Antes do Boca Juniors-River Plate viu-se um pouco de tudo. Como dizia o vídeo promocional da Associação de Futebol da Argentina, um clássico de bairro transformado numa final continental era algo “inexplicável”. O que ninguém poderia esperar era que se chegasse ao ponto de haver o primeiro relato de sempre próprio para cardíacos. Leu bem, próprio para cardíacos. Se foi ou não uma grande ideia da AM550 Rádio Colónia, só as audiências poderão responder mas uma coisa é certa – tudo aquilo a que se assistiu esta noite na Bombonera justificou, pelo menos, a inovação que foi apresentada.
Imprevisível, perigoso, “SuperClásico”: Boca Juniors vs. River Plate, a maior rivalidade do mundo
Tudo o que se esperava desta primeira mão da final da Copa Libertadores confirmou-se: as quezílias, as entradas que andam ali na fronteira entre o amarelo e o vermelho (e que às vezes nem cartão valem), os golos, as oportunidades falhadas. Tudo o que a rádio argentina previa passar também se confirmou: música zen de fundo, conselhos de um cardiologista em estúdio, narração sempre num tom calmo, golos cantados como se fosse a coisa menos emotiva do mundo. No final dos 90 minutos, ficou uma certeza – só com a cadência das incidências qualquer coração ficaria acelerado. Como aconteceu na primeira parte.
O River Plate, que apareceu na Bombonera sem o treinador Marcelo Gallardo – castigado por quatro jogos, deverá ter visto o jogo no hotel da equipa ou no estádio ao lado do lendário 10 do clube, Enzo Francescoli –, entrou melhor e a jogar como se tivesse a AM550 Rádio Colónia nos ouvidos, passando ao lado do ambiente de loucos criado pelos adeptos do Boca Juniors (com toda a lotação para si, como é habitual nos dérbis entre ambos). Pity Martínez e Santos Borre deixaram as ameaças iniciais a Agustin Rossi de bola parada ou em saídas rápidas que exploravam as costas da defesa de Schelotto mas não demorou muito até haver os primeiros duelos com ânimos mais exaltados, como aconteceu entre Casco, Villa e Jara, que andaram aos empurrões entre eles perto da linha lateral enquanto o árbitro apagava outros fogos. Um clássico, claro.
No entanto, o azar da estrela Cristian Pavon acabou por ser a sorte do Boca Juniors. Com a entrada de Dario Benedetto, a equipa xeneize deu o salto que não estava a conseguir no plano ofensivo e abriu um período de loucos com três golos em cerca de dez minutos antes do intervalo – Rámon Ábila, o avançado que sentou estrelas como Tévez no banco mas que surge com uma imagem do Pro Evolution Soccer na primeira busca que se faz através do Google (e que foi notícia também por isso), inaugurou o marcador numa insistência na área onde Armani pareceu ser mal batido no segundo tiro (34′); Lucas Pratto, um dos principais ódios de estimação dos adeptos do Boca depois de ter passado alguns anos no clube antes de chegar este ano ao River Plate, fez o empate logo na jogada a seguir, com um remate rasteiro cruzado na área (36′); e Benedetto, o herói da eliminatória frente ao Palmeiras, fez o 2-1 na sequência de uma bola parada em zona central para nova explosão da Bombonera (45′).
No segundo tempo, o ritmo acabou por abrandar sem deixar e ser intenso e sempre com pé por cima sem medo em lances que na Europa seriam falados durante semanas a fio. Com isso, houve menos oportunidades e mais um golpe de teatro: em novo livre batido por Pity Martínez de pé esquerdo (o ala que foi cobiçado por todos os “grandes” mas que não chegou a vir para Portugal por se ter tornado demasiado caro), Izquierdoz desviou de forma involuntária para a própria baliza e fez o empate que apenas por uma ocasião voltou a estar em risco, quando Armani travou o remate do isolado Benedetto (89′).
Armani builds a wall in record time!#BocaRiver #SuperClasico pic.twitter.com/kHoh40QF2v
— Fubo (@fuboTV) November 11, 2018
No final, tudo empatado (os golos fora não contam na Libertadores). Os jogadores do Boca Juniors, com Schelotto e Carlos Tévez a gritar em forma de incentivo para os companheiros, saíram debaixo de uma ovação pelos seus adeptos; já os elementos do River Plate iam trocando abraços por terem passado incólumes a um ambiente verdadeiramente complicado. Daquia a duas semanas, no Monumental, a segunda mão vai ser uma espécie de finalíssima. E, provavelmente, imprópria para cardíacos. A espera de 24 horas por causa do dilúvio em Buenos Aires este sábado valeu bem a espera.
O pedido recusado do presidente, a cimeira do G20 e um vídeo que arrepia: a antecâmara do Boca-River