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Despedimentos. Em poucos meses, as empresas do setor tecnológico começaram a ser notícia pelo mesmo motivo. Contando só os anúncios da Meta, Amazon, Microsoft e Alphabet, há 51 mil pessoas afastadas destas companhias. Mas o número cresce se entrarem outras tecnológicas, como Salesforce (8 mil pessoas), IBM (3.900 pessoas) ou SAP (3 mil pessoas).
Ao longo do ano passado, já era visível uma mudança de comportamento nas tecnológicas, com muitos CEO a recorrerem à mesma palavra para comentar o contexto de negócio — desafiante. Os comentários passaram a ser polvilhados com táticas como o congelamento de contratações e de corte de custos para enfrentar fatores como a inflação, a pressão das taxas de juro ou as consequências da guerra na Europa. Mas entre parar de contratar e passar a despedir vai uma longa diferença. No espaço de meses, a pressão subiu de nível e muitas empresas começaram a cortar onde mais cresceram nos últimos anos: no número de trabalhadores.
Como a inflação e a guerra estão a obrigar as tecnológicas a pôr o pé no travão
Os analistas referem que, em parte, os despedimentos podem ser explicados por um excesso de trabalhadores após as contratações intensas iniciadas em 2019. Mas há mais fatores a ter em conta. Há quem aponte um cuidado maior para agradar aos acionistas, escolhendo a manutenção “das margens de lucro para os investidores” e “mantendo o número de empregados em linha com a nova realidade de receitas mais baixas”, explica ao Observador Timothy Skiendzielewski, diretor sénior de investimentos da gestora de investimentos Abrdn.
O que pressiona mais: o contexto ou o efeito de grupo?
Os primeiros sinais de turbulência nas gigantes do setor surgiram com a Microsoft, ainda durante o verão passado. Em julho de 2022, surgiram notícias sobre a redução da força de trabalho em 1%. Em outubro, aconteceu uma segunda vaga. Em nenhuma das situações, a Microsoft concretizou o número de pessoas afetadas, comentando apenas que era “resultado de um realinhamento estratégico” e fruto de uma “avaliação regular” ao negócio.
Microsoft vai voltar a reduzir número de trabalhadores este ano
Em novembro, foi a dona do Facebook, a dar um sinal ainda mais claro de agitação. “É a coisa mais difícil que já fizemos na história da Meta”, disse o fundador Mark Zuckerberg, na publicação na qual oficializou a redução de 13% do total de empregados, o equivalente ao despedimento de 11 mil pessoas. Em 18 anos de vida, nunca tinha havido um corte desta envergadura na tecnológica.
Quando chegou a vez de a Amazon anunciar despedimentos, em novembro, falava-se, numa primeira fase, em 10 mil pessoas, mas Andy Jassy não excluía a hipótese de ver sair mais pessoas da empresa em 2023. Quando chegou o novo ano, o que era uma hipótese transformou-se em certeza: a gigante de comércio eletrónico aumentou o corte, passando para 18 mil pessoas.
Amazon vai despedir mais de 18 mil pessoas, acima do que anunciou em novembro
A 18 de janeiro, chegava um novo anúncio da Microsoft, desta vez com um número concreto a ditar a saída de 10 mil pessoas até ao final de março. “Estamos a viver tempos de mudança significativa e, à medida que tenho encontros com clientes e parceiros, algumas coisas ficam claras”, escreveu Satya Nadella, o CEO da Microsoft, numa comunicação tornada pública. Embora reconhecesse que os clientes estavam a acelerar os investimentos com a transformação digital, o que é positivo para uma empresa como a Microsoft, Nadella explicava que há empresas a tentar “otimizar os gastos no digital” — a fazer mais com menos — e que, em certas partes do mundo, “estão a ser mais cautelosas” devido aos cenários de recessão. Ficava a promessa de um alinhamento da “estrutura de custos” com as receitas da tecnológica e também com a procura dos clientes.
Microsoft confirma despedimentos: vão sair 10 mil pessoas da empresa
Dois dias depois, era a vez de a Alphabet, a casa-mãe da Google, tomar a mesma decisão. “Nos últimos dois anos, vimos períodos de crescimento surpreendentes. Para acompanhá-los, contratámos tendo em conta uma realidade económica diferente da que enfrentamos atualmente”, reconhecia Sundar Pichai, CEO da Alphabet, no comunicado onde oficializou o despedimento de 12 mil pessoas.
Nas comunicações, os respetivos CEO assumem responsabilidade pelas ações, mas coincidem nas menções ao crescimento conseguido durante a pandemia e nas referências à passagem para um contexto mais adverso. Tendo em conta a similitude das mensagens, Susan Schurman, professora do Departamento de Estudos Laborais e Relações de Emprego na Escola de Gestão de Rutgers, da Universidade estatal de Nova Jérsia, acredita que possa estar a existir um “efeito de grupo” nas big tech. “Muitas destas companhias contrataram muitas pessoas durante a pandemia para enfrentar o crescimento das soluções tecnológicas para o trabalho remoto. Agora que esta necessidade está a diminuir, estão, aparentemente, com excesso de empregados”, diz ao Observador. Esta especialista em relações laborais explica que em conjunto “com a subida das taxas de juro e as previsões de uma possível recessão”, possa estar a haver uma “reação em cadeia entre as empresas tecnológicas – começam a copiar-se umas às outras para reduzir os empregados”.
Ouça aqui o episódio do podcast “A História do Dia” sobre os despedimentos nas big tech.
Timothy Skiendzielewski, da Abrdn, acredita que não são só as big tech a copiarem-se umas às outras, existindo esta lógica de “contágio” também com empresas de menores dimensões. A Pinterest anunciou o despedimento de 150 dos seus quatro mil empregados, enquanto a Citizen, empresa responsável por uma app muito utilizada nos EUA que permite denunciar crimes, vai despedir 33 pessoas. “Mesmo as empresas mais pequenas têm anunciado despedimentos”, reconhece o diretor de investimentos da Abrdn. “As empresas mais pequenas não têm níveis de rentabilidade como os das grandes empresas, por isso estão mais expostas a dificuldades económicas quando a procura enfraquece e têm de olhar para cortes de custos agressivos. Já vimos isto a acontecer.”
No entanto, este responsável vê o outro lado da equação: “Quem estiver melhor posicionado financeiramente tira, por vezes, partido destas viragens económicas mais desfavoráveis ao contratar talento de topo que fica disponível na sequência destes despedimentos.”
“Não tenho a certeza de que um efeito de contágio esteja a ser nesse sentido” de se copiarem umas às outras, contrapõe Pierre Veyret, da ActivTrades, vendo mais a onda como tendo origem na queda da procura de serviços tecnológicos quer por parte de fintech, que foram mais afetadas pelas taxas de juro mais altas, como também da publicidade online, que continua a ser uma grande parte das receitas das gigantes tecnológicas. A publicidade online é um dos grandes motores de negócio da Alphabet e da Meta. Em 2022, a Alphabet teve receitas de 59 mil milhões na publicidade, abaixo dos 61 mil milhões de 2021. Já a Meta teve receitas de 113,6 mil milhões em publicidade no ano passado, também uma queda em relação aos 114,9 mil milhões de 2021.
O fenómeno das aceleradas contratações da pandemia
Logo nos primeiros meses da pandemia, em 2020, as grandes tecnológicas surgiram como “vencedoras”. Com o mundo confinado, os serviços disponibilizados pelas big tech, desde as compras online da Amazon até às plataformas de comunicação como o Teams da Microsoft, tornaram-se ferramentas do dia a dia.
As big tech começaram a contratar – e muito – para suportar a expansão a que se estava a assistir. A Amazon, de entre as cinco empresas, já era quem tinha o maior número de trabalhadores em 2019, mas também foi quem mais contratou nos dois anos seguintes. Em 2019, a empresa fechou o ano com 798 mil trabalhadores a tempo inteiro, havendo também um conjunto de empregados a tempo parcial não contabilizado. Passado um ano, no final de 2020, a empresa tinha ultrapassado expressivamente a marca de um milhão de empregados, alcançando os 1.298.000 – quase 63% mais do que em 2019. Em 2021, ainda com confinamentos, a empresa continuou a contratar de forma acelerada: fechou esse ano com 1.608.000 empregados, mais 24% do que no ano anterior.
Até que chegou 2022. A empresa, que já se dizia pressionada pelo aumento dos preços dos combustíveis, começava a acusar os primeiros sinais de que os hábitos dos consumidores estavam a regressar às compras offline, nas lojas físicas. Depois surgiu uma guerra na Europa, que levou os principais executivos da empresa a deixar novos avisos sobre as pressões logísticas. Apesar dos avisos à navegação, a vaga de contratações da empresa continuou no primeiro trimestre, até chegar aos 1.622.000 empregados. No trimestre seguinte, na primavera de 2022, a Amazon apresentou menos trabalhadores: 1.523.000 pessoas, menos 99 mil do que nos três meses anteriores. Ainda que tenha recuperado ligeiramente no trimestre seguinte, para 1.544.000 empregados.
É na comparação com os valores pré-pandemia que é possível perceber a forma expressiva como a Amazon contratou. Em março de 2022, quando a empresa chegou ao pico de 1,62 milhões de empregados, tinha mais do que duplicado em relação a 2019. E, no final de 2022, num trimestre que trouxe as primeiras notícias sobre reduções na Amazon, a empresa fechou com 1.541.000 pessoas, menos três mil do que no período anterior. Olhando para o número de trabalhadores pré-pandemia, 798 mil em 2019, o total de empregados no fim de 2022 estava, ainda assim, 93% acima dos valores de 2019.
Apesar de a Meta ter anunciado despedimentos primeiro do que a Amazon, a saída de trabalhadores foi praticamente residual. A empresa de Zuckerberg fechou 2022 com 86.482 trabalhadores, menos 832 do que no trimestre anterior, mas ainda assim 20% acima do valor de 2021 e mais de 92% face aos números finais de 2019, altura em que tinha 44.942 trabalhadores. As principais saídas, o tal bolo total de 11 mil, só será visível no primeiro trimestre de 2023, transmitiu a empresa.
“A nova realidade ditada pela pandemia incentivou Zuckerberg a aumentar substancialmente o seu investimento, nomeadamente no recrutamento de novos funcionários”, explica Paulo Rosa, do Banco Carregosa, notando que as contratações foram “aceleradas pela crescente aposta no metaverso, sobretudo no final de 2021”, mas que fatores como a “inflação, a enérgica subida das taxas de juro e o consequente receio de recessão determinaram” os despedimentos.
A onda de despedimentos na Alphabet foi anunciada já em janeiro de 2023, pelo que a redução dos números de empregados ainda não foi visível nas últimas contas conhecidas. A dona da Google fechou 2022 com cerca de 190 mil empregados, mais 3.455 que no trimestre anterior e quase 22% mais do que em 2021. A empresa diz que as saídas vão estar refletidas nas contas do primeiro trimestre, assim como os custos expectáveis de até 2,3 mil milhões de dólares devido às compensações a atribuir aos despedidos.
Mesmo subtraindo os 12 mil despedimentos ao número de empregados no fim de 2022, a Alphabet ainda vai continuar a ter mais trabalhadores do que tinha antes da pandemia – a expectativa é de que fique com cerca de 178 mil pessoas contra os quase 119 mil de 2019. Entre 2019 e 2022, a força de trabalho da Alphabet cresceu cerca de 60%.
No caso da Microsoft, é mais difícil perceber se os ajustes que já vinham do ano passado tiveram efeito. Do grupo das cinco grandes tecnológicas, só a Microsoft e a Apple têm anos fiscais diferentes do ano civil – o da dona do Windows termina em junho e o da Apple em setembro. E só nessas contas anuais é feito um ponto de situação sobre número de empregados. Na Microsoft, a primeira vez em que se falou em despedimento foi em julho. Em junho de 2022, comunicava que tinha 221 mil empregados, mais 40 mil do que em 2021. Face aos 144 mil trabalhadores de 2019, o crescimento foi de 53%.
Mesmo reconhecendo o crescimento nas contratações de muitas tecnológicas ao longo dos últimos três anos, a académica e especialista em relações laborais Susan Schurman recusa a ideia de que as empresas tenham sido “traídas” pela ideia de que os hábitos de trabalho e compras à distância iam manter-se para sempre. “Acho que não pensaram tão à frente no tempo”, defende. “Estavam a responder a uma oportunidade e necessidade do início da pandemia e agora estão a responder à procura reduzida da atualidade.”
Pierre Veyret, analista da ActivTrades, fala em falha de cálculos por parte destas empresas. “Podem ter pensado que a explosão de receitas e a procura de 2020 iam durar mais tempo, por isso a maioria desenvolveu programas mais caros, como realidade virtual, metaverso, carros elétricos, etc, mas agora têm de focar as suas atividades no atual panorama económico desafiante e no aumento dos custos de financiamento.”
“Infelizmente é um ciclo vicioso de que as empresas nunca parecem conseguir escapar”, diz Timothy Skiendzielewski, diretor sénior de investimentos da Abrdn. “Os bons tempos, de elevada procura, levam a uma exuberância irracional, que leva a contratações em excesso, que por sua vez leva a estruturas exageradas. Quando a procura inevitavelmente abranda e as receitas caem, as empresas descobrem que a sua nova estrutura de despesas é demasiado grande para uma base de receitas mais pequena. Por isso reduzem empregados para manter as margens.”
Receitas das big tech estão a abrandar
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Amazon, Apple, Alphabet, Meta e Microsoft já revelaram os resultados dos últimos três meses do ano. A Amazon teve prejuízos anuais de 2,7 mil milhões de dólares, penalizados pela participação que detém na fabricante de elétricos Rivian, que comparam com os lucros de 33,4 mil milhões de há um ano. Já as vendas aumentaram 9% para 514 mil milhões de dólares.
A Alphabet teve lucros próximos de 60 mil milhões de dólares em 2022, que comparam com 76 mil milhões em 2021. As receitas da empresa caíram de 282,8 mil milhões em 2021 para 257,6 mil milhões no ano passado, sobretudo devido à variação nas receitas publicitárias.
A Meta fechou o ano com lucros de 23,2 mil milhões, 41% abaixo dos 39,4 mil milhões que atingiu em 2021. As receitas da empresa recuaram 1% para 117,9 mil milhões. À semelhança da Google, também a empresa está a ter menos receitas publicitárias.
O ano fiscal da Microsoft só fica fechado em junho. No trimestre terminado em dezembro, a empresa registou uma queda de 12% no lucro, para 16,4 mil milhões de dólares. As receitas subiram ligeiramente (2%) para 52,7 mil milhões de dólares.
A Apple, cujo ano fiscal só termina em setembro, revelou não só a primeira queda de receitas em três anos e meio como também um recuo nos lucros. Entre outubro e dezembro, a empresa viu as vendas caírem 5,5% em termos homólogos, passando para 117,2 mil milhões de dólares. A empresa continuou a ter lucros, muito próximos de 30 mil milhões de dólares, mas que estão abaixo dos 34,6 mil milhões de há um ano, um tombo de 13%.
A Apple é à “prova de bala”?
No grupo das grandes empresas do setor, até agora a Apple é a única a passar ao lado de despedimentos. Uma exceção no mundo das FAAMG”, o grupo de empresas composto pela Meta (anterior Facebook), Apple, Amazon, Microsoft e Google, salienta Paulo Rosa, economista sénior do Banco Carregosa. Entre 2019 e 2022, a Apple passou de 137 mil para 164 mil trabalhadores, um aumento de 20%. Mas, “enquanto o ritmo anual de crescimento do número de trabalhadores da Apple nunca ultrapassou um dígito” — o aumento mais alto é de 7,3%, em 2020 — “os acréscimos anuais de trabalhadores nas restantes FAAMG foi quase sempre de dois dígitos, sendo esta a diferença significativa da empresa de Cupertino”, realça Paulo Rosa. Pierre Veyret, analista da ActivTrades, tem a mesma visão. “A Apple nunca contratou em excesso. E mesmo agora continua a contratar, a um ritmo muito moderado, mas ainda assim a contratar.”
Mas há outra diferença que parece dar alguma margem de manobra à Apple – o “negócio mais centrado na venda de telemóveis e outro hardware, como smartwatches”, argumenta Paulo Rosa, salientando que a marca continua a ter uma “procura contínua”, mas que ainda assim “poderá ser afetada em caso de recessão”.
Pelos resultados revelados pela dona do iPhone na passada quinta-feira, 2 de fevereiro, a procura já está a dar sinais de abrandamento. No último trimestre do ano, habitualmente um dos mais fortes para a empresa, devido às novidades do iPhone, a Apple revelou não só a primeira queda de receitas em três anos e meio como também um recuo nos lucros. Entre outubro e dezembro, a empresa viu as vendas caírem 5,5% em termos homólogos, passando para 117,2 mil milhões de dólares (107,2 mil milhões euros). Face aos resultados de há um ano, as vendas caíram em todas as geografias, mas de forma mais expressiva na China (-7%). Nesse mercado, a variação está ligada aos constrangimentos da Covid-19 no país, que não só afetaram a produção de equipamentos como também as vendas na região.
Por produto, só a linha iPad e a área de serviços é que viram as vendas subirem. No caso do iPhone, o seu principal motor de faturação, o tombo foi notório: rendeu 65,8 mil milhões de dólares (60,2 mil milhões de euros), menos 5,8 mil milhões de dólares do que há um ano.
A empresa continuou a ter lucros, muito próximos de 30 mil milhões de dólares (27,5 mil milhões de euros), mas que estão abaixo dos 34,6 mil milhões de há um ano, um queda de 13%.
Podem os despedimentos servir para responder aos acionistas “ativistas”?
Há um outro fator que pode estar a contribuir para a onda de demissões das tecnológicas: a pressão dos acionistas. Segundo o Financial Times, alguns dos despedimentos podem servir de antecipação face aos acionistas ativistas. Com o desvalorização das ações, muitos acionistas estão de olho num dos lados da demonstração de resultados — os custos.
“Escrevemos para expressar a nossa visão de que a base de custos da Alphabet é demasiado alta e que a gestão precisa de ter uma ação agressiva” A carta do TCI Fund Management, acionista da Alphabet, ao CEO Sundar Pichai, foi enviada a 15 de novembro de 2022, com um pedido para que a empresa avançasse com despedimentos. Citando conversas com antigos executivos da Alphabet, este acionista argumentava que “o negócio podia ser operado de forma mais eficaz com significativamente menos empregados”. E eram citados os anúncios de reduções na Meta, Microsoft e Amazon para ilustrar o tema. “O número de trabalhadores da Alphabet aumentou anualmente 20% desde 2017. Mais do que duplicou desde 2017. Este crescimento é excessivo, tanto em relação ao crescimento histórico como em relação àquilo de que o negócio precisa.”
E também era apontado o dedo aos salários. “A Alphabet paga alguns dos salários mais elevados de Silicon Valley”, citando um formulário submetido ao regulador de mercados financeiros, em que a empresa detalhava uma compensação média de 295.884 dólares por trabalhador em 2021. “Reconhecemos que a Alphabet emprega alguns dos cientistas de computação e engenheiros mais talentosos e brilhantes”, era dito, mas era pedida “uma compensação em linha com aquilo que é feito noutras empresas de tecnologia”.
O TCI não será o único fundo a pedir mais às tecnológicas. De acordo com jornais como o Wall Street Journal e o New York Times, o fundo Elliot, também conhecido como um fundo “abutre”, anda a rondar a Salesforce. Liderada por Marc Benioff, a tecnológica já anunciou que vai reduzir em 10% o total de trabalhadores, mas pode não ser suficiente para o fundo. Segundo a Business Insider, a Salesforce não vai parar nos 8 mil despedimentos, não tendo, no entanto, sido quantificados quantos mais poderão estar na calha.
O fundo Elliot é conhecido por forçar mudanças significativas nas companhias em que participa. Benioff já estava pressionado pelos resultados da empresa, que está cada vez mais longe dos tempos risonhos de crescimento durante a pandemia, e a chegada do fundo à lista de acionistas poderá ser mais uma pedra no sapato.
Antes do Elliot, a empresa já se debatia com outro acionista: a Starboard Value, que publicamente criticou o desempenho da Salesforce aquém das companheiras de setor.
A má notícia que chega com bloqueio de acessos
Uma pesquisa rápida na rede social LinkedIn é o bastante para encontrar publicações de ex-empregados das big tech afetados por este rol de despedimentos. O texto costuma ser o mesmo: “infelizmente fui afetado(a)”, com umas pinceladas de agradecimentos pelo trabalho desenvolvido e com referências a como foi interrompido abruptamente.
Não é apenas o ato mas também a forma que está a merecer críticas a estas empresas, a maioria sediadas nos Estados Unidos. Conforme é relatado na imprensa internacional, muitos dos trabalhadores alvo de despedimentos são contactados através de emails gerais e, em muitos casos, enviados para os emails pessoais, já que a caixa de correio profissional é, imediatamente, bloqueada.
Aliás, muitos desses trabalhadores perceberam que estavam na “lista de saída” quando viram o acesso em dispositivos profissionais bloqueado ou até pela luz vermelha ao tentarem entrar nas instalações físicas. Terá sido este o caso na Google. A Business Insider citou o testemunho de um empregado da gigante de internet que tentou repetidas vezes entrar no escritório na zona de Chelsea, em Nova Iorque, para ver a luz vermelha de acesso negado. Só mais tarde terá percebido que estava na lista de despedimentos.
“Tenho a teoria há anos de que as empresas de tecnologia não são assim tão diferentes dos outros patrões, que tratam os empregados como commodities”, partilha a académica Susan Schurman. “Quando precisaram deles, inundaram-nos de regalias, e, agora, que já não precisam de tantos ou que as competências dos empregados tornaram-se redundantes, despedem-nos da forma talvez mais desrespeitosa possível”, comenta, recusando a ideia de estas atitudes serem por inexperiência em despedimentos. Para a académica só revela uma coisa: “A forma como isto está a ser feito demonstra os valores subjacentes destas empresas.”