Apesar de já ter fechado a porta à viabilização de um Orçamento do Estado da AD, o porta voz do Livre, Rui Tavares acredita que vai conseguir implementar medidas — devido às coligações entre a oposição — e desafia a AD a dar seguimento a propostas aprovadas no passado, num elogio irónico a Luís Montenegro que diz ter sabido “com inteligência tática, aproveitar fruta madura do PS” que não foi implementada.

É no setor da saúde que Rui Tavares deixa a bicada a Luís Montenegro. No Direto ao Assunto da Rádio Observador, o líder do Livre critica o PS por não ter dado seguimento ao programa Regressar destinado especificamente aos profissionais de saúde e pede ao Governo que o faça no futuro. Esta é apenas uma das medidas que o Livre quer apresentar ou reforçar na fase de discussão orçamental, embora não tenha grandes expectativas sobre conversas com a AD, até porque coloca a fasquia alta.

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Rui Tavares: “OE deve ficar muito diferente da versão inicial”

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“Se o Governo quer falar a sério tem que falar de medidas que não estejam só nos milhões ou dezenas de milhões mas em milhares de milhões”, diz Rui Tavares, que acrescenta que “para início de conversa teria que ser assim”, mas recorda a primeira reunião entre o Governo e os partidos para dar conta de que “o arranque do diálogo não deu a indicação de que o Governo esteja disponível para essa negociação”.

Rui Tavares considera que “o Orçamento do Estado já está em grande medida comprometido” com medidas como o IRS Jovem ou a descida do IRC que colocam a despesa nos 3 mil milhões de euros. Ora, para o Livre existe “uma ideia muito diferente de onde deviam ser utilizados esses fundos: aumentar o abono de família ou introduzindo a herança social”.

Num paralelismo com a negociação que conduziu com o PS em orçamentos anteriores — em que o Livre era acusado de introduzir medidas simbólicas sem impacto orçamental –, Rui Tavares esclarece que “o Governo anterior era de maioria absoluta e não precisava de negociar” e que por isso o partido “aproveitou esse espaço para mostrar o que era capaz de fazer” e frisa que “mesmo as coisas que não eram de grande impacto orçamental eram importantes para a vida das pessoas”, dando como exemplo o passe nacional ferroviário ou o teste piloto da semana dos quatro dias.

Apesar da baixa expectativa nas conversas com o Governo, Rui Tavares acredita na presença de medidas do Livre, tendo em conta que “a proposta de Orçamento vai, provavelmente, ser muito diferente da que vai sair da Assembleia da República”, apostando na “grande fragmentação do Parlamento” para que “muitas das medidas possam ser aprovadas na especialidade e ser incluídas na versão final. É muito possível que o Livre venha a aprovar várias propostas”, vaticina.

Passe ferroviário: “Vimos que a medida tinha chamado a atenção do primeiro-ministro”

Depois do anúncio de Luís Montenegro na Festa do Pontal sobre a redução do passe ferroviário para 20 euros e abrangendo mais serviços da CP, Rui Tavares confessa que “numa questão num debate quinzenal ficamos com a ideia de que a proposta não ia ser implementada no prazo mas que a medida tinha chamado a atenção do primeiro-ministro” e garante não estranhar a mudança de posição do Governo.

Apesar de satisfeito pelo passo em frente, o porta voz do Livre salvaguarda que “é muito importante que a CP não fique descapitalizada para acompanhar esta medida” e que isso seria “mau a médio-longo prazo”. Rui Tavares não teme que o Governo fique com os créditos da proposta, até porque garante: “De onde veio esta ideia há mais. Daqui a uns meses o Livre insistirá noutras ideias do mesmo domínio como a transição do passe ferroviário para um passe de mobilidade nacional que sirva outros transportes”, adianta.