Os Artistas Unidos vão sair do Teatro da Politécnica, em Lisboa, no final de julho sem casa à vista, já que o futuro espaço da companhia de teatro, no Bairro Alto, ainda não está pronto. Até lá, a companhia está com a Câmara de Lisboa em busca de um espaço “temporário”.
Seis meses depois de o Observador ter noticiado que os Artistas Unidos iam voltar a ter morada no antigo edifício d’A Capital, no Bairro Alto, em Lisboa, de onde foram obrigados a sair em 2002 por decisão da autarquia, então presidida por Santana Lopes, nada mudou. “Estamos no mesmo ponto onde estávamos”, diz Pedro Carraca, da companhia, ao Observador. “Para onde é que vão estas coisas a 31 de julho?”, questiona, sem resposta.
“Presumo que nos próximos dois anos não vale a pena pensar n’A Capital”, assume o porta-voz dos Artistas Unidos, que diz que não faz “a mínima ideia” sobre o estado atual das obras no espaço prometido pela autarquia. “Visitámos o espaço há dois anos, e não voltámos lá”, admite, sublinhando que a prioridade “já não é [saber] para onde é que vamos a seguir, é onde é que estamos até ao final do ano”. Numa publicação no Facebook no início do mês, a companhia denunciava que “depois de dois anos de reuniões e projetos, as obras no edifício [d’A Capital] não começaram”.
Ao Observador, o departamento de comunicação da Câmara de Lisboa confirma que “mantém o edifício A Capital como uma possibilidade para acolher os Artistas Unidos, mas, encontrando-se o projeto para este imóvel ainda em execução, tem procurado soluções, ainda que temporárias, para acolhimento da companhia”, não esclarecendo o que motivou o atraso na execução da obra e recusando dar detalhes sobre o projeto.
A autarquia tem procurado uma solução “em auditórios, municipais e não só”, garante o município, mas “até ao momento não foi possível encontrar um espaço que reúna as características necessárias para o acolhimento dos projetos que os Artistas Unidos têm em curso”.
Pedro Carraca diz que a companhia de teatro tem “dado sugestões à Câmara”. No entanto, “a maior parte das nossas sugestões são inviáveis ou de difícil resolução“, nota. Em resposta às várias questões colocadas pelo Observador, a CML responde estar “empenhada na resolução deste processo e em encontrar uma solução, consensualizada com os Artistas Unidos, que permita a continuidade do seu trabalho.”
Na última semana, a companhia lançou um convite nas redes sociais para um último adeus à Politécnica, que acontece no dia 16 de julho.”Venha despejar o Teatro da Politécnica connosco. A partir das 15.00, dizemos ‘Adeus, Politécnica juntos'”, escreveram. O Teatro da Politécnica é propriedade da Universidade de Lisboa, que em 2022 informou a companhia que não pretendia renovar o contrato de arrendamento, alegando que necessitava do espaço para outros serviços. A companhia apelou à CML, que intercedeu junto da Universidade de Lisboa e conseguiu que o contrato fosse prorrogado até junho de 2024.
A 25 de julho, os Artistas Unidos levam à cena Búfalos, de Pau Miró, a última peça da trilogia do autor que a companhia está a apresentar este ano, no Citemorl Citemor, na Antiga Fábrica de Mármores, em Montemor-o-Velho.
Na rentrée teatral, em setembro, a companhia espera abrir a temporada com o espetáculo do autor catalão, em Lisboa, como habitualmente, mas ainda não há previsão de que espaço vai receber as apresentações da companhia formada a partir do grupo que estreou, em 1995, António, um Rapaz de Lisboa, de Jorge Silva Melo. “A não existência de um teatro para os Artistas Unidos condenará a sua ação e intervenção, mais uma vez, a uma situação de itinerância e precariedade insustentáveis às características da sua atividade, impossibilitando tanto a permanência da equipa contratada, como a continuidade da sua acção cultural e artística”, alertaram numa publicação nas redes sociais da companhia a 1 de junho. Questionado pelo Observador Pedro Carraca garante já houve um contacto com o ministério da Cultura sobre a situação que a companhia atravessa, mas que ainda não houve qualquer reunião com a ministra, Dalila Rodrigues.