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Através da marca Bisavó, Brune e César quiseram relançar a arte de esmaltar cores em ouro de 19 quilates
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Através da marca Bisavó, Brune e César quiseram relançar a arte de esmaltar cores em ouro de 19 quilates

© Mariana Alvarez Cortes

Através da marca Bisavó, Brune e César quiseram relançar a arte de esmaltar cores em ouro de 19 quilates

© Mariana Alvarez Cortes

César e Brune tiram o pó às jóias de família

Não têm medo de misturar referências e são fãs da cor, do sentido de humor e de objetos com história. Um universo que se vê tanto nas medalhas da marca Bisavó como na casa que remodelaram em Lisboa.

Há quase uma década, antes de se casarem, resolveram fazer aquilo que chamam de “digressão mundial”. Uma volta ao mundo, durante um ano, que acabou por voltar também tudo o resto de pernas para o ar. “Costumo dizer que temos uma vida anterior e outra que começámos aqui em Lisboa”, conta Brune de La Guerrande, de 41 anos. César Vilaceque, de 42, faz parte do plural e juntos formam a dupla por trás da marca de medalhas Bisavó, lançada há três anos em Portugal.

Os dois conheceram-se em Paris, na escola de arte Penninghen, e na tal vida anterior também trabalhavam juntos. “Fazíamos design de espaços, sobretudo de restaurantes, e tratávamos do projeto global, desde a cadeira ao logótipo”, conta Brune. A mão com jeito para o desenho é algo que mantêm, e vários dos móveis da casa que remodelaram entretanto em Lisboa foram desenhados pelo casal e produzidos aqui. É o caso da mesa da cozinha, em ferro e azulejos, ou da estante colorida da sala, inspirada no trabalho da arquiteta e designer Charlotte Perriand e um dos vários exemplos da predileção de ambos pelas cores primárias – vermelho, amarelo e azul.

Na “digressão mundial”, como dizem a brincar, perceberam várias coisas sérias. Em primeiro lugar, que não queriam voltar “ao ritmo louco de Paris”. “Eu estava grávida de gémeos e queríamos desacelerar e fazer coisas com as mãos”, conta Brune. “A viagem fez-nos perceber que havia outras formas de vida e aproximou-nos também dos artesãos locais e das suas histórias, porque em cada país encontrámos objetos emblemáticos, ou até mesmo sagrados, e gostávamos de ir conhecer quem os tinha feito.”

Muitos dos objetos vieram da volta ao mundo que o casal fez antes de casar e de feiras ou lojas em segunda mão © Mariana Alvarez Cortes

À procura de uma cidade perto do mar, alugaram uma caravana e desceram a costa do Atlântico durante três meses, até Lisboa. Os dois gémeos – entretanto tiveram mais um rapaz – tinham um ano e a caravana ainda serviu de escritório para alguns projetos de restaurantes feitos à distância, de computador portátil no colo, mas não por muito tempo.

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“Um dia, numa feira de antiguidades em Lisboa, descobri uma medalha de ouro com letras coloridas a dizer ‘Deus te guie’”, conta Brune, “e fiquei fascinada. Foi como se tivéssemos encontrado o nosso objeto sagrado.”

Como na grande viagem, quiseram encontrar o autor da medalha, ou um artesão que fizesse a mesma combinação de ouro e esmalte de vidro colorido, mas não foi fácil. “Estivemos mais de um ano à procura e percebemos que já não havia muitos. Isto ainda nos motivou mais a querer tirar o pó de uma arte que estava a desaparecer.”

A marca Bisavó nasceu dessa motivação, com um nome que pretende evocar, desde logo, a “ideia de transmissão do saber fazer”, mas não só: “É um nome que simboliza também a sabedoria, o amor e os objetos em ouro que passam de geração em geração – as joias de família que herdamos das nossas mães e avós”, diz Brune. O casal começou com cinco medalhas, em 2019, e em três anos o número não tem parado de crescer, com a chegada de novos desenhos e das iniciais que podem ser personalizadas, mas também de outras peças como os amuletos e a aliança “sim!”. Tudo feito em Portugal, entre Lisboa e o Norte do país, à exceção do esmalte, que vem de Limoges, em França – conhecida como a capital do esmalte e da porcelana –, para “conseguir ter cores mais vivas”.

Brune e César trabalham em casa, com escritórios lado a lado que podem ser separados por uma porta de correr. O de Brune comunica também com a cozinha © Mariana Alvarez Cortes

“Ter cor no ouro não é comum, e disseram-nos que a marca não ia funcionar, porque fazemos um objeto híbrido, entre a ourivesaria e a bijuteria de fantasia, mas foi precisamente a combinação do ouro e do esmalte colorido que nos fascinou”, diz César. Com um currículo que inclui a direção de arte de revistas do grupo Condé Nast em França, é o designer gráfico que desenvolve os desenhos que vão ser gravados nas medalhas em ouro de 19 quilates, reduzindo-os à superfície redonda de 11 milímetros – “bom para as cataratas”, ri-se Brune. Gravados depois por um ourives com uma lupa própria, esses desenhos podem incluir figuras de tarot, símbolos religiosos como a Virgem Maria e a estrela de David, colaborações com ilustradores (como no caso da medalha “Luz Boa”) e ainda expressões em francês e em português, como “fille à papá” (menina do papá) e “dá-me um beijo”.

“A Bisavó é uma mistura de nós os dois e a ideia é ter humor, é divertirmo-nos, até nas fotografias, onde misturamos a marca com os nossos objetos de viagens”, diz César. Na mesma lógica, o casal incentiva que as medalhas sejam usadas não apenas ao pescoço, mas também em pulseiras ou até penduradas em argolas, nas orelhas, por “crianças, adolescentes, mães, padrinhos e avós”, como declarações de amor ou proteção espiritual – sendo a espiritualidade um conceito muito amplo aos olhos da dupla. “Para incentivar uma forma diferente de as usar, cada medalha traz um puja, um fio vermelho tradicional da Índia”, explica Brune, ela própria com origens em Goa e Portugal. “É também uma forma de misturar culturas e materiais, neste caso o algodão e o ouro.”

Na casa que a dupla remodelou há três anos, em Santa Isabel, misturar é também a palavra de ordem. Debaixo dos tetos trabalhados de um prédio antigo convivem peças em segunda mão e outras mais recentes (de marcas como Hay e Vista Alegre), livros e ilustrações, recordações dos vários cantos do mundo que visitaram, pinturas feitas diretamente nas paredes e objetos produzidos com as próprias mãos. Também ceramista, Brune tem várias das suas cruzes em cerâmica penduradas em casa – em forma de cacto ou cobertas de flores, são reinterpretações originais que fazem companhia à coleção de santas que ocupa o escritório.

A cozinha é a divisão mais espaçosa da casa e incluiu também uma zona de estar cheia de plantas. Muitas vezes, transforma-se em estúdio fotográfico e em ateliê © Mariana Alvarez Cortes

Como ambos trabalham em casa, é comum que a cozinha se transforme também em ateliê para lacrar as embalagens Bisavó, ou em estúdio fotográfico para a página de Instagram. E que cozinha. Resultado da união de três salas pequenas, é a divisão mais espaçosa da casa e também a mais polivalente. Com um pé direito generoso e as traves do telhado à mostra, tem quadros até ao tecto, uma zona de estar com um sofá e um cadeirão de verga rodeados de plantas, uma lareira alta (existe também uma salamandra na sala) e até uma bola de espelhos. “Nada aqui é minimal”, ri-se César, sentado numa das cadeiras vermelhas Arcalo, iguais às das nossas esplanadas.

Entre as principais alterações feitas na remodelação do apartamento, há três anos, conta-se ainda a casa de banho principal, que mudou de sítio para poder ser ampliada, e a escada que dá acesso ao sótão – o mundo encantado dos três filhos. Lá em cima, num espaço todo pintado de branco e com janelas tipo mansarda, as três camas foram desenhadas “em forma de cabana, para cada um ter privacidade”, e os armários da parede escondem uma casa de banho cheia de pormenores coloridos. Com um tapete em forma de tigre e uma mesa redonda, o centro da divisão foi deixado propositadamente livre para as brincadeiras.

Numa mala/expositor estão as medalhas e outras joias já lançadas pela marca, incluindo o fio que dá para pendurar várias medalhas e até fazer a árvore genealógica da família. © Mariana Alvarez Cortes

Nesta casa cheia de cor e de objetos únicos, também há espaço para retratos dos antepassados a preto e branco, junto à cabeceira do quarto do casal. Por perto fica a mala-expositor com toda a coleção de joias já lançadas pela Bisavó – incluindo o fio com múltiplos anéis, que dá para prender várias medalhas e até fazer uma árvore genealógica da família, com datas e iniciais personalizadas.

O melhor ponto de venda é a loja online da marca e mais recentemente a Ourivesaria da Moda, na Baixa de Lisboa. “O meio do ouro é bastante fechado e foi nesta ourivesaria da Rua da Prata que nos ajudaram a encontrar um artesão. Ficámos amigos”, conta Brune. “É engraçado que quisemos modernizar uma arte antiga e agora ela voltou a ser introduzida no meio de onde veio.”

Este artigo foi originalmente publicado na revista Observador Lifestyle n.º18, lançada em dezembro de 2022.

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