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Cannes é um festival de cinema que é um palco para algumas das grandes estreias mundiais de filmes que nos chegarão nos próximos meses. Esta semana já recebemos uma dessas estreias, o tão aguardado – e sucessivamente adiado, por causa da pandemia – “Top Gun: Maverick”. Altura para fazer um balanço de alguns desses títulos e de como foram recebidos. Dez filmes, entre os quais o novo de Tiago Guedes, “Restos do Vento”, que teve uma boa receção crítica e que estreará em Portugal no final de setembro. Muitas destas produções ainda não têm data ou distribuidor em Portugal, mas é natural que dentro de semanas haja novidades. Fiquemos atentos

“Crimes Of The Future”

De David Cronenberg

“Mapas Para as Estrelas” estreou-se há quase uma década. Parecia que era a última vez que veríamos um filme de David Cronenberg. Nos últimos anos, o realizador sentiu que tinha de voltar ao ativo, roubou o título a um dos seus primeiros trabalhos e regressou ao tema do corpo enquanto coisa limite que podemos experienciar durante um prazo com validade, conceito presente em “Crash” e “Existenz”, os seus dois últimos filmes do século passado. Nos papéis principais estão Viggo Mortensen, Léa Seydoux e Kristen Stewart que, segundo relatos vindos de Cannes, continua a surpreender. Do elenco também faz parte o luso-guineense Welket Bungué. Como se não bastasse, o filme foi recebido com uma ovação de pé de seis minutos. Resta esperar por quando se estreia em Portugal.

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“Elvis”

De Baz Luhrmann (23 de junho)

Descrito por críticos como uma espécie de “Bohemian Rhapsody” a alta velocidade, o novo filme de Baz Luhrmann tem sido tudo menos consensual. Não é um daqueles casos em que é adorado por uns e odiado por outros, mas há quem goste e há quem odeie, com bons argumentos para ambos os lados. Elvis é interpretado por Austin Butler, a sua história é narrada por outra personagem, o Coronel Tom Parker (Tom Hanks), histórico e controverso agente do rei do rock. Esta perspetiva a partir do manager de Elvis cria uma sensação afastada do típico biopic, ao qual se junta a hiperestilização de Luhrmann.

“Triangle Of Sadness”

De Ruben Östlund

No primeiro filme em inglês do sueco Ruben Östlund, vencedor da Palma de Ouro em 2017 graças a “O Quadrado”, o realizador resolve atirar-se a uma crítica muito ácida aos super-ricos. Tudo acontece num  iate que afunda e deixa as personagens presas numa ilha. Östlund domina bem situações caricatas – “Força Maior”, o filme de 2014 que lhe deu muita visibilidade internacional, era exatamente sobre isso – e este não parece não ser exceção. Muitos especialistas dizem que Östlund foi longe de mais na sua crítica: disseram o mesmo a propósito de “O Quadrado”, no que diz respeito à arte.

“Three Thousand Years Of Longing”

De George Miller (8 de setembro)

Outro filme com uma ovação de seis minutos foi a mais recente obra de George Miller, “Three Thousand Years Of Longing”, com Tilda Swinton e Idris Elba nos principais papeis. Parece mais um filme elétrico de Miller – “Mad Max: Fury Road” estreou-se há sete anos –, desta vez à volta de uma mulher (Swinton) que compra uma estranha garrafa num mercado em Istambul para descobrir que lá dentro está um génio (Elba). É uma história de amor, onde metade da ação se passa num quarto de hotel – não é o que está a pensar —, e que usa e abusa de recursos narrativos para contar esta história que atravessa tempo e realidade.

“Stars At Noon”

De Claire Denis

Joe Alwyn (um dos protagonistas de “Conversations With Friends”, série que está disponível na HBO Max) junta-se a Margaret Qualley, John C. Reilly e Benny Safdie num thriller de conspiração política nos anos 1980 na Nicarágua. Não parece, mas é o novo filme de Claire Denis, a partir da obra homónima de Denis Johnson. Erotismo misturado com drama político parece ser uma receita do passado, mas a julgar pelas críticas, parece que a tentativa correu bem à realizadora francesa.

“Holy Spider”

De Ali Abbasi

Mais um vencedor de Cannes de regresso, desta vez o iraniano Ali Abbasi, vencedor do prémio Un Certain Regard por “Na Fronteira”, um filme que não era uma história de amor nem um filme de terror, jogando nos limites de um e outro. “Holy Spider” é bem diferente: desta vez, Abbasi está com os pés mais na realidade, pegando numa história verdadeira sobre uma série de homicídios que envolveram prostitutas na cidade de Mashhad, no Irão. A história pega no ponto de vista de um jornalista que vai investigar o caso. As críticas falam de um thriller perturbador cheio de imagens violentas e muita nudez. Cenas que não deixaram os espectadores indiferentes na sua passagem por Cannes.

“Restos do Vento”

De Tiago Guedes (22 de setembro)

Depois de Veneza, e da Netflix, este foi o ano em que Tiago Guedes levou um filme a Cannes. “Restos Do Vento” foi escolhido para a Seleção Oficial do festival, onde teve a sua estreia mundial (contudo, o filme não está em competição) e foi bem acolhido pela crítica. A história acontece numa vila portuguesa e conta a história das marcas que os rituais pagãos deixaram num grupo de adolescentes. A história segue-os 25 anos depois. O elenco é composto por Albano Jerónimo, Nuno Lopes, Isabel Abreu, João Pedro Vaz, Gonçalo Waddington e Leonor Vasconcelos.

“The Natural History Of Destruction”

De Sergei Loznitsa

© D. R.

Há quatro anos, o realizador ucraniano apresentou “Donbass” em Cannes, uma comédia negra sobre propaganda e desinformação que contava o que se estava a acontecer no seu país. Sergei Loznitssa regressa à guerra, mas desta vez num registo bem diferente, inspirado por ensaios de WG Sebald e usando imagens de arquivo da Segunda Guerra para mostrar a destruição que aconteceu nas cidades alemãs e britânicas devido a ataques aéreos. Um filme sobre os horrores da guerra que, infelizmente, ressoa com o presente.

“Armageddon Time”

De James Gray

© D. R. / Festival de Cannes

James Gray foi a Cannes este ano com uma história que também é sobre a sua infância, sobre como era crescer em Queens na década de 1980. Há quem lhe chame o filme norte-americano mais ousado em Cannes neste ano, por se debruçar sobre a matéria do privilégio branco e questões de raça nos anos formativos da adolescência. O filme deve estrear-se mais para o final do ano e é um daqueles que deverá concorrer aos Óscares. Conta com Anne Hathaway, Anthony Hopkins, Jeremy Strong e Jessica Chastain.

“Tori And Lokita”

De Jean-Pierre Dardenne e Luc Dardenne

As obras dos irmãos Dardenne passam sempre por Cannes primeiro e, dali, recebemos as primeiras notícias de mais uma história que magoa pela crueldade do real que procura transmitir, exercício em que os belgas tendem a ser exímios. “Tori And Lokita” conta a história de dois amigos que viajaram sozinhos de África até à Bélgica. Uma obra sobre o exílio e as condições duras para quem o vive.