O número anual de mortes por calor no continente europeu poderá triplicar até ao final deste século como consequência de um aquecimento global de 3ºC, de acordo com um estudo realizado por investigadores europeus e publicado esta quarta-feira na revista Lancet Public Health. Mesmo um cenário otimista aponta para um aumento do número de pessoas que morrem todos os anos vítimas do calor.

O estudo procurou perceber o que aconteceria ao número médio anual de mortes provocadas pelo frio e pelo calor em diferentes cenários de aquecimento global, do mais otimista ao mais pessimista — e a conclusão é a de que a redução do número de mortes provocadas pelo frio ficaria longe de compensar, em termos numéricos, o aumento significativo do número de mortes provocadas pelo calor.

“À medida que o clima aquece e que as populações envelhecem, espera-se que ocorram muito mais mortes relacionadas com o calor, enquanto as mortes pelo frio vão diminuir apenas ligeiramente”, sintetiza o investigador David García-León, do Joint Research Centre da Comissão Europeia, que foi um dos autores do estudo, em declarações citadas pelo The Guardian.

Atualmente morrem muito mais pessoas na Europa vítimas do frio do que do calor — e havia até a expectativa de que o aquecimento global conduzisse, efetivamente, a uma redução do número de pessoas que morrem anualmente vítimas das temperaturas extremas.

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Num cenário em que o planeta chega ao final deste século (ou seja, a 2100) com uma temperatura média 3ºC acima dos níveis pré-industriais, o número anual de mortes relacionadas com o calor em toda a Europa deverá subir de 43 729 para 128 809 — praticamente triplicando. Já o número de mortes associadas ao frio diminuiria de 363 809 para 333 703, uma queda muito menos significativa.

Ou seja, até ao final do século, o mais provável é que o número total de pessoas que morrem todos os anos na Europa vítimas das temperaturas extremas aumente em cerca de 55 mil (uma subida de 13,5%), por causa do calor, apesar da redução do número de pessoas que morrem de frio. As políticas climáticas atualmente em vigor encaminham o planeta para um aquecimento global próximo dos 3ºC até ao final do século. A maioria das pessoas afetadas são idosos acima dos 85 anos.

No cenário mais otimista — o improvável cenário em que o planeta é capaz de limitar o aquecimento global a 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais —, o número anual de mortes provocadas pelo calor subiria para 58 057. Num cenário de 2ºC (que tem sido frequentemente considerado como o cenário positivo mais realista), este número subiria para 76 277. Já no cenário mais catastrófico — associado a uma subida de 4ºC —, o número anual de mortes ligadas ao calor subiria para 207 452, mais do que quadruplicando.

O estudo aponta países como Itália, Grécia e Espanha como aqueles onde o número de mortes associadas ao calor subiria de forma mais acentuada. Em Espanha, o número anual de pessoas que morrem vítimas das altas temperaturas mais do que duplicaria num cenário de 2ºC, quadruplicaria num cenário de 3ºC e aumentaria oito vezes num cenário de 4ºC.

Em Portugal, morrem atualmente cerca de 1008 pessoas todos os anos vítimas das altas temperaturas (um número que representa a média entre 1991 e 2020). Num cenário de aquecimento global de 1,5ºC, no final do século este número subiria para 1038; num cenário de 2ºC, para 1362; num cenário de 3ºC, para 2284; e num cenário de 4ºC, para 3448, mais do que triplicando.

O estudo foi feito através da análise de dados de 1368 regiões em 30 países europeus.