As três categorias premiadas

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O desafio dos PI Awards é dirigido a três categorias distintas:

Paciente – desenvolve uma solução para melhorar o seu estado de saúde, podendo também ser utilizado, posteriormente, por terceiros que se encontrem na mesma situação;
Cuidadores/Responsáveis – desenvolve uma solução que possa ajudar alguém de quem toma conta e que pode ser também utilizado para ajudar outros que se encontrem na mesma situação;
Colaborador – desenvolve uma solução destinada a ajudar um grupo de pessoas com um determinado estado de saúde.

Quem vive de perto com a doença, seja o próprio doente ou um cuidador, está numa posição privilegiada para pensar em formas de melhorar a vida de quem sofre das mesmas doenças. Foi essa constatação que levou à criação do projeto Patient Innovation, uma plataforma online com cerca de 600 soluções desenvolvidas por doentes, cuidadores ou colaboradores, para ajudar com o dia-a-dia de quem sofre de doença. A plataforma é uma iniciativa da Católica Lisbon School of Business and Economics.

Entre tantas inovações “na primeira pessoa”, foram entregues os prémios Patient Innovation Awards (PI Awards), que já vão na segunda edição, e que distinguem sete candidaturas. Os prémios foram entregues a 10 de novembro, durante a Web Summit, e o Observador falou com alguns dos premiados antes de receberem a distinção.

Os sete vencedores

Michael Seres

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Michael Seres é diretor executivo da 11Health, tem 46 anos e uma história para contar. Foi diagnosticado aos 12 anos com doença de Crohn. Na altura a doença não era muito conhecida – havia, até, quem pensasse que era uma desculpa de Michael para faltar às aulas. “Senti um alívio por ter um diagnóstico” diz Seres, uma vez que assim todos já acreditaram que se passava algo de errado.

Com o avançar da doença, Michael Seres teve de fazer um estoma – processo cirúrgico para remover parte do intestino fazendo a ligação a um saco – perdendo assim o controlo sobre uma função do corpo. Foi necessário acompanhamento médico constante e, durante o percurso, Michael Seres percebeu que “os pacientes são o maior recurso, não utilizado, que existe nos cuidados de saúde” declarou ao Observador, acrescentando que todos os dias são um desafio mas que “como pacientes ganhamos um certo tipo de resistência”.

Um dos maiores problemas em viver desta maneira é o facto de não se conseguir controlar o estado em que o saco se encontra, chegando muitas vezes a transbordar. Foi esta a razão que levou Seres a pensar numa solução que pudesse ajudar tanto os pacientes como os auxiliares de saúde a controlar, facilmente, qual o estado atual do saco e quando deveria ser trocado.

Foi assim que surgiu o Ostom-i Alert Sensor, um sensor que consegue, através da análise de quanto o saco vai enchendo, medir a quantidade de dejetos no interior e enviar diversos alarmes para a aplicação do smartphone. Claro que, ao início, não era um produto tão bem construído. Começou por ser uma simples tira com sensores retirada de uma luva da consola Nintendo Wii que permitia enviar um alerta. Atualmente é possível ter vários níveis de controlo e diferentes alertas personalizados.

A ideia final do produto é conseguir com que todos tenham acesso à informação ao mesmo tempo. Desde o paciente à unidade hospitalar, todos devem receber a informação necessária em tempo real para que todos estejam a par da situação de cada paciente. “Crescemos em tantas direções e estou ansioso por ver o que se segue”, conclui Seres.

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Giesbert Nijhuis nasceu nos Países Baixos e é apaixonado por fotografia. Em 1996, Nijhuis esteve envolvido num acidente de carro que o deixou paralisado do pescoço para baixo, o que o impediu de continuar a fotografar como tanto gostava. A paixão da fotografia foi metida na gaveta.

Até que, em 2006, recebeu uma máquina fotográfica digital e esse foi o mote para não se deixar derrubar pelo seu estado. Aproveitando a cadeira de rodas que é controlada com o queixo, Geisbert Nijhuis pediu que lhe fizessem um suporte para colocar a câmara alinhada (de maneira a conseguir ver o ecrã LCD) com o campo de visão. Foi feito o modelo e, desde que o chão esteja direito então a câmara também o está, depois é só um deslize para carregar no comando da câmara e a fotografia está pronta.

Assim Nijhuis conseguiu superar o estado de saúde e continuar com o que gosta de fazer, fotografar o mundo com uma visão própria. Criou ainda o site LaesieWorks onde partilha alguns dos projetos que realiza. “Ainda preciso de ajuda, claro, ainda é tudo muito limitado, mas esta construção deu-me controlo suficiente para recomeçar na fotografia”, escreveu no site.

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David Day não tem nenhum problema de saúde que seja problemático, mas é pai de uma menina com fibrose cística – doença hereditária comum, que afeta todo o organismo, causando deficiências progressivas e podendo levar à morte prematura – e foi este o incentivo que o levou a desenvolver alguns jogos de computador que ajudam crianças com problemas semelhantes aos da filha a suportar melhor os tratamentos respiratórios.

Os jogos são simples mas ajudam a distrair os mais novos. Através de um aparelho ligado ao computador que, simultaneamente, está ligado ao tubo por onde as crianças vão ter de expirar com uma certa pressão, fazendo com que pequenos objetos (por agora, flores e formas geométricas) se mexam no jogo. A equipa está já a trabalhar em desenvolver alguns dragões e, também, navios piratas que funcionem com o jogo.

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Doron Somer é pai de um rapaz autista que sofreu maus tratos por parte dos cuidadores. Foi depois desses incidentes, Somer decidiu que tinha de arranjar maneira de controlar melhor o que acontece com o filho e começou a investigar se existia algo que o pudesse ajudar.

Em 2012 começou a ver os dispositivos GPS e percebeu que eram bons para seguir um cão ou para encontrar alguma bagagem, mas não estavam aptos a ser utilizados numa criança que precisa de cuidados especiais. Foi assim que se deu início à parceria com Nery Ben-Azar para construir o AngelSense, um sensor feito para crianças que necessitam de uma atenção especial e que permite saber exatamente onde está a criança. Se saiu do percurso que devia, envia alertas para a aplicação quando esta se encontra num sítio que não estava planeado e permite, ainda, ouvir o que se passa em redor.

Somer explica que “o AngelSense fica preso à roupa, ou mala, da criança através de uma chave magnética personalizada, à qual só os pais devem ter acesso para que só eles possam tirar o aparelho”, garantindo assim que a criança nunca o perde ou remove propositadamente.

Com o AngelSense os cuidadores e os pais podem trocar informação sobre o dia-a-dia da criança através de fotos e áudio.

Tendo em conta o tipo de dispositivo e as funções associadas, o AngelSense já é utilizado também em crianças que não necessitam de cuidados especiais e até em doentes que sofrem de Alzheimer. “Já temos adultos com Alzheimer e outras doenças a utilizar o AngelSense. O produto também é muito benéfico para eles”, conclui Doron Somer.

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Kenneth Shinozuka começou aos seis anos a pensar em marcar a diferença. Com 18 anos, é fundador e diretor executivo da SafeWander, empresa que produz um dispositivo que torna possível receber alertas quando alguém se levanta da cama quando não deve. O SafeWander foi pensado, em especial, para quem sofre de Alzheimer.

A inspiração para a criação do SafeWander veio do avô de Kenneth Shinozuka, que sofria desta doença e vagueava sozinho, durante a noite, sem que alguém desse conta que ele se tinha levantado. O dispositivo inteligente coloca-se em qualquer peça de roupa e foi projetado para enviar um alerta à pessoa responsável no caso de um doente sair da cama. A película flexível, que contém um circuito sem fios, está ligada ao calcanhar e, via Bluetooth, comunica com uma aplicação para smartphones (também projetada por Shinozuka), alertando o cuidador quando o doente se levantou da cama. “O sistema funciona através do envio frequente de sinais Bluetooth sem provocar nenhum risco para a saúde do paciente”, reforça o diretor executivo.

Shinozuka garante que “é difícil para o paciente retirar o dispositivo uma vez que este é colocado na roupa de uma maneira muito segura”. Com o prémio dos PI Awards, o diretor da SafeWander espera alcançar um público maior e “encorajar os cuidadores a adquirirem este sistema para conseguirem controlar melhor o estado dos pacientes”.

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Pavel Kurbatsky não tem nenhuma doença e também não tem um familiar doente, mas reparou nas dificuldades que as pessoas que perderam (ou nunca tiveram) a capacidade de ver enfrentam todos os dias para realizarem as tarefas mais simples. As cidades não estão muito adaptadas para invisuais e foi por isso que Kurbatsky decidiu meter mãos a obra e tentar ajudar.

Foi com estes pensamentos que começou a desenvolver, aos 9 anos, um termómetro que iria permitir aos invisuais medir a própria temperatura corporal. Mas não foi esta a invenção que mereceu o maior destaque nos PI Awards. Aos dezoito anos, Pavel Kurbatsky criou uma vara com três sensores e uns óculos escuros com auriculares que, em conjunto, vão dar uma ajuda extra nas deslocações dentro da cidade.

Os três sensores (um para a analisar a zona da cabeça, outro para o corpo e outro para os pés) comunicam com os óculos para avisar o utilizador de obstáculos que possam estar em redor. Com um GPS integrado consegue ainda informar em que rua ou local se encontra a pessoa para permitir uma melhor orientação.

Com pequenos dispositivos circulares, que seriam colocados em sítios mais comuns (como farmácias, museus, hospitais, etc.) o utilizador, ao virar a cabeça na direção do local onde os dispositivos estariam colocados, recebe a informação de onde se encontra através dos óculos escuros.

DuncanFitzsimons

O que começou como um projeto de faculdade dirigido às bicicletas tornou-se em algo mais. Duncan Fitzsimons desenvolveu umas rodas de bicicleta que podiam ser dobradas para facilitar o transporte, mas viria a ser contactado por algumas empresas que fabricavam cadeiras de rodas.

Para quem anda em cadeira de rodas, até uma simples viagem de avião pode representar um desafio, designadamente no que diz respeito à arrumação da cadeira. Com as Morph Wheels o cenário muda um pouco – estas são rodas que conseguem ser dobradas de forma a ocuparem menos espaço no transporte, cabendo até na parte dedicada a bagagem de mão nos aviões.

Com esta inovação Fitzsimons acredita que descobriu “a peça perdida do puzzle” para facilitar a vida destas pessoas. É um dos premiados pelo Patient Innovation Awards.

Pedro Oliveira e Helena Canhão são os líderes desta plataforma focada na inovação. Numa entrevista por e-mail, os dois esclareceram que a ideia surgiu quando Pedro reparou que existiam muitos doentes e cuidadores que desenvolviam soluções médicas para contornar um problema de saúde mas que não tinham como as divulgar, acabando a ideia por ficar limitada apenas ao criador. “Ficou, então, claro que era preciso gerar um espaço onde estas inovações estivessem ao alcance de toda a gente no mundo, de uma forma aberta e gratuita”, explicou Pedro.

Uma vez que a candidatura pode ser feita por qualquer pessoa que se enquadre numa das três categorias, podem surgir casos de pessoas que não tenham meios para desenvolver a ideia e para isso está a ser desenvolvido o Patient Innovation Lab, “um espaço virtual especialmente destinado a esse fim, onde estabelecemos o contacto entre doentes e cuidadores, e outros experts de diferentes áreas” explicam os líderes do projeto. Desta maneira é possível acompanhar o responsável pela ideia a ajudar a que a mesma chegue ao mercado.

A maioria das soluções desenvolvidas vem de inventores portugueses, brasileiros, ingleses, americanos e australianos. Este ano, contudo, ao contrário do ano passado, não houve nenhuma invenção portuguesa a ser distinguida pelos prémios da Patient Innovation.