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Alimentação escolar. Quanto vale este negócio?

A Uniself, que este ano ganhou a exploração de 602 refeitórios escolares de todo o país, existe desde 1981 e já celebrou contratos no valor de mais de 310 milhões de euros com o Estado.

Uniself, Gertal, Itau, Eurest, ICA. São estas as maiores empresas de restauração coletiva a operar em Portugal e têm alternado nas últimas décadas nos refeitórios das escolas públicas — e não só. Estão literalmente em todo o lado: gerem as cantinas de escolas, universidades, hospitais, empresas, forças armadas e de segurança, serviços prisionais, instituições particulares de solidariedade social e até de serviços da administração pública.

O setor é gigante e o negócio milionário, explicam as conclusões da 1ª Convenção de Alimentação Coletiva, realizada em outubro passado, em Lisboa: ao todo, são 300 milhões de refeições servidas todos os anos nas 16 mil cantinas e refeitórios do país e 62% delas são asseguradas por empresas de restauração coletiva. Em 2009 a Autoridade da Concorrência (AdC) chegou a acusar sete empresas de restauração coletiva (Gertal, Itau, Eurest, Uniself, ICA, Nordigal e Sodexo) por concertação de preços e troca de informações comerciais sensíveis. A multa ascendia a mais de 14 milhões de euros para as empresas e mais de 20 mil euros para os cinco administradores. Mas o processo viria a terminar em 2015, tendo sido declarado prescrito pelo Tribunal da Concorrência, Supervisão e Regulação.

Investigação. O que está a falhar nas cantinas escolares?

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No que diz respeito apenas aos refeitórios de escolas de 2.º e 3.º ciclos e secundárias em Portugal Continental, a Uniself foi a empresa que este ano (e até 2020) mais ganhou. Ao todo, a empresa, com sede em São Julião do Tojal e capital social de 2.501.500 euros, celebrou com a Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEsTE) três contratos, no valor de 108.389.418,44 euros (sem IVA). A ICA, com capital social de 500 mil euros e sede no Seixal, ficou com as cantinas da zona Centro: 39.546.316,32 euros foi por quanto foi fechado o negócio.

De acordo com o portal Base, que reúne a informação relativa aos contratos públicos, a Uniself, fundada em 1981, celebrou até à data 738 contratos no valor total de 310.135.617,28 euros com o Estado. A ICA, por seu turno, celebrou contratos públicos no valor de 76.215.170,30 euros. Parte do grupo Nordigal, que detém também as sociedades agrícolas Teoflor e Herdade do Rolão e uma linha de refeições prontas, a ICA existe desde 1984. Contactada pelo Observador, a empresa mostrou-se indisponível para prestar declarações.

O que é que o Estado exige às empresas que servem comida aos alunos?

Já Mateus da Silva Alves, presidente do conselho de administração da Uniself, explicou ao Observador, por escrito, que “a empresa tem crescido de forma sustentada em média de 6% nos últimos 10 anos”. E que, apesar de trabalhar desde a fundação no negócio da alimentação escolar e de servir, em média, 200 mil refeições por dia nesse âmbito — 3,5 milhões por mês –, não se esgota aí o negócio da empresa. A Uniself, que tem mais de 3.500 colaboradores (60% deles efetivos, os restantes “a prazo”), tem ainda uma fábrica, em Loures, “dedicada à produção de produtos pasteurizados e ultracongelados”, e também gere refeitórios e cantinas de “hospitais, organismos oficiais e empresas privadas”.

"Estamos a analisar as reclamações e a proceder, se for caso disso, às consequentes correções, porque trabalhamos diariamente para que este número diminua."
Mateus da Silva Alves, presidente do conselho de administração da Uniself

Para além dos 602 refeitórios das escolas dos 2.º e 3.º ciclos e secundário, a Uniself assegura ainda a alimentação servida em 230 escolas do 1.º ciclo, realçou Mateus da Silva Alves. “A alimentação escolar é um eixo estratégico e uma das áreas de maior crescimento este ano, performance que nos permitiu consubstanciar o objetivo de nos afirmarmos como um dos prestadores de referência neste âmbito”, completou o responsável pela empresa.

Confrontado com as alegações de que a Uniself teria sido apanhada de surpresa ao serem-lhe adjudicadas as cantinas de tantas escolas de uma só vez, Mateus da Silva Alves garantiu que não é de todo assim: “A Uniself é uma empresa com 36 anos de história e de experiência neste setor, com uma posição sedimentada em diferentes áreas – tanto no setor público como no privado. Estamos preparados porque funcionamos numa das melhores sedes sociais do mercado da restauração social, bem como dentro de uma das melhores plataformas logísticas, com grande capacidade”.

“Se a nós nos custa comer, o que fará às criancinhas?” O que dizem os funcionários das cantinas

Garantiu ainda que, ao contrário do que dizem funcionários da empresa contactados pelo Observador, não há neste momento nenhuma pessoa a fazer menos de 20 horas de trabalho por semana; e contabilizou as queixas que a Uniself já recebeu desde o início do ano a propósito das refeições escolares — 163. “Estamos a analisar as reclamações e a proceder, se for caso disso, às consequentes correções, porque trabalhamos diariamente para que este número diminua”, respondeu por escrito ao Observador.

"Só selecionamos fornecedores que satisfazem todos os requisitos de segurança e qualidade."
Mateus da Silva Alves, presidente do conselho de administração da Uniself

Sobre os fornecedores a que empresa recorre, a origem dos produtos que utiliza e a forma como consegue preparar e servir refeições completas por 1,26 euros, no máximo (o Estado paga a esta empresa 1,18€ por almoço na zona Norte; 1,25€ no Alentejo e 1,26€ em Lisboa e Vale do Tejo), Mateus da Silva Alves foi mais evasivo.

Pode ler parte da entrevista feita por escrito a Mateus Alves da Silva, presidente do conselho de administração da Uniself:

Do valor total que é pago por refeição, quanto é que é efetivamente gasto com a comida? E o restante (pessoal, transportes, equipamento, etc)? Tendo em conta o valor tão reduzido que é pago à Uniself por refeição e as despesas que a empresa tem, como é possível garantir um almoço equilibrado e de acordo com as regras impostas pelo Estado?
A restauração coletiva é uma atividade que assenta na economia de escala, ou seja, de grandes quantidades que permitem obter preços substancialmente mais baixos dos que são praticados no mercado. A dimensão da nossa empresa, que opera há mais de 36 anos no setor, e a nossa capacidade de compra, quer nos mercados nacionais quer nos internacionais, permite-nos apresentar valores muito competitivos para soluções equilibradas e saudáveis previstas no caderno de encargos.

Quais são os principais fornecedores da Uniself? Os fornecedores que abastecem as escolas são os mesmos que abastecem as restantes áreas de negócio da empresa?
Só selecionamos fornecedores que satisfazem todos os requisitos de segurança e qualidade.

São apenas fornecedores portugueses ou trabalham também com fornecedores estrangeiros? Se sim, de que países?
Sempre que possível privilegiamos os produtores nacionais de qualidade, contudo, para dar resposta a todas as necessidades também temos fornecedores fora de Portugal, sobretudo da CEE. Em todos os casos, são selecionados através do estabelecimento de exigências precisas a que cada artigo deve obedecer, cumprindo todas as normas de segurança alimentar.

"Sempre que possível privilegiamos os produtores nacionais de qualidade, contudo para dar resposta a todas as necessidades também temos fornecedores fora de Portugal, sobretudo da CEE."
Mateus da Silva Alves, presidente do conselho de administração da Uniself

E em relação aos produtos? Quais os países de origem?
A Uniself e a sua equipa de qualidade é cada vez mais exigente, garantindo que todos os produtos estão em conformidade com padrões muito elevados de segurança e de qualidade, a fim de proteger e garantir a saúde dos consumidores. Tais padrões são frequentemente mais exigentes do que a própria legislação europeia atual que regulamenta tais matérias, assegurando, igualmente, a segurança máxima para crianças e adultos.

O fornecimento de refeições escolares dá lucro à empresa? De quanto?
A Uniself não encara o lucro de forma convencional, reinvestindo uma grande parte dos seus proveitos em inovação, qualidade e tecnologia para melhorar e consolidar a sua posição no setor. Exemplo disso foi o enorme investimento numa plataforma de logística com instalações de altíssima qualidade, criada para responder a todos os contratos firmados. A nossa visão de crescimento está intimamente ligada à criação de valor.

Os números que ajudam a entender a polémica

Como avaliam os casos que têm sido noticiados de pouca comida nos pratos entregues às crianças e de comida por confecionar? Foram aplicadas sanções aos funcionários envolvidos?
Estes casos surpreenderam a Uniself, uma vez que temos implementados sistemas de controlo dentro da cadeia de produção, que são essenciais para assegurar a conformidade das especificações da produção das refeições e que evitam que esse tipo de situações sucedam. Por exemplo, existem sempre inspetores e coordenadores de zona, que são chefiados por um Diretor de Divisão para controlo de ocorrências. Estamos a analisar as reclamações e a proceder, se for caso disso, às consequentes correções.

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