Uma ocasião flagrante criada, dois remates, três faltas sofridas, quatro dribles eficazes, cinco passes longos certos. Os números podiam continuar, sempre em crescendo, mas a influência dos 34 minutos de jogo frente ao Santa Clara na última jornada colocaram Adel Taarabt como opção inicial de Nelson Veríssimo. De certa forma, foi um ato de afirmação. Porque depois de duas vitórias consecutivas no Campeonato, o natural seria manter as mesmas opções. Porque depois de cinco partidas seguidas em todas as provas a sofrer pelo menos um golo, o marroquino não era também a solução mais lógica para evitar essa pecha na equipa. Porque em vésperas de jogo grande para a Champions, poderia haver a tentação de poupar jogadores para o duelo com o Ajax. Ainda assim, tudo igual em termos de modelo e a alteração do médio para mexer com dinâmicas.

Boavista-Benfica. Darwin também marca mas fora de jogo (0-2, 39′)

“Aquele que é o jogo mais importante para nós é o de amanhã [sábado]. Sabemos aquilo que vem a seguir mas o mais importante é o jogo com o Boavista, tendo em conta o que são os nossos objetivos para esta Liga. A importância está toda centrada neste encontro. Espera-nos um jogo difícil, perante uma equipa que tem uma força acrescida nas dinâmicas globais quando joga em casa. É uma equipa que pratica um futebol positivo, dentro da ideia do técnico. Vamos centrar as nossas atenções no nosso jogo ofensivo e na forma como temos de defender. Espera-nos um jogo bastante competitivo, em que temos de estar com níveis de ativação, competitividade e agressividade altos para sairmos de lá com o objetivo alcançado, que é fazer um bom jogo e conquistar mais três pontos”, tinha referido na véspera o técnico dos encarnados.

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Os axadrezados não conseguiram ainda ganhar em 2022, somando alguns empates que poderiam ser vitórias mas mantendo essa tendência que fazia remontar a dezembro o último triunfo. No entanto, e no último jogo entre ambos os conjuntos, o Benfica não foi também além de uma igualdade nos 90 minutos com o Boavista numa partida onde esteve pior no segundo tempo, voltou a sofrer golos e beneficiou do melhor Vlachodimos para levar a decisão para as grandes penalidades. O que mudava? As opções que estavam agora disponíveis. Sobretudo, a presença de Darwin Núñez, uruguaio que na Final Four da Taça da Liga estava na seleção.

“Preocupam-me os golos sofridos mas olhamos para o processo como um todo e não é só nisso que nos focamos. Sofremos alguns golos em situações de bola parada. Temos de perceber onde a equipa está bem para potenciar essas situações e arranjar estratégias para corrigir as situações onde estamos menos bem, de forma a acrescentar mais-valias ao comportamento coletivo. É uma preocupação que nos tem acompanhado desde início. Jogo da Taça da Liga? Obviamente que olhámos para esse jogo mas o facto de os jogadores que estiveram nas seleções regressarem pode alterar as dinâmicas. Temos de ver as debilidades que podemos aproveitar. O Boavista tem dinâmicas muito interessantes, que são diferentes à esquerda e à direita, e são muito competentes a defender”, salientara Veríssimo, apontando sem nomear para o avançado uruguaio.

Esta noite, Darwin Núñez não marcou. Voltou a ser importante sobretudo na primeira parte mas não marcou como nos últimos encontros. Contudo, houve Taarabt. Muito Taarabt. E mais Benfica enquanto o médio que foi a única novidade no onze titular esteve em campo. Depois, entrou João Mário para o lugar do marroquino e os papéis inverteram-se, com os encarnados a colocarem-se a jeito de ser caçados quando tinham andado 60 minutos a caçar. Se Nelson Veríssimo não tem hoje a terceira vitória consecutiva é por culpa própria. E se o título é uma miragem há muito, também o segundo lugar pode ficar mais uma vez distante…

O Benfica entrou com uma boa dinâmica ofensiva, a rodar rápido a bola no meio-campo contrário e a ter dois cruzamentos com perigo mas bem cortados pela defesa axadrezada a três liderada por Javi Garcia. Contudo, e apesar desse ascendente com bola quase sempre canalizado pela esquerda que obrigava Lázaro a trabalho suplementar no lado oposto, a primeira real ameaça a uma das balizas veio do Boavista, com Yusupha a intrometer-se numa zona morta entre defesa e meio-campo, Musa a conseguir ficar com a bola lançado em velocidade descaído sobre o lado esquerdo da área mas a atirar para defesa de Vlachodimos (12′). Estava dado o mote para aquilo que poderia ser o problema nas transições dos encarnados mas que não conheceu continuidade. Nem nas saídas, nem na segurança defensiva. E a saída de Ilori mexeu com a equipa.

Hamache, em condições normais, até poderia trazer outras coisas ao jogo. Mais saída a partir de trás, outra capacidade no remate de meia distância. Mas Taarabt e Gonçalo Ramos perceberam aí que era o momento de caçar. E que caçar era a melhor defesa para não ser caçado. Com isso e com uma dose extra de eficácia, o jogo ficou a mais de meio caminho decidido: Taarabt inaugurou o marcador com um remate cruzado de fora da área após uma jogada ao primeiro toque que passou por Gonçalo Ramos, Darwin Núñez e Rafa, que assistiu de calcanhar (21′), Grimaldo aumentou a vantagem numa jogada onde explorou o uruguaio na profundidade, Bracali defendeu o primeiro remate de Rafa mas o lateral foi a tempo de fazer a recarga (30′) e pelo meio ainda houve uma ameaça de Musa, a desviar ao lado um bom cruzamento de Nathan (28′).

Pela segunda vez na presente temporada, o Benfica conseguia chegar aos dois golos de vantagem na meia hora inicial mas a conta poderia não ter ficado por aí, por mais que Petit tentasse pedir rigor a uma linha a três defensiva onde não constavam os castigados Jackson Porozo e Abascal: Gonçalo Ramos fez mais de 30 metros sozinho recebendo no meio dos centrais contrários, assistiu Everton mas o golo foi anulado (34′); Darwin Núñez recebeu descaído sobre a esquerda no movimento mais habitual, marcou perante Bracali isolado mas a jogada foi de novo anulada por fora de jogo (39′). Eram dois, poderiam ser quarto.

Petit apostou na mesma equipa para o segundo tempo, fazendo alguns reajustamentos nos posicionamentos como a possibilidade de Pérez poder ter mais metros para distribuir jogo. E a abrir foi o médio que voltou a isolar Musa desta vez mais descaído sobre a direita para o remate travado por Vlachodimos a fazer de forma rápida a “mancha” (47′). Mais tarde, Yusupha e Musa caíram na área com Rui Costa a mandar seguir (após confirmação do VAR) mas essa tentativa de retoma do Boavista travava quando a bola chegava aos pés de Taarabt, que distribuía jogo, aproveitava os espaços em aberto e deixava em sentido uma formação do Bessa que muitas vezes já hesitava na forma como abordava o jogo com bola perante a influência do marroquino. A menos de 20 minutos, Veríssimo mexeu. O marroquino saiu. E o jogo mudou por completo.

A troca do médio por João Mário tirou verticalidade à equipa que tinha nesses movimentos a melhor forma de manter a vantagem em detrimento do jogo mais apoiado do internacional português. Bastava quase um rastilho para a esperança boavisteira reacender nesse contexto e foi numa recuperação de bola em zonas mais adiantadas que chegou o 2-1 por Gustavo Sauer, num remate de pé esquerdo colocado na área após um passe de calcanhar de Musa (74′). Estava dado o mote para a recuperação, que valeu o empate por Makouta depois de um lançamento lateral rápido a explorar a velocidade de Gorré pela esquerda (80′), que já tinha valido uma bola no poste de Hamache (77′) e que podia ter valido a reviravolta completa de Hamache num livre que saiu a rasar o poste (85′). Aquilo que era um jogo ganho por pouco não passou a jogo perdido…