O FOLIO — Festival Literário Internacional de Óbidos está de volta e, à semelhança da primeira edição, não se fará apenas de livros. Para além da presença de autores consagrados, como o Prémio Nobel da Literatura V.S. Naipaul e o islandês Jón Kalman Stefánsson, a edição deste ano do FOLIO, que pretende assinalar os 500 anos da publicação da Utopia, de Thomas More, irá ter muita música, exposições e até teatro. Precisa de mais razões para ir?
Este ano, a festa irá começar mais cedo. Apesar de o festival literário só começar oficialmente a 22 de setembro (e terminar a 2 de outubro), a organização promete que, até lá, não irá faltar animação. Numa conferência de imprensa realizada esta terça-feira na livraria Ler Devagar, em Lisboa, Humberto Marques, presidente da Câmara Municipal de Óbidos, anunciou que, até ao início do FOLIO, haverá uma “programação sistemática, quase semanal, com concertos, exposições” e muito, muito mais.
Além da abertura de duas novas livrarias, no Óbidos Lounge e na Casa Américo (ou dos Bons Malandros), Humberto Marques destacou como “ponto alto” da programação pré-festival a presença do historiador Roger Crowley, “autor best seller do New York Times“. Crowley viajará para Portugal para apresentar o seu mais recente livro, Os Conquistadores, sobre a formação do império português. Este será apresentado primeiro em Lisboa e, mais tarde, em Óbidos, classificada como “vila literária” pela UNESCO, em 2015.
V.S. Naipaul, Jón Kalman Stefánsson e muitos outros autores
À semelhança do ano passado, o FOLIO irá receber cerca de 50 autores portugueses e estrangeiros, que se irão juntar à volta de várias Mesas e conversar sobre literatura, utopia (a de Thomas More e não só), mas também sobre “temas atuais”. O objetivo é “levar aos leitores portugueses aquilo que de mais interessante se está a produzir no mundo”, garantiu José Eduardo Agualusa, curador do Folio Autores.
“O ano passado foi muito virado para a lusofonia, principalmente para o Brasil, mas este ano vamos ter mais autores estrangeiros”, referiu Agualusa, acrescentando que o festival contará com a presença de autores bem conhecidos do público e de outros menos conhecidos.
Entre os autores já confirmados, Agualusa destacou o Prémio Nobel da Literatura Vidiadhar Surajprasad Naipaul. Nascido em 1932 em Trinidad e Tobago, Naipaul mudou-se para Inglaterra com 18 anos, onde trabalhou como jornalista para BBC. Doutor honoris causa pelas universidades de Cambridge, Londres, Oxford e Columbia, foi armado Cavaleiro pela Rainha Isabel II em 1990. Venceu o Prémio Nobel da Literatura em 2001.
Durante a conferência de imprensa, o curador do FOLIO Autores chamou ainda a atenção para a presença de Jón Kalman Stefánsson, um dos nomes mais importantes da literatura europeia contemporânea. Nascido em 1963 em Reiquiavique, na Islândia, Stefánsson foi distinguido com inúmeros galardões, nomeadamente o prémio de literatura islandesa em 2011. A sua Paraíso e Inferno, publicada em 2007, foi considerada pela crítica como o melhor romance islandês dos últimos anos.
Entre os autores já confirmados, contam-se ainda os portugueses Miguel Sousa Tavares, Afonso Cruz e Rui Cardoso Martins. No FOLIO deste ano, estarão ainda presentes Juan Pablo Villalobos, um dos grandes autores da literatura mexicana, e a luso-angolana Djaimilia Pereira de Almeida. “Não vamos repetir autores. Esperamos não ter de o fazer nos próximos cinco anos”, disse ainda Agualusa.
A FOLIA para além dos livros
Porque o FOLIO não se faz apenas de livros, este ano as artes plásticas “ganharam outro fôlego”, admitiu Anabela Mota Ribeiro, curadora da FOLIA, um festival dentro do festival. Da programação, que inclui música, teatro, cinema, muitas exposições, aulas e sessões de “conversa fiada”, a curadora salientou a parceria com o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), que vai permitir levar à vila de Óbidos uma reprodução em tamanho real de “As Tentações de Santo Antão”, de Hieronymus Bosch. A iniciativa pretende assinalar os 500 anos da morte do pintor, cujas obras são uma das grandes atrações do MNAA.
Ainda no domínio das artes plásticas, o festival literário irá receber uma exposição com vários trabalhos do fotógrafo Carlos Freire. O brasileiro, sediado em França, teve a oportunidade de fotografar alguns dos nomes mais ilustres do século XX, entre os quais se destacam os escritores Marguerite Yourcenar, Samuel Beckett, Roland Barthes e Jorge Luis Borges. E todos eles estarão expostos em Óbidos.
Para além de uma exposição com ilustrações de Afonso Cruz, a FOLIA irá também mostrar desenhos, gravuras e serigrafias da autoria de Júlio Pomar, que durante 50 anos pintou Quixotes. A iniciativa, realizada em parceria com a Fundação Júlio Pomar e o Atelier-Museu Júlio Pomar, pretende assinalar os 400 anos da morte de Miguel de Cervantes, autor do clássico da literatura Dom Quixote de La Mancha.
A programação da FOLIA irá ainda incluir uma instalação de Rui Horta em torno da ideia de utopia, que ficará patente em Óbidos até ao final do festival, uma leitura encenada dos solilóquios de Hamlet, de William Shakespeare (cujos 400 anos da morte também se assinalam este ano), coordenada por Beatriz Batarda, e uma leitura comentada da Utopia, de Thomas More, por Rui Tavares.
Durante o festival, serão exibidos três filmes do realizador Miguel Gonçalves Mendes — Autografia (2004), sobre Mário Cesariny, Curso de Silêncio (2008), sobre Maria Gabriela Llansol, e Nada Tenho de Meu (2012), com João Paulo Cuenca e Tatiana Salem Levy. Da filmografia do realizador português ficará apenas de fora José e Pilar (2010), sobre José Saramago e Pilar del Río, que foi exibido na edição de 2015 do FOLIO.
Na música, Camané irá interpretar canções de Tom Jobim. Lívia Nestrovski e Fred Pereira também passarão pelo festival para apresentarem um “repertório utópico”, que passará por Kurt Weil, Chico Buarque e Amália. De Óbidos, os dois músicos seguirão para o Teatro São Luiz, em Lisboa. Já Júlio Resende e Salvador Sobral irão interpretar poemas ingleses do poeta Fernando Pessoa.
Na FOLIO Ilustra, dedicada exclusivamente “aos bonecos”, a grande novidade de 2016 será o concurso internacional de ilustração e edição. Deste prémio, resultará uma exposição de ilustração e um álbum ilustrado, que será lançado durante o festival. A programação da FOLIO Ilustra, da qual grande parte ainda está por divulgar, incluirá ainda um mercado e oficinas de ilustração. Mafalda Milhões, curadora da FOLIO Ilustra, explicou que esta não pretende ser “uma mostra de ocupação estática”, mas “um constante convite à descoberta.”
“Que por todos se faça a poesia”
Um dos dias do festival literário de Óbidos será dedicado a Ruy Belo. Entre as várias iniciativas de homenagem do poeta e ensaísta, que morreu em 1978, conta-se a exibição de um documentário de Nuno Costa Santos e Fernando Centeio, uma exposição de fotografia da autoria de Duarte Belo, filho do poeta, e uma intervenção de António Feijó.
De modo a celebrar o poeta, serão também lidos vários poemas, nomeadamente por Luís Miguel Sintra. João Soares, que esteve presente na conferência de imprensa desta terça-feira, mostrou-se também disponível para ler um poema, “em jeito de homenagem a Ruy Belo e à minha mãe, que era sua amiga”. “Ela costumava ler muitos poemas de Ruy Belo”, lembrou o ministro da Cultura no final da apresentação.