer da sua transferência, o seu estado clínico “começou a deteriorar-se rapidamente”, tendo sido diretamente encaminhado para uma clínica veterinária. “A família, juntamente com a sua advogada, já estão a apurar responsabilidades”, lê-se na publicação de quarta-feira.

“A lei infelizmente desconhece sentimentos e desde o primeiro dia as entidades responsáveis por este caso não fizeram um bom trabalho. O Bores jamais deveria ter saído do local onde sempre viveu, até porque foi levado para um local inadequado“, acrescentou a Associação Ajuda Alimentar a Cães.

Em comunicado, publicado a 31 de julho, o Instituto das Florestas e Conservação da Natureza justificou o resgate e apreensão do animal dizendo que a família não apresentou “qualquer documento relativo ao animal ou ao seu licenciamento”. Explicou, também, que recebeu dos representantes forenses da dona do lince um relatório médico veterinário a atestar que, “para o bem-estar e segurança do animal, os proprietários “deveriam ficar como fiéis depositários deste”. O lince voltaria à guarda dos proprietários “até à conclusão do processo contraordenacional e respetiva decisão final.”

Sendo o lince do deserto uma espécie selvagem protegida, a dona, uma mulher de 38 anos que deteve o animal ilegalmente, foi identificada e alvo de um auto de contraordenação. A mesma afirmava que o Bores era um “autêntico gato” e que não aguentaria muito tempo longe do ambiente ao qual “estava habituado e sem a sua família”.