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Os 17 sectores chave da economia mais afetados
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Os 17 sectores chave da economia mais afetados

Os 17 sectores chave da economia mais afetados

17 negócios que estão no olho do furacão. Um guia para perceber os impactos e os apoios anunciados

Com a reabertura na agenda, muitos contam já muitos milhões de perdas e milhares de empregos em risco. Mesmo que o Covid passe, a crise ainda vai ficar para muitos. Quais os setores mais afetados?

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Com as empresas e os consumidores focados na reabertura da economia e no regresso à normalidade possível, a luz ao fundo do túnel pode estar a aparecer para algumas atividades — mas para outras a incerteza ainda é muito grande.

Apesar dos sinais positivos, alguns até inesperados – como o caso das reservas que turistas estrangeiros estão a fazer para o verão no Algarve – a paragem de seis semanas e uma retoma lenta e com restrições vão deixar marcas na maioria dos setores, com prejuízos, empresas a fechar e perda de empregos.

Lojas mais pequenas, cabeleireiros, livrarias, stands de automóveis. O que vai abrir daqui até junho

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António Costa já avisou que se começarem a aparecer indicadores de descontrolo nos números do contágio, não terá vergonha de voltar atrás. E o facto de as lojas e restaurantes reabrirem não quer dizer que as pessoas voltem logo a consumir. Não se sabe quanto vai demorar e muitas empresas podem não sobreviver.

Expressões fortes como “drama” e “calamidade”, milhares de postos de trabalho em causa, cartas a pedir ajuda ao Governo, apoios que, quando existem, nunca são suficientes e chegam sempre tarde, como o acesso às linhas de crédito ou o pagamento pela Segurança Social da parte dos salários em situação de layoff. Tudo isto têm sido dito por associações e empresas sobre os impactos da pandemia e das medidas de restrição. E que medidas de apoio receberam? Um guia para perceber o impacto do Covid-19 nas atividades mais afetadas.

Hotéis, alojamento local e agências de viagens

Restrições. A hotelaria não foi obrigada a fechar, mas há limites a atividades como a restauração e os spas.

Praticamente quase todas as unidades estarão encerradas e o inquérito da Associação de Hotelaria de Portugal do inquérito promovido aos seus associados indicava que cerca de 85% das empresas do setor estavam em layoff em abril, o que corresponderá a aproximadamente 50 mil trabalhadores. O setor estimava uma perda de receita superior a mil milhões de euros na primeira metade do ano.

Cerca de 80% das unidades não previa reabrir portas antes de junho e ainda não se conhecem as limitações com que o setor terá de operar, mas já se sabe que há intenções do Governo de limitar o número de pessoas nas praias e que as autoridades estão a desaconselhar as viagens de férias no verão, sobretudo para o estrangeiro.

No entanto, surgiram notícias de uma inesperada chegada de reservas aos hotéis e casas no Algarve para este verão, muitas vindas de fora de Portugal. Ainda que haja dúvidas sobre se os turistas conseguirão cá chegar com a paragem na aviação.

Covid não trava planos de férias no verão. Reservas de portugueses e britânicos aumentam no Algarve

No alojamento local, os números são mais difíceis de conhecer, mas as estimativas feitas pelo projeto Bloomer indicam que, só em março, os alojamentos Airbnb em Lisboa e no Porto sofreram ao todo o cancelamento de 240 mil noites e somaram 10 milhões de euros em perda de receitas.

Apoios. O turismo foi logo reconhecido como uma das atividades onde o efeito de devastação é maior e a retoma mais incerta. O setor teve direito a ajudas específicas em matéria de linhas de crédito de apoio à tesouraria com um plano de 900 milhões de euros. Foi desenhado um pacote de 60 milhões de euros para micro empresas com até 10 colaboradores e menos de dois milhões de faturação anual, gerido pelo Turismo de Portugal. Tem sido um dos instrumentos de apoio mais elogiados. Agências de viagem, empresas de animação turísticas e promotoras de eventos tiveram acesso a outra linha própria, de 200 milhões de euros. Aplica-se ainda o mecanismo do layoff simplificado.

Centro histórico de Lisboa às moscas. Foto de João Pedro Morais/Observador

João Pedro Morais/Observador

Igualmente relevante é a decisão do Governo de permitir aos hotéis e agências de viagem ganhar tempo, quase dois anos, na obrigação de reembolsar os clientes que já tinha pago reservas. Podem emitir vales para remarcação e só a partir do final de 2021 é que terão de devolver o dinheiro para quem não aceitar. Mas o horizonte da retoma está ainda longe. Mesmo que se verifique alguma recuperação ainda em 2020, vai demorar anos ao setor a voltar ao nível a que estava em 2019.

Transporte aéreo

Restrições. Estão proibidos voos para muitos destinos, por decisão dos respetivos países. Em maio a maioria destes impedimentos poderá ser levantada, mas foi imposta, tal como nos transportes rodoviários, uma limitação à ocupação dos aparelhos de dois terços.

Com os mais de 100 aviões estacionados nos vários aeroportos nacionais (até em Tires há aeronaves da TAP), a transportadora começou a sofrer os impactos da pandemia logo em março, com milhares de cancelamentos de voos e a proibição de voar para vários destinos a alastrar. O tráfego aeroportuário caiu na casa dos 80% a 90%.

Ainda não há números sobre perda da receita, mas será quase total. A TAP estava a fazer 400 voos por dia e a operação foi reduzida para 7 voos semanais, todos para a Madeira e Açores. Há planos para retomar algumas rotas em maio, mas não há certezas. E ainda não há resposta para qual será a operação futura da companhia que a médio prazo não voltará à rota de expansão que estava em curso desde a privatização no final de 2015.

A TAP e a Groundforce foram das primeiras grandes empresas a pedir o acesso ao regime do layoff. Na transportadora, este regime abrange cerca de 90% dos mais de 10 mil colaboradores, na empresa de handling são  2.400.

Apoios. Para além do regime especial de layoff simplificado, que permitiu à TAP reduzir os custos com salários em 45%, a companhia pediu já um pacote de apoios ao Estado que vão desde a isenção do pagamento da TSU, retenção de IRS e contribuições cobradas aos trabalhadores, adiamentos na entrega de outros impostos e isenções de pagamento de taxas aeroportuárias. Também a Groundorce pede medidas de apoio específicas.

A gestão da TAP fez chegar ao Governo várias medidas de ajuda que vão desde a isenção de taxas aeroportuárias ao adiamento no pagamento de impostos, mas a proposta mais sensível é um pedido de garantia estatal para um empréstimo de 350 milhões de euros para apoio à tesouraria.

Empréstimo de 350 milhões não chega para resolver problema da TAP. Se é o povo a pagar, “é bom que seja o povo a mandar”.

Para o ministro que tutela a aviação, este financiamento não chega e a empresa não terá condições de reembolsar o empréstimo no atual contexto da aviação. Pedro Nuno Santos deixou no mercado vários recados, alguns duros, aos acionista privados da TAP, e a mensagem de que não haverá ajudas sem uma maior intervenção do Estado na empresa. Parece ainda longe o acordo sobre uma solução para a empresa.

Entretanto, a companhia aérea de bandeira portuguesa anunciou um calendário para começar a realizar voos dentro e fora de portas. Internamente, a TAP já está a fazer voos para as ilhas (Madeira e Açores) e vai passar a fazer voos regulares para o Porto (a partir de 18 de maio). Para fora, vai passar a voar (já esta semana, caso tenha lotação suficiente nos aviões) para Paris e Londres. No longo curso, poderá começar a voar para o Brasil a partir de 18 de maio.

Alojamento e restauração

Restrições. Os restaurantes estão fechados desde março, com exceção de serviços de take away. A partir de 18 de maio, vão poder abrir, mas com o limite de 50% de ocupação. Há uma obrigação genérica do uso de máscaras em locais fechados e um máximo de cinco pessoas por metros quadrados e a distância mínimo de dois metros. Terá de haver limpeza e desinfeção mais regular. O setor já propôs um guia de boas práticas.

Apesar de algum balão de oxigénio por via dos apoios e de vários estabelecimentos manterem atividades de take away, este será um dos setores mais penalizados no regresso à normalidade, por causa das novas exigências sanitárias que muitos estabelecimentos não vão, provavelmente, conseguir cumprir. Centenas poderão fechar, admite o chef José Avillez, e com eles milhares de empregos neste setor deverão desaparecer,

José Avillez: “Vai haver uma razia no setor. Vão fechar centenas e centenas de restaurantes ao longo deste ano”

Os dados do inquérito realizado pelos associados da AHRESP (Associação Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal) no início de abril mostra a devastação no setor com cerca de 75% das empresas paralisadas e muitas sem saberem se iriam reabrir. Dados mais recentes apontam para falhas no pagamento de salários.

Uma em cada três empresas da hotelaria e restauração não pagou salários em abril

Apoios. A restauração foi um dos setores que teve logo direito a uma linha específica de crédito no valor até 600 milhões de euros que permite financiamentos até 1,5 milhões de euros por quatro anos. O setor pode ainda recorrer ao layoff e tem sido aliás um dos mais representativos no número de entidades e trabalhadores abrangidos, quase 23 mil e mais de 220 mil, respetivamente.  Mas o acesso a estas medidas exige que as contribuições fiscais e para a Segurança Social estivessem regularizadas.

Espetáculos, lazer e cultura

Restrições. Encerrados desde março, museus, monumentos e palácios, galerias de arte, salas de exposições vão poder reabrir a 18 de maio. Cinemas, teatros, salas de espetáculos, auditórios só regressam a 1 de junho e com lugares marcados, lotação reduzida e distanciamento físico. António Costa avisou que há uma grande probabilidade de os festivais de verão e não se realizarem ou então passarem para salas fechadas e com as limitações previstas para estes espaços. Não há data para reabrirem bares, discotecas ou casinos.

Os concertos foram as primeiras vítimas do Covid-19. E será, provavelmente, o último a reabrir. O mercado está parado para novos projetos, há sobretudo cancelamentos e remarcação de datas.

Festivais de verão entre o adiamento e a incerteza. Foto de João Porfírio/Observador

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Vários festivais de música foram adiados, como o Primavera Sound do Porto, para Setembro, e o Rock in Rio, para o próximo ano, mas não ha certeza sobre se poderão realizar nas novas datas. A qualquer momento espera-se um anúncio em relação ao Nos Alive, o maior festival de rock em Portugal, agendado para o início de julho, e para o Super Bock Super Rock o Paredes de Coura, em agosto.

Num comunicado, as três associações do setor, a Aporfest, a APCATE e a APEFE, indicavam que só os espetáculos contavam com mais de 300 milhões de euros em perdas por via do cancelamento de eventos até final de maio, que afetou mais de 25 mil espetáculos e festivais e 100 mil postos de trabalho.

Apoios. Algumas vozes do setor, como a do promotor Álvaro Covões, têm vindo a insistir na necessidade de apoios do Estado ao setor. E é preciso perceber se haverá um enquadramento legal de realização de concentrações de pessoas que permita invocar motivo de força maior para não cumprir contrato. Se for cancelado, terá de haver reembolso dos bilhetes vendidos. A lei do estado de emergência já prevê que o adiamento do espetáculo por causa da pandemia não obrigue a devolver o dinheiro desde que se realize. Mas será necessário mais.

Covid-19. Vamos ter festivais de Verão?

Livros e livrarias

Restrições. Livrarias e bibliotecas reabriram a 4 de maio com as limitações para os espaços públicos fechados.

A APEL (Associação Portuguesa das Empresas Livreiras) fala em quedas de venda superiores a 80% nas livrarias e o crescimento significativo das vendas online não permite compensar este tombo porque a base de partida é muito pequena, diz João Alvim presidente da APEL que estima prejuízos acima dos 20 milhões de euros. O setor não poderá contar também as tradicionais feiras do livro, que são importantes plataformas de vendas. A edição de Lisboa, que normalmente se realiza entre maio e junho, foi adiada para o verão, ainda sem data.

Marcelo Rebelo de Sousa na Feira do Livro de Lisboa que este ano ainda não tem data

ANDRÉ KOSTERS/LUSA

Apoios. Um impacto destes num setor que já atravessava uma crise pode não ter retorno e o Governo depois de hesitar acabou por anunciar um pacote de apoios de 400 mil euros para a comprar de livros. Para a compra de livros, está previsto um máximo de cinco mil euros por editor e livreiro, um limite mais dirigido a empresas de pequena dimensão. Se cada um pedir o apoio máximo, apenas 80 têm direito à medida agora anunciada. Só a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) representa 191 editoras e 21 livreiros, de acordo com números internos atualizados.

“Uma colher de chá”: Editores e livreiros insatisfeitos com 400 mil euros do Ministério da Cultura

Comunicação social

Dificuldades. Já estava em crise há anos e foi agravada pelos efeitos económicos da pandemia que se sentem sobretudo na queda de receitas da publicidade, apesar do grande aumento das audiências.  Uma das principais empresas do setor, que já estava em dificuldades financeiras, a Global Media,  entrou em layoff. A medida abrange mais de 500 trabalhadores, dos quais cerca de 85% estão com suspensão do contrato de trabalho, isto numa altura em que não falta trabalho aos jornalistas. Cerca de 50 jornais regionais avançaram para a suspensão de contratos.

Apoios. Os meios privados, entre os quais o Observador, têm feito chegar ao Governo propostas de apoio específicas às empresas de media, na área fiscal, mas também empréstimos em condições favoráveis. A ministra da Cultura anunciou a antecipação de um pacote de compra de publicidade institucional no valor de 15 milhões de euros, que pode vir a ser reforçado. Medidas  que não chegam, avisou logo plataforma dos meios privados que reúne a Cofina, Impresa, Renascença, Público, Global Media e Media Capital.

Presidente da Cofina considera pacote de ajuda aos media insuficiente

Algumas entidades públicas privadas, como a seguradora Fidelidade, têm anunciado compra de assinaturas, para apoiar as empresas de media. O Presidente da República tem feito a defesa pública de mais apoios ao setor e recebeu esta semana os líderes dos principais grupos.

Futebol

Restrições. Os desportos individuais ao ar livre voltam a 4 de maio (na verdade não chegou a estar restrita, mas por exemplo o acesso ao mar para a prática de surf estava limitado), mas sem utilização de balneários nem piscinas. No final do mês, serão retomados o Campeonato Nacional de Futebol e a Taça de Portugal, mas sem público.

Como serão as oito semanas de futebol em Portugal – e o que se passa lá fora, entre protocolos e jogos à porta fechada

O futebol tem duas grandes fontes de receitas: direitos televisivos e transferência de jogadores. Nem uma nem outra existem, mas os compromissos financeiros para pagar mantêm-se — e é esse o problema. A Liga estimava uma perda de 310 milhões de euros nas receitas previstas, o que equivale um decréscimo de 60% face aos 512 milhões de euros de receitas do ano passado.

Campeonato suspenso desde março.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

E com os jogos à porta fechada, não há receita de bilheteira.  No caso do Benfica, a venda de bilhetes de época, camarotes e business seats é de 25 milhões de euros, o que faz com que se houver 25 jogos na Luz por época das várias provas “custa” 1 milhão/jogo, merchandising e afins também cai a pique mas ficam resolvidos os direitos TV. Ou seja, há um impacto direto no último trimestre das contas de 19/20 (fecham a 30 de junho) mas vai apanhar também a próxima época porque o valor médio do passe dos jogadores desvalorizou e o mercado de transferências vai ser mais baixo.

A Altice, dona da Meo, vai suspender o pagamento aos clubes de futebol da I e da II Liga em abril, uma vez que não há jogos nem transmissão nos canais de televisão pagos.

A maior parte dos clubes negociou cortes salariais com os jogadores, equipas técnicas e afins de 1 mês a 3 meses Os cortes variaram entre 20% e 40%. O caso mais mediático e que foi transversal a todas as estruturas foi o do Sporting. Os jogadores do plantel principal cortaram vencimento em 40% de abril a junho, que passa a 20% quando recomeçar o Campeonato.

No futebol amador, todas as competições seniores e de formação de futebol e de futsal masculino e feminino foram canceladas. Há dezenas de clubes com salários em atraso, ainda mais que não conseguem fazer face às obrigações em abril e pior vão ficar porque as competições só devem voltar em agosto/setembro.

Apoios. A Federação Portuguesa de Futebol criou um fundo de 4,7 milhões de euros para todos os clubes que estiverem interessados que podem fazer um empréstimo sem juros a quatro anos. Os jogadores da Seleção Nacional doaram metade do prémio de qualificação para o Campeonato da Europa de 2020 para reforçar esse apoio. Vários clubes anunciaram o recurso ao layoff, um deles foi o Sporting que tem cerca de 95% dos funcionários de clube e SAD parados por suspensão do contrato de trabalho ou redução de horário.

Comércio

Restrições. As lojas do comércio local até 200 metros quadrados reabriram na segunda-feira. Lojas até 400m2 ou partes de lojas até 400 m2 (ou maiores com a autorização de autarquias) têm abertura prevista para 18 de maio. Os estabelecimentos com mais de 400 metros quadros só vão reabrir a 1 de junho. Aplicam-se as regras de distância e proteção pessoal impostas a espaços fechados.

Este é um dos setores mais afetados pelas medidas de confinamento social adotadas para combater a pandemia. Ainda antes do estado de emergência, lojas e centros comerciais tiveram de limitar a ocupação a um cliente por cada 25 metros quadrados

Com a declaração do estado de emergência, vários espaços comerciais tiveram de fechar, incluindo restaurantes, bares e discotecas e outros estabelecimentos de lazer, como os casinos, mas também ginásios e outros equipamentos públicos. Ficaram suspensas as atividades de comércio a retalho, com exceção das que vendiam bens de primeira necessidade, e de prestação de serviços, com algumas exceções, de acordo com o diploma de 2 de abril. Mas foi também uma das primeiras atividades a reabrir gradualmente a partir do dia 4 de maio.

As regras para os estabelecimentos que reabrem: só depois das 10h e com uma pessoa por cada 20 metros quadrados

No entanto, há indicadores preocupantes.Um inquérito feito pela Associação de Marcas de Retalho e Restauração aos lojistas que representam mais de 20 mil pontos de venda, indica que 91% dos inquiridos não paga rendas desde o encerramento dos estabelecimentos, a 15 de março, e mais de metade, 55,1% suspendeu os pagamentos a fornecedores.

Apoios. O regime excecional de mora no pagamento das rendas aplica-se às unidades de comércio a retalho e prestação de serviços que tiveram de encerrar ou suspender a sua atividade devido ao estado de emergência. Este regime permite diferir o pagamento das rendas vencidas nos meses em que vigore o estado de emergência e no primeiro mês subsequente, para os 12 meses posteriores ao término desse período. O setor passou a estar incluído nas linhas de crédito atribuídas no quadro do Covid-19 para o apoio à tesouraria.

O maior centro comercial português, o Colombo, como nunca o viu: vazio

JOSE SENA GOULAO/LUSA

Centros comerciais

Restrições. Algumas lojas dentro dos centros comerciais só podem reabrir a 1 de junho, mas os centros nunca estiveram fechados porque houve sempre algum retalho autorizado a funcionar.

As medidas de apoio ao comércio às lojas tiveram um impacto “substancial” e negativo na tesouraria dos centros comerciais. O adiamento e fracionamento do pagamento de rendas permitido aos lojistas que tiveram de fechar vai ajudar a tesouraria destes. O presidente da associação do setor, a APCC, António Sampaio e Mattos avisou que é crucial a tomada de mais medidas de apoio ao setor, em particular na área fiscal — como a entrega do IVA ao Estado em função do valor cobrado até ao final do ano. O setor, que nunca chegou a estar fechado, é responsável por mais de 100 mil postos de trabalho.

“Muito poucas atividades” dos centros comerciais vão continuar encerradas. Livrarias e cabeleireiros também abrem

Imobiliário

Restrições. A atividade imobiliária é um dos setores que retomado esta segunda-feira para os estabelecimentos até 200 metros quadrados, mas muitos profissionais continuaram a trabalhar a partir de casa.

A compra e venda de casa foi outro dos negócios que parou com a crise do Covid, ficou proibida de operar durante o estado de emergência, e antes disso, já as visitas a casas tinham parado. Um inquérito lançado logo nos primeiros dias das restrições indicava que 80% das empresas já tinham clientes que estavam a desistir da transação, alguns deles saíam mesmo com contratos promessa de compra e venda assinado.

O imobiliário congelou. Preços vão baixar? “Comprar casa é a decisão de uma vida. Quem consegue decidir isso agora?”

Um inquérito recente dava conta de que quase 30% das agências só tinham capacidade financeira para aguentar mais um mês.

Apoios. Com muitos profissionais liberais e trabalhadores que também são sócios das suas empresas, a associação de promoção imobiliária, a APEMIP, queixou-se da falta de apoios direcionados para o setor. Algumas das falhas foram entretanto corrigidas como a extensão do layoff a sócios gerentes de pequenas empresas. As maiores empresas, nomeadamente multinacionais, estão a apostar em força nas plataformas online de venda e há sinais de interesse crescente por parte de investidores estrangeiros, muito por causa da gestão que Portugal apresentou do pico da pandemia face a Espanha e Itália. Os preços não estão, para já, a cair muito, também devido à moratória das prestações no crédito à habitação que está e evitar incumprimentos.

Transportes públicos

Restrições. O transporte público voltou “ao normal” a 4 de maio, com as empresas a repor grande parte da oferta e a retomar a cobrança. Mas passa a ser obrigatório o uso de máscaras nos espaços fechados e intervalos de distância entre pessoas. A capacidade só pode estar preenchida até dois terços, durante o estado de emergência estava limitada a um terço.

Transportes públicos vão vender máscaras e marcar espaços, mas esperam que “pessoas ajudem a cumprir”

Com quedas de procura na casa dos 70 a 80% nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto e a não cobrança de bilhetes no metro e na Carris, os prejuízos são grandes. A CP perdeu quatro milhões de euros de receitas por semana e o Metro de Lisboa admite um mês desastroso.

As empresas retomaram quase toda a oferta, mas a procura ainda deverá demorar a recuperar, até por força das restrições à ocupação do espaço, mas também porque as pessoas vão tentar evitar os meios de transporte. Nos primeiros dias do estado de calamidade esta semana, não houve um regresso em massa até porque há atividades ainda paradas e o teletrabalho é para manter até final do mês. O retoma da oferta não terá tido a mesma expressão nas empresas privadas, algumas das quais estão em layoff e com serviços reduzidos.

Desinfeção de transportes públicos

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Apoios. Os operadores de transportes públicos continuaram as compensações públicas associadas aos passes sociais, mesmo sem os vender. Esta verba visa assegurar a oferta de transporte público nas áreas de Lisboa e do Porto, mesmo por parte das empresas privadas. O presidente da ANTROP, Cabaço Martins refere que foi mantida 40% da atividade nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto para assegurar o serviço público. O nível da oferta no resto do país ficou na casa dos 20%.

Transporte de longo curso

Restrições. Durante o estado de calamidade, as empresas, mesmo com uma procura reduzida, tiveram de reduzir a ocupação a um terço da capacidade, presume-se que esse limite será ampliado para dois terços, e com a obrigação do uso de máscaras.

Este segmento teve quedas mais acentuadas da procura, não só causadas pelos impedimentos às deslocações durante o estado de emergência, mas também pelo medo das pessoas em andarem de autocarro e comboio, mesmo com as medidas de desinfeção A CP refere ao Observador quedas de 90% nos comboios de longo curso. Já a rede Expressos, viagens de longo curso de autocarros, tem estado a operar a 10% da oferta regular.

Dramática é a situação no segmento comercial e turístico de aluguer de autocarros que está completamente parado. Não é só os turistas que faltam, são também os congressos e as viagens promovidas por escolas, câmaras e outras instituições. Cabaço Martins admite que alguns destes operadores, sobretudo os de menor dimensão e que se dedicam apenas a esta atividade, possam ter de fechar, até porque o turismo é onde se anuncia a retoma mais lenta.

Apoios. Os operadores estão a recorrer ao layoff, na casa dos 50%, embora muitos optem pela redução parcial de horário de um universo mais vasto de colaboradores para distribuir as perdas de forma mais equitativa. Grupos como a Arriva, dona do Transportes Sul do Tejo, e Barraqueiro, estão no regime do layoff simplificado.

Pescas

Dificuldades. O principal problema neste setor é o encerramento dos principais clientes: os restaurantes e hotéis. Os pescadores não conseguem vender peixe, pouca gente compra peixe fresco para fazer em casa, sublinha ao Observador Luís Mira, secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP).  O preço caiu, muitos nem vão à pesca tão pouco sabem que não conseguem vender. A indústria enfrenta também problemas logísticos: foram suspensas visitas a lotas e portos de pesca e condicionada a entrada de compradores e armadores/pescadores.

Apoios. Em março, foi suspensa por 90 dias a cobrança da taxa de acostagem devida pelas embarcações de pesca. O Governo aprovou uma linha de crédito até 20 milhões de euros, a cinco anos, que permite novos empréstimos e a renegociação de eventuais dívidas, com o pagamento dos respetivos juros pelo Estado. Foi igualmente acelerado o pagamento do Fundo de Compensação Salarial dos Profissionais da Pesca prevendo-se o pagamento no início do mês de abril de 508 candidaturas que envolvem 350 mil euros. Também a nível da União Europeia estão a ser tomada medidas.

Setor automóvel

Restrições. Os stands de venda e oficinas de reparação de automóveis estiveram entre os primeiros estabelecimentos a reabrir esta segunda-feira e e com um reforço significativo da desinfeção de equipamentos e funcionários.

Idas à oficina por marcação e test drives só mesmo se exigidos pelo cliente. Guia oficial para a reabertura no setor automóvel

Os efeitos da pandemia fizeram-se sentir em toda a cadeia de valor do automóvel, desde a produção e venda até à reparação. Com os stands fechados e as pessoas em casa, as vendas de veículos caíram mais de 50% em março e em abril, o trambolhão chegou aos 85%. A reparação automóvel ficou limitada a reparações urgentes e foi um dos segmentos em que houve um maior recurso ao layoff. As duas atividades poderão ser das primeiras a reabrir, mas há muita incerteza sobre se os consumidores vão comprar automóveis com a confiança em baixo.

O regresso ao trabalho na Autoeuropa fez-se com regras

MÁRIO CRUZ/LUSA

Na indústria, com a suspensão da laboração nas principais fábrica do país por várias semanas, o regresso ao trabalho na Autoeuropa, na PSA de Mangualde e na Renault de Cacia, faz-se ainda de forma parcial. A produção automóvel em Portugal caiu 46% em março e a queda será muito mais acentuada em abril, sendo que esta é uma indústria fortemente exportadora.

Apoios. Algumas fabricantes entraram em regime de lay-off, foi o caso da Renault de Cacia e da Mitshubishi do Tramagal. Mas a Autoeuropa, a Toyota e a PSA não o fizeram. A suspensão dos contratos ou redução de horários estenderam-se a outras empresas como a Continental Mabor e a Bosh Car. As associações do setor  ACAP – , AFIA-  ANECRA e ARAN juntaram-se num pedido de plano de apoio específico para o setor automóvel, nomeadamente com a abertura de uma linha de crédito específica, e um plano de incentivos ao abate de veículos em fim de vida, com o objetivo de renovar o parque automóvel e incentivar as compras.

Têxtil e vestuário

Dificuldades. Setores fortemente exportadores, os têxteis e calçado estão também entre os mais afetados pelo arrefecimento da procura internacional. O inquérito realizado pela Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP) indica que mais de 60% das empresas teve uma queda de mais de metade das encomendas no mês de abril. A expetativa é que a situação que se mantenha até junho. As empresas apontam para obstáculos no acesso às matérias-primas, preços mais altos, fecho de mercados e complicações aduaneiras e logísticas. Os países que têm maior impacto são a Itália, a China e a Espanha.

Apoios. Num setor que ainda representa cerca de 150 mil trabalhadores, o recurso ao layoff, total ou parcial, foi a solução adotada em quase 70% das empresas inquiridas pela ATP e a maioria destas prevê continuar nesse regime até junho. Já as moratórias de crédito foram usadas por 35% das empresas e até agora só pouco mais de 20% recorreram às linhas de crédito. Mas o inquérito revela que as empresas estão insatisfeitas com os apoios concedidos pelo Estado porque se focam no aumento do endividamento. O único instrumento considerado eficaz é mesmo o layoff.

Agricultura

Dificuldades. A menor procura provocou uma baixa dos preços de vários produtos que tinham como destino os restaurantes, cafés e os hotéis. Também se sentem quebras nas exportações porque, como sublinha Luís Mira da CAP, “não há nenhum país no mundo que infelizmente não esteja nesta situação. os hotéis e restaurantes em todo o mundo estão fechados”. Há todo um consumo que deixou de existir. “De repente os produtos que eram exportados pelos franceses, por toda a UE para outros países também caíram, esse produto vai entrar no mercado interno. E a natureza tem um pormenor que uma fábrica não tem, é que não tem nenhum botão para desligar. As vinhas continuam a produzir, as macieiras continuam a ter as mesmas maçãs”, sublinha Luís Mira.

Época da cereja pode ser penalizada por falta de mão de obra

ANTÓNIO JOSÉ/LUSA

No vinho já há quebras de encomendas na casa dos 50%, e os brancos (de consumo mais imediato) estão a ressentir-se mais. Mas o problema é geral e afeta desde a laranja, até à carne ou o queijo. Uma coisa são quedas de preços, mas há produtos perecíveis que não estão a ser escoados, alguns podem até ser destruído (hortícolas) ou até dados. Luís Mira refere o caso dos frutos vermelhos que estão a ser entregues em bancos alimentares e instituições, num programa que é financiado pela União Europeia.

Outra grande dificuldade do setor é a falta mão-de-obra que vinha de países estrangeiros ou mesmo a que existia cá dentro movimentava-se muito de umas zonas para as outras e agora há restrições na mobilidade, numa altura em que se aproxima a época de colheita das cerejas.

A pandemia contagiou as vendas, mas não parou a indústria. No vinho também se contra-ataca

Apoios. O Ministério da Agricultura adiantou pagamentos de 60 milhões de euros no âmbito do PDR2020 (Programa de Desenvolvimento Rural 2014-2020), sobretudo para apoio a frutas e hortícolas e do programa para o  setor vitivinícola. A União Europeia anunciou que ia suportar os custos da armazenagem privada de laticínios (leite desnatado em pó, manteiga e queijo) e carne (bovino, ovino e caprino), o que permite aos produtores enfrentarem o excesso de oferta no mercado com a retirada de produtos entre um período mínimo de dois a três meses e um máximo de cinco a seis meses, o que possibilitará um reequilíbrio do mercado a longo prazo.

Indústria exportadora

Dificuldades. Ainda não existe um retrato claro sobre os efeitos da crise nas exportações, mas advinham-se muito grandes, dada a travagem a fundo do comércio mundial e o fecho ou redução de atividades nos parceiros comerciais de Portugal. Na Europa, mas não só. Já se percebeu que as implicações na balança exportadora dos serviços, onde entra o turismo e a TAP, serão muito pesadas.

Um inquérito conduzido logo no início da pandemia pela Confederação Empresarial de Portugal (CIP) revelava que quase todos os setores da atividade transformadora mostravam preocupação: fosse pelo acesso a matérias-primas, por ruturas na cadeia de abastecimento e logística, mas sobretudo pela queda da procura. E já temos notícias de grandes indústrias nacionais, entre as quais as principais empresas exportadoras, de portas fechadas.

Depósitos de combustíveis de Aveiras cheios

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Depois de parar a refinaria de Matosinhos logo nas primeiras semanas de abril, a Galp anunciou que vai também cessar a produção de refinados em Sines devido à queda de procura em Portugal e fora do país e ao esgotamento da capacidade de armazenamento de combustíveis. A paragem terá consequências no saldo exportador português, já que as vendas de gasolina para os Estados Unidos pararam.

Outras campeãs da exportação pararam ou reduziram a produção. A Autoeuropa retomou a produção um mês depois de parar, mas com um nível inferior. A Navigator vai cortar em 15% a produção de papel UWF, com efeitos imediatos, devido à quebra nas encomendas nas últimas semanas. Outra marca de referência da indústria portuguesa, a Vista Alegre, aplicou o layoff em algumas das suas subsidiárias por causa da queda de procura.

Apoios. Para além do recurso ao layoff, foram tomadas algumas medidas de reforços das linhas de seguro de crédito, com garantia do Estado, para exportações, nomeadamente no setor metalúrgico e moldes, obras no exterior e créditos à exportação de curto prazo.

Com Beatriz Ferreira

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