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Russia Attacks Kyiv With Drones
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A Rússia atacou Kiev e outras cidades ucranianas com drones kamikaze

Global Images Ukraine via Getty

A Rússia atacou Kiev e outras cidades ucranianas com drones kamikaze

Global Images Ukraine via Getty

Como se cria um escudo aéreo sobre a Ucrânia? A resposta vem da América, da Europa e de Israel

Zelensky pediu aos sete países mais industrializados do mundo um escudo aéreo para a Ucrânia. IRIS-T e NASAMS são as ofertas do Ocidente, mas Kiev sonha com o Iron Dome de Israel.

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Chamam-lhe o míssil de cruzeiro do homem pobre. É fácil perceber porquê: um drone iraniano Shahed-136 custa cerca de 20 mil euros, enquanto que um míssil de cruzeiro Tomahawk passa os dois milhões. As secretas do Ocidente (e a Ucrânia) apontam para que o Kremlin tenha comprado 2.400 drones kamikazes a Teerão, o que explica a chuva de Shaheds que têm caído sobre Kiev e outras cidades ucranianas. São precisos, pequenos e obrigam o inimigo a gastar munição cara na tentativa de se defender. Os ucranianos têm tentado (e em alguns casos conseguido) abater estes veículos aéreos não tripulados com tiros de metralhadora.

À medida que os zunidos no céu aumentam, Volodymyr Zelensky sabe que tem poucas hipóteses de se defender deste tipo de ataque com o arsenal militar disponível. Por isso, na última reunião do G7, em que o Presidente ucraniano participou virtualmente a 11 de outubro, Zelensky pediu aos sete países mais industrializados do mundo um escudo aéreo para a Ucrânia.

Zelensky pede aos aliados do G7 a instalação de um escudo aéreo

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Há várias opções, umas a caminho, outras a ser fabricadas e outras que não passam de sonhos do Presidente ucraniano que dificilmente se realizarão. Da Alemanha, chegou o primeiro sistema antiaéreo — o IRIS-T — que irá funcionar em simultâneo com o S-300 da era soviética, que a Ucrânia usa desde o princípio da guerra. Dos Estados Unidos, a oferta é de NASAMS, parte deles ainda em construção. E, claro, o Iron Dome de Israel é um desejo antigo de Zelensky, mas desde o início da invasão russa que Telavive se recusa a vender o sistema antiaéreo que usa na Faixa de Gaza para abater drones palestinianos.

S-300, o sistema de defesa que veio do frio

O sistema S-300 foi desenvolvido para defesa contra ataques aéreos e mísseis de cruzeiro. Tem sido aperfeiçoado ao longo dos anos para, por exemplo, intercetar mísseis balísticos. É considerado um dos sistemas de mísseis antiaéreos mais potentes da atualidade.

Russia Commemorates 70th Anniversary Of Victory Day

Handout

  • Origem: União Soviética

  • Fabricante: MZiK

  • Variações: S-300V, S-300P, S-300F

“Quando a Ucrânia receber uma quantidade suficiente de sistemas de defesa aérea modernos e eficazes, o elemento chave do terror da Rússia – ataques com rockets – deixará de funcionar.” As palavras de Volodymyr Zelensky foram dirigidas aos líderes do G7, e o objetivo não era diferente daquilo que costumam ser os discursos do chefe de Estado ucraniano: lembrar que o país precisa de mais e melhor equipamento militar para travar a Rússia. Neste momento, a prioridade são os sistemas de defesa antiaéreos. 

A questão não é tanto se a Ucrânia tem bons sistemas de defesa aérea, mas se os que tem são em número suficiente para a dimensão do país. E, claro, se estão adequados à ofensiva russa. Cada sistema é projetado para defesa de projéteis diferentes e tentar abater um drone com uma arma desenhada para destruir um míssil intercontinental simplesmente não vai funcionar. Quando se fala em diferentes mísseis, por exemplo, a velocidade a que se deslocam é fundamental para o poder de destruição, tornando-os também mais difíceis de abater — um Patriot desloca-se a 3.000 km/h, um Tomahawh a 880 km/h e um Scud a 800 km/h.

O S-300, desenvolvido pela União Soviética e produzido em série a partir de 1975, é visto como um dos mais poderosos sistemas de mísseis antiaéreos. Vários países o usam, incluindo na própria NATO, e é aquele que a Ucrânia usa desde 24 de fevereiro. O mesmo se aplica à Rússia.

Capaz de abater mísseis de cruzeiro e aeronaves, tem uma distância de empenhamento de 400 a 500 km de alcance (o raio em volta da unidade a que pode abater um inimigo). Os seus mísseis são pesados, cerca de 3.800 quilos, e podem ser artilhados com ogiva convencional ou nuclear.

No entanto, num momento em que a Rússia se vira para o uso de drones Shahed, muito baratos e que podem ser disparados como um enxame (confundindo os sistemas mais sofisticados), o S-300 não é adequado para lidar com este problema, quer pelas suas características quer pelos seus custos. O valor de mercado ronda os 115 milhões de euros, com cada míssil a custar um milhão.

O exército ucraniano tem também disponíveis sistemas de médio alcance, como o SA-11 Buk, que serve para abater bombas inteligentes, mísseis de cruzeiro, e aeronaves de asa fixa e rotativa.

Justin Bronk, do think tank Rusi — Royal United Services Institute, sediado em Londres, afirma que é tudo uma questão de definir prioridades. “No final, trata-se de equilibrar as prioridades entre a proteção de áreas civis ou os soldados que lutam nas linhas da frente”, disse ao Financial Times, acrescentando ser ligeiramente exagerado “dizer que não há sistemas de defesa aérea suficientes no mundo para fornecer proteção total a toda a Ucrânia contra ataques aéreos.”

IRIS-T, tão novo, tão novo que ainda não foi usado

InfraRed Imaging System — Tail. O nome do IRIS-T é auto explicativo: é um míssil de médio alcance que usa infravermelhos para se guiar. Existe nas versões ar-ar e terra-ar (estas surgiram mais tarde, a mais recente em 2022). Eficaz contra mísseis de cruzeiro lançados do ar, mas não contra grandes mísseis balísticos. 

Diehl - Balance press conference

picture alliance via Getty Image

  • Tipo: Míssil ar-ar de curto alcance

  • Origem: ​​Equipa liderada pela Alemanha em conjunto com Itália, Suécia, Grécia, Noruega e Espanha

  • Fabricante: Diehl Defense, Avio Spa, Litton Italian, Leonardo Spa

O primeiro chegou, faltam três para a promessa ser cumprida. A Alemanha garantiu que iria enviar quatro sistemas IRIS-T à Ucrânia e, embora com atraso, o primeiro chegou ao destinatário, como anunciou o ministro da Defesa ucraniano. “É uma nova era que está a começar na defesa aérea”, escreveu Oleksii Reznikov, referindo-se ao IRIS, mas também aos NASAMS que estão a chegar dos Estados Unidos.

Ucrânia. Alemanha entrega primeiro sistema de defesa antiaérea Iris-T

“Isto é apenas o começo. E precisamos de mais. Não há dúvida de que a Rússia é um estado terrorista. Há um imperativo moral de proteger o céu ucraniano para salvar o nosso povo”, escreveu o ministro ucraniano na sua conta oficial de Twitter.

O IRIS-T, um projeto alemão que conta com a participação de vários países, faz parte do Sistema de Defesa Aérea de Médio/Estendido Alcance da NATO, desenvolvido para substituir o sistema Patriot. E é tão novo —apesar de ter sido desenvolvido nos anos 1990 — que ainda não foi testado oficialmente em ambiente de combate real. Os testes mais recentes, em ambiente controlado, são de 2021. Aliás, o exército alemão ainda não adquiriu nenhuma unidade, embora a Suécia e a Noruega já tenham estes sistemas na sua posse (versões mais antigas).

O sistema, tal como o NASAMS, é complexo. São necessários três veículos: um lançador de mísseis, um radar e um radar de controle de fogo, com logística e suporte integrados. Através da tecnologia de infravermelhos, os mísseis identificam os alvos a abater. A distância de empenhamento é semelhante ao sistema norte-americano, capaz de abater um inimigo num raio de 40 quilómetros e até 20 quilómetros de altitude. Foram pensados para combater aeronaves tripuladas, não tripuladas, mísseis balísticos e de cruzeiro, com ogivas convencionais e nucleares. Cada unidade custa cerca de 140 milhões de euros.

No entanto, o IRIS-T não será obrigatoriamente “a mudança de jogo” que os ucranianos pretendem, defendeu Rafael Loss, especialista em defesa do Conselho Europeu para as Relações Internacionais. Apesar disso, defende que à medida que Zelensky consegue sistemas mais sofisticados, “será mais difícil para os russos levarem a cabo ataques de mísseis em massa e há uma probabilidade maior de que menos civis e menos alvos militares sejam atingidos”, disse em declarações à Deutsche Welle.

NASAMS, o defensor da Casa Branca

National Advanced Surface-to-Air Missile System. Este sistema de defesa aérea de curto a médio alcance funciona em rede. Usado contra veículos aéreos não tripulados (UAV, vulgo drone), helicópteros, mísseis de cruzeiro, veículos aéreos de combate não tripulados e aeronaves de asa fixa tripuladas.

Dutch Military Install Security Measures Ahead Of Nuclear Summit

Getty Images

  • Tipo: Sistema de mísseis terra-ar

  • Origem: Noruega e Estados Unidos

  • Fabricante: Kongsberg Defense & Aerospace e Raytheon Missiles & Defense

A promessa foi feita em julho. Os Estados Unidos iriam enviar vários sistemas de defesa antiaéreos à Ucrânia, neste caso, o NASAMS. A primeira tranche de ajuda seria quase imediata, prevendo-se, na altura, que dois sistemas estariam em breve a caminho de Kiev. Os restantes demorariam anos a chegar, já que ainda tinham de ser produzidos, e faziam parte de uma lógica de defesa a longo prazo.

A 25 de setembro, Zelensky confirmava que os sofisticados sistemas de defesa aérea estavam a operar no terreno. “Precisamos de que os Estados Unidos mostrem liderança e deem à Ucrânia sistemas de defesa aérea. Quero agradecer ao Presidente Biden pela decisão positiva que já foi tomada”, afirmou o Presidente da Ucrânia, referindo-se ao NASAM.

O sistema tem uma distância de empenhamento de 30 quilómetros para o NASAMS 2 e de 50 para a versão mais recente, o NASAMS 3 (ou seja, um raio de 30 km a partir do sítio onde está o sistema). Em termos de altitude, alcança os 32 quilómetros. Cada lançador pode ter até seis mísseis e cada unidade de defesa por ter um máximo de 12 lançadores (72 mísseis no total).

A fé que os norte-americanos depositam neste sistema, complexo e que funciona em rede, é grande, a ponto de ser usado para defender a Casa Branca. O sistema inclui um posto de comando, sensores, sistema de radar e munições.

Como qualquer outro sistema, o NASAM não é o Santo Graal da defesa antiaérea. “Não existe um sistema de armas de bala de prata que seja melhor para usar contra mísseis de cruzeiro”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, recordando que a Ucrânia possui uma “defesa aérea em camadas” que inclui, por exemplo, Stingers de curto alcance.

Vijainder Thakur, analista militar, acredita que o NASAM levará a uma maior perda de mísseis de cruzeiros russos, levando o Kremlin a optar, cada vez mais, por drones suicidas, escreve num artigo de opinião no Eurasian Times. 

E deixa dois alertas: “Como o NASAMS é um sistema e infraestrutura de curto alcance, os alvos de comando e comunicação são muitos, seria necessário um número considerável” de sistemas para garantir a segurança que a Ucrânia procura. Ou seja, não basta um. Para que o escudo aéreo seja significativo, é preciso ter várias unidades, de preferência com alguma sobreposição para garantir que todo o céu está debaixo de olho.

“De certa forma, a venda de NASAMS é uma armadilha dos EUA. O sistema é muito atraente, mas caro. Uma vez que a Ucrânia invista no sistema, terá de continuar a aumentar o investimento para garantir mais e mais ativos.” Por isso mesmo, Vijainder Thakur acredita que estes sistemas serão usados para proteger infraestruturas onde estejam membros do Governo ucraniano e importantes centros de comandos.

O NASAM — que usa o míssil Amraam, entre outros canhões e mísseis — é fruto de uma parceria entre a empresa norueguesa Kongsberg Defense and Aerospace e a norte-americana Raytheon. O preço estimado de uma bateria é de 23 milhões de euros, enquanto que o de um míssil Amraam é de 1,2 milhões.

Iron Dome, a arma israelita que abate drones do Hamas

O objetivo é destruir rockets e também projéteis de artilharia num espaço de curto alcance. Tem também um sistema C-RAM (sigla para counter rocket, artillery, and mortar) que permite detetar e abater os projéteis no ar.

PALESTINIAN-ISRAEL-CONFLICT

AFP via Getty Images

  • Tipo: C-RAM e sistema de defesa aérea de curto alcance

  • Origem: Israel

  • Fabricante: Rafael Advanced Defense Systems, Israel Aerospace Industries

Foi na primavera, quando se dirigiu ao Parlamento israelita, que Zelensky fez o apelo: “Toda a gente sabe que os vossos sistemas de defesa antimísseis são os melhores.” O pedido caiu em saco roto e, sete meses depois, Israel não mostra vontade de vender o seu sistema de defesa aérea, o Iron Dome, à Ucrânia.

O motivo para esta hesitação é, segundo analistas internacionais, a relação que o governo de Telavive mantém (e quer manter) com a Rússia. O conflito na Síria está na origem de tudo: o Presidente russo nunca interferiu quando o exército israelita atacou apoiantes do regime do Irão, acusados por Israel de fornecer armas à Síria e ao Líbano. No entanto, a entrada dos drones iranianos na guerra da Ucrânia pode levar Israel a ponderar outros equilíbrios de força.

Guerra na Ucrânia alastra-se a mais países. Com o Irão a entrar no jogo, o que pode mudar?

“É apenas medo de Putin”, disse Yossi Melman, antigo correspondente do jornal Haaretz, especialista em inteligência e assuntos estratégicos, citado pelo Washington Post. “É uma pena. Pregamos ao mundo sobre Humanidade, sobre o certo e o errado, mas quando está em jogo a nossa posição internacional, apenas olhamos para as preocupações de segurança mais mesquinhas.”

Na Faixa de Gaza, o Iron Dome é usado para intercetar os rockets do Hamas, grupo extremista palestiniano. A taxa de sucesso a abater projéteis é de 90%, segundo as autoridades israelitas.

Na semana passada, Vitali Klitschko queixava-se da posição de Telavive. “Israel tem uma grande experiência com defesa aérea e com o Iron Dome, e nós precisamos exatamente do mesmo sistema na nossa cidade”, afirmava o autarca de Kiev numa entrevista. “Há muito tempo que falamos com eles sobre isto. Essas discussões não foram bem sucedidas.”

Daquela região do Médio Oriente, só se ouve silêncio. Fontes do Washington Post garantem que o sistema continuará inacessível aos ucranianos, embora um alto funcionário israelita tenha afirmado ao New York Times que o seu governo está a passar informações básicas sobre os drones iranianos à equipa de Zelensky.

Como funciona? Durante três dias de agosto, Israel terá abatido 97% dos 470 rockets disparados na Faixa de Gaza, segundo o exército israelita. É assim que funciona o sistema: através de radares, os intercetores são dirigidos nos céus para atingirem e explodirem os rockets dos inimigos. No entanto, o sistema de defesa antiaéreo foi desenhado para projéteis mais pequenos, não sendo eficaz contra mísseis de maior porte.

“Não sei o que aconteceu com Israel”, queixou-se Zelensky, citado pelo canal francês TV5 (23 de setembro). “Estou em choque, porque não consigo perceber por que motivo não nos puderam dar defesas aéreas.”

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