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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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Gravata no carro, pregos noturnos e uma agenda frenética. O esforço de Carneiro para ser David (contra o Golias Pedro Nuno)

Carneiro está sempre em modo campanha, seja a comer um prego à uma da manhã ou a visitar obras como se fosse primeiro-ministro. Não é favorito, mas está a "escalar uma montanha" com otimismo.

Um prego no prato, sem alho e sem molho, e um “fino preto”. José Luís Carneiro está cheio de fome, o que é uma circunstância habitual desde que entrou em modo campanha — conjugada com os deveres, a meio-gás, de ministro da Administração Interna —  e pela uma da manhã é isto que se prepara para pedir ao balcão do histórico Galeto, em Lisboa. Neste dia, terça-feira, acordou de madrugada para a primeira entrevista e despediu-se dos últimos apoiantes depois da meia-noite. Mas antes de chegar ao balcão para comer o desejado prego, falta-lhe passar por um encontro inesperado: Daniel Adrião, o terceiro e menos conhecido candidato à liderança do PS, está precisamente nesse momento a sair do mesmo restaurante, acompanhado por um grupo de apoiantes.

Aqui não parece haver incómodos, até porque as tensões desta campanha se têm registado exclusivamente entre as candidaturas de Carneiro — o underdog que promete proteger o legado de António Costa — e Pedro Nuno — o preferido das estruturas socialistas que há anos sonhava avançar para a liderança do PS. Assim sendo, a conversa é amigável e não demora a surgir uma farpa ao único candidato a quem não ocorreu comer um prego a esta hora, e que não aceitou debater com os adversários: “Chamamos o Pedro? Ainda fazemos aqui um debate!”. Pelo meio dos abraços e da confusão das conversas cruzadas, Carneiro puxa pela veia de ministro para gracejar — “Eu tento contribuir para a ordem pública…” — e avança para o balcão. Leva debaixo do braço um livro (“Como jogar o jogo da vida”) que um apoiante acaba de lhe oferecer em Setúbal e que soa a manual de autoajuda, com um subtítulo curioso: “Descubra o poderoso poder da mente na criação de sucessos“.

[Já saiu: pode ouvir aqui o sexto e último episódio da série em podcast “O Encantador de Ricos”, que conta a história de Pedro Caldeira e de como o maior corretor da Bolsa portuguesa seduziu a alta sociedade. Pode sempre ouvir aqui o quinto episódio e aqui o quarto, o terceiro aqui, o segundo aqui e o primeiro aqui]

Quanto ao poder da mente é difícil avaliar, mas o socialista que começou por ser autarca em Baião, chegou a homem do aparelho do PS e subiu a ministro aposta pelo menos poder da teimosia, ou da persistência, e no trabalho de formiguinha. É “confiante” e “otimista”, suspeitas do Observador que o próprio confirma. Isso ajuda a explicar o facto de ter insistido sempre em candidatar-se de novo a corridas em que começou por sair derrotado (como aconteceu na Federação do Porto, que ganhou à segunda tentativa, ou na autarquia de Baião — foi vereador da oposição durante sete anos antes de ser eleito três vezes), e no facto de ter avançado agora, contra o homem que todos sabiam estar pronto para se candidatar à liderança do PS, Pedro Nuno Santos, e que enchera poucos dias antes a sala, em Setúbal, que Carneiro conseguiu compor, mas com bastantes lugares vazios.

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O candidato é "confiante" e "otimista", confirma. Isso ajuda a explicar o facto de ter insistido sempre em candidatar-se de novo a corridas em que começou por sair derrotado, e que acabou por vencer à segunda ou terceira tentativa. Não enche salas tão grandes como Pedro Nuno

A candidatura de Carneiro está consciente de que corre atrás de Pedro Nuno e os apoiantes confirmam que ainda “não está lá” — em condições de ganhar — e pode não vir a estar, segundo as contas dos pedronunistas, que confirmam que a sua fina contagem de espingardas continua a mostrar uma vantagem segura. Por isso mesmo, os apelos ao voto de Carneiro, com ênfase na importância de ir mesmo às urnas e votar de forma “livre”, são constantes em qualquer evento da candidatura. “Cada militante”, dispara Carneiro no final de cada noite — “um voto!”, respondem os seus apoiantes.

Tendo a noção de que paira sobre si a ideia de que é candidato ao segundo lugar, e com a campanha de Pedro Nuno a lembrar desde cedo que estatisticamente bate todos os apoios internos do atual ministro — no número de apoio de presidentes de federação, de concelhia, de autarcas ou de deputados –, a candidatura de Carneiro escolheu fazer o discurso inverso: ignorar os números que não tem, desvalorizar o aparelho e frisar que o tal voto livre (dentro e fora do PS) é mais importante do que  o “caciquismo” e os “compromissos” já assumidos com Pedro Nuno.

A rodagem de um carro até Fátima (e o que se aprende com várias derrotas)

Habituado a “aprender” com as derrotas, Carneiro sabe que tem de correr mais para tentar “chegar lá” ou, pelo menos, ter um bom resultado no dia 16 de dezembro. Por isso, corre mesmo muito: tenta chegar a toda a gente, não desperdiça um minuto de conversa, dispara discurso de campanha para todos os lados, lembra os seus feitos desde os tempos de autarca a cada oportunidade. Em Setúbal, depois de falar durante quase uma hora, mostra-se disponível para responder a perguntas (mas, talvez dado o adiantado da hora, ninguém quer fazê-las) e fica na conversa com apoiantes, grava vídeos a pedido, ainda pondera ir visitar ao hospital um apoiante que teve um acidente pelo caminho (mas recupera rápido e ainda chega a tempo de cumprimentar Carneiro).

A persistência do candidato faz lembrar uma história antiga que uma pessoa próxima contou ao Observador, e que Carneiro confirma e recorda enquanto come o desejado prego. O episódio remonta aos seus tempos enquanto vereador da oposição — portanto, algures entre 1997 e 2004 –, quando a presidente da Câmara de Baião, a social-democrata Emília dos Anjos Pereira da Silva, decidiu levar idosos do município numa excursão a Fátima.

O vereador Carneiro não gostou da recusa da autarca em deixá-lo participar na iniciativa — “porque era uma iniciativa da Câmara”, falou com os colegas, e percebeu que, coincidência feliz, um deles tinha um carro novo. Foi assim que decidiram ir fazer a “rodagem” do tal carro a Fátima: seguiram pelo mesmo caminho e foram parando nas mesmas estações de serviço onde o grupo de idosos, liderado pela autarca, fazia pausas e se espantava por ver ali o vereador — por quem ia, assim, sendo acompanhado na mesma. Lá estava Carneiro, presente e em campanha constante para a autarquia que havia de conquistar ao PSD em 2005.

A proximidade das pessoas é um dos valores que Carneiro mais se preocupa em transmitir como sua “marca”, e continua a fazê-lo enquanto trabalha numa campanha que se quer em crescendo. Do lado pedronunista, a tendência é reconhecida: os números continuam desequilibrados a favor de Pedro Nuno, asseguram, mas Carneiro conseguiu criar uma ideia de onda positiva a seu favor (mais na perceção de quem vê a campanha de fora do que na realidade, defendem).

O candidato assegura ao Observador que a diferença que vê na sua campanha entre o dia um e esta reta final é “abissal“, que passou de “escassas dezenas para milhares” de apoiantes desde o dia em que se lançou na pequena sede de Coimbra, a primeira do PS, numa declaração curta e sem rostos conhecidos à volta. Carneiro assegura que não foi uma tática pensada, havendo até quem na equipa fosse contra a ideia: queria fazer uma declaração simples à imprensa num local simbólico, mas “enviou-se um SMS” para quem quisesse participar e lá foram umas dezenas de apoiantes vê-lo a anunciar a sua candidatura.

Quem garante que já estava consigo desde a primeira hora, mesmo que não tenha aparecido em Coimbra, foi Vieira da Silva — “uma das pessoas que inicialmente contactei” –, assim como Augusto Santos Silva. Depois, falou com Capoulas Santos — pelo “conhecimento forte do partido” que tem; Rui Solheiro, pela experiência como secretário-geral da Associação de Ministros Portugueses; e Jamila Madeira, que conhece bem a sua “geração” — foi líder da JS. Jamila trabalharia como diretora de campanha e “elemento de articulação” entre a direção de campo (liderada por André Valentim, que com o assessor de comunicação, Ricardo Pires, começou a lançar as bases da candidatura) e o Conselho Estratégico que elabora a sua moção (coordenada pelo atual secretário de Estado André Moz Caldas).

Capoulas Santos acompanhou José Luís Carneiro na visita ao futuro Hospital Central do Alentejo, em Évora.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

Vários destes nomes foram aparecendo gradualmente, alimentando a ideia da tal onda “crescente”, e têm-no acompanhado nas suas iniciativas para ajudar a criar a ideia de que boa parte dos senadores do partido, que falam em qualidades como “moderação” e “razoabilidade”, está com Carneiro.

A “amizade” com Costa (e com Seguro)

A ideia da “continuidade” é abraçada por Carneiro com satisfação, mesmo que quem não o apoia o acuse de se dedicar demasiado a seguir disciplinadamente os líderes que apoia e assumir poucas vezes — pelo menos até ter avançado como candidato — ideias próprias. A julgar pela atitude de Carneiro em campanha, não vê problema na assunção dessa herança. Por um lado, porque menciona com regularidade Costa e os seus feitos — fê-lo, durante esta quarta-feira, o dia todo pelo Alentejo fora, fosse de visita às obras para o que será o futuro Hospital Central do Alentejo (“é um investimento pelo qual o nosso primeiro-ministro nutre um carinho muito especial, eu estava na coordenação do Governo e ele perguntava constantemente pelo ponto de situação”) ou no aeródromo de Ponte de Sor (“Sim, é mesmo da continuidade das boas políticas que estamos a falar”, assumiu, antes de garantir o “empenho” que Costa mostrou no investimento da barragem do Pisão).

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Numa viagem de carro entre Setúbal e Lisboa, Carneiro fala ao Observador sobre a relação de “amizade” que desenvolveu com o primeiro-ministro. Primeiro, quando estavam ambos, enquanto autarcas — um de Baião, outro de Lisboa — no Comité das Regiões, ao lado de nomes como Rui Rio e Vasco Cordeiro. Depois, deu-se o embate entre António José Seguro (que Carneiro apoiava) e António Costa — e o agora candidato explica que disse a Costa que “estava com Seguro e a minha lealdade seria até ao fim com ele. Bati-me lealmente até ao fim por ele, para que ganhasse as eleições”.

Carneiro diz que é um candidato de continuidade com orgulho e recorda ao Observador o início da sua amizade com Costa (que sabe que continua a ser também amigo de Seguro)

Costa terá visto nesse seu gesto “uma atitude de lealdade e seriedade” e não guardou rancores: durante a elaboração das listas para o Parlamento, em 2015, fizeram uma viagem de regresso de Vila Real juntos e Carneiro, então presidente da Federação do Porto, apresentou-lhe a sua proposta de lista de candidatos a deputados. O primeiro-ministro reparou que lhe faltava um nome: “Então mas você não está na lista…”.

Carneiro explicou que tinha sido eleito para o terceiro e último mandato em Baião, com 71,4% dos votos, mas lá acabou por se deixar convencer e por ser convidado por Costa para ser deputado, depois secretário de Estado das Comunidades, depois (quando a função começou a pedir demasiadas ausências que poderiam prejudicar os filhos, agora com 15 e 17 anos) como secretário-geral Adjunto e por fim ministro da Administração Interna. O candidato registou crescente confiança de Costa, mas assegura que nunca renegou amizades ou lealdades antigas: “Mantive sempre a minha amizade também com o António José Seguro e sempre fui muito claro com ele sobre a conservação dessa amizade. Devo dizer que procurei ao longo do tempo dialogar e estabelecer pontes entre as pessoas”. Neste caso, provavelmente, sem grande sucesso.

“Mas quais são as propostas políticas do meu camarada Pedro Nuno?”

Depois vem o segundo passo para ser um bom herdeiro: tentar provar o seu próprio empenho, não em mudar, mas em “aperfeiçoar” as obras e ideias de Costa com as suas próprias propostas. Até porque um candidato como Carneiro, que sabe que nas estruturas socialistas não tem a maioria dos apoios, tem de se concentrar em falar para a frente, vestindo o fato de futuro primeiro-ministro e assegurando que fora do partido também conquista votos (também do PSD e do CDS, diz a campanha de Pedro Nuno com ironia e reconhece o próprio com satisfação: “Ganhamos as eleições com quem vota em nós”, arruma).

É nesse papel, de capacete na cabeça e colete refletor, que visita obras e fala dos méritos do PS, como se já fosse primeiro-ministro. E é também nesse papel que esta semana apresentou, no Largo do Rato — não fossem os largos minutos que Pedro Nuno Santos passou, numa sala maior, a tirar selfies com apoiantes das Mulheres Socialistas e ter-se-iam cruzado também — as propostas mais concretas que comporão o seu Pacto para a Habitação (uma área em que Pedro Nuno, como ministro, não fez o suficiente, vai-se dizendo à boca pequena na candidatura).

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Quanto a Pedro Nuno, o próprio Carneiro, questionado sobre o argumento utilizado pelo adversário para não fazer debates — a direita estaria pronta para os recolher diligentemente e usar como arma de arremesso na campanha para as eleições legislativas — é ácido, enquanto mastiga de forma pensativa o prego: “Mas quais são as propostas políticas que a candidatura do camarada Pedro Nuno apresentou até agora?”. O assunto parece ficar fechado por ali, mas para quem acompanha os eventos de campanha de Carneiro, onde se ouve falar em “conversa fiada” ou “propostas pela rama” de Pedro Nuno, é evidente que a acrimónia é mais profunda do que isso.

“Sabujice”, “taticismo bacoco” e “grilhetas”: os ataques ao adversário principal

Em qualquer encontro com militantes se nota a tendência, lançada de resto pelo próprio candidato, que já classificou a moderação de Pedro Nuno como uma “operação de cosmética” e já acusou o adversário de se “acantonar à esquerda”. Num encontro de apoiantes lisboetas, depois de se ouvirem Madonna, Adele (uma clara favorita) ou GNR nas colunas de som e depois de o speaker se dirigir aos socialistas que compreendem “o verdadeiro significado da expressão socialismo democrático”), coube ao diretor de campanha de Lisboa, Miguel Coelho, abrir as hostilidades: “Agora está na moda muitos dos que rejeitavam o termo social democracia dizerem que são social democratas. A Catarina Martins disse que era e agora parece que isso pegou no PS”.

Os ataques a Pedro Nuno só se foram, nessa noite, tornando mais claros: Coelho lembrou que não foi o seu candidato que “despachou indemnizações por SMS”; Vasco Franco, responsável pelas propostas para a Habitação, criticou Pedro Nuno por “não arriscar um confronto de ideias com alguém mais experiente” e estar nervoso depois de ter achado que chegaria à liderança “com uma passadeira vermelha tecida laboriosamente nos últimos anos” e sem adversários.

Ataques a Pedro Nuno são constantes nas ações de campanha de Carneiro: fala-se em "fragilidades" como ministro, sugerem-se problemas de "caráter", e critica-se a "sabujice" dos apoiantes

Tudo isto entre outros mimos, incluindo ataques à “baixeza” e “sabujice repugnante”, presumivelmente, dos ataques de Ascenso Simões contra Carneiro, e ao presidente do PS, Carlos César, por ter declarado apoio a Pedro Nuno — “resolveu abdicar do seu estatuto de presidente de todos os socialistas, com uma ferroada descabida” (ouviram-se palmas na sala e uma vaia tímida). Conclusão: “Todos sabemos” quais são as “fragilidades” de Pedro Nuno — “a única forma de evitar que sejam atiradas à nossa cara todos os dias é eleger José Luís Carneiro”.

Na noite seguinte, desta vez em Setúbal, repetiu-se a dose: o diretor de campanha do distrito, Marco Teles Fernandes, garantiu que boa parte dos pedronunistas estão “reféns de alinhamentos estratégicos e aspirações pessoais”, presos por uma “grilheta”, mas até “acreditam que Carneiro é o melhor candidato”. Contra a ideia de que a corrida são “favas contadas” para Pedro Nuno, pediu “coragem para afrontar o poder” — assim como os “discursos de corta e cola quase do PREC” do principal adversário.

Seguir-se-ia Vieira da Silva, garantindo que Costa foi “quem melhor honrou Soares” — se os pedronunistas acreditam que Costa quis dar uma força velada à candidatura quando lembrou que Mário Soares também apoiava a geringonça, Carneiro diz que isso é só “uma pequena habilidade” da outra campanha (basta “ouvir e ler a declaração inteira”).

Depois, Vieira da Silva foi mais longe: além de lembrar que a era Costa foi mais do que a geringonça, acusou a candidatura de Pedro Nuno de lançar ataques de caráter. “Queremos mesmo discutir o caráter dos candidatos? Eu não vou entrar por aí”. Ouviram-se risos. Carneiro só precisaria de subir ao palco para assegurar que, “em relação à outra candidatura”, o que o distingue é “partir com a ambição de ganhar de forma clara” e sem alianças prévias com a esquerda.

O candidato que ainda é ministro (e tirou férias)

Para Carneiro, isto não é contraditório com a defesa do legado de Costa. O que pode parecer contraditório, ou pelo menos incómodo, é a necessidade de garantir no terreno que está ali como candidato, e não como ministro, enquanto exulta os feitos do Executivo de que faz parte. Quando o Observador entra no carro que, explica, o partido alugou e disponibilizou (a todos os candidatos), a gravata de ministro está pousada no banco de trás. E, apesar de Carneiro referir que tirou alguns dos dias de férias que não usou nos últimos dois anos e delegou funções nas suas secretárias de Estado, a dissociação é difícil de fazer e vai-lhe causando acusações de se aproveitar do lugar como ministro durante a campanha.

Carneiro foi criticado por continuar a aparecer em iniciativas como ministro (e já chegou a responder a perguntas sobre a sua candidatura nesses eventos). Entretanto tirou dias de férias para a campanha e usa carro cedido pelo partido

Na visita ao que será o futuro Hospital Central do Alentejo, Filomena Mendes, da ARS Alentejo, descuida-se: “Senhor ministro, como vê…”. Carneiro é rápido a interromper, mas junta à interrupção uma graça: “Estou aqui na qualidade de candidato a secretário-geral. Só faltava ter aqui uma estrutura da PSP ou GNR para garantir segurança no trabalho…”. “Eu sei, mas continua a ser ministro”, responde Mendes. Pelo meio da obra, há quem lhe indique assim o caminho: “Pela esquerda, senhor ministro”.

E, confrontado com as acusações de Luís Montenegro sobre poder estar a aproveitar-se das obras do Governo para fazer campanha, o socialista diz que é importante dar a conhecer o que o Governo fez de bom e os “resultados concretos” do seu investimento — para acrescentar depois que “neste caso” ali está no papel de candidato.

O candidato sentirá por esta altura que está a “escalar uma montanha“, como resumia Miguel Coelho em Lisboa. Mas, para Carneiro, a campanha “não podia estar a correr melhor”, dadas as baixas expectativas que existiam sobre a sua candidatura quando a lançou. Questionado sobre o que correu mal, menciona uma pequena desilusão — o facto de ter ficado com a denominação Lista B, e não Lista A, porque a outra candidatura “mandou um e-mail mais cedo” — mas não o maior erro que lhe apontam, o de ter sugerido que admitiria a viabilização de um Governo minoritário do PSD para travar o Chega, na primeira entrevista que concedeu enquanto candidato; entretanto já corrigiu a frase e nunca mais a repetiu.

José Luis Carneiro em visita ao Aeródromo de Ponte de Sor.

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Agora, falta, seja com o “poder da mente” ou da campanha feita em modo frenético, dar o tudo por tudo nos últimos dias para chegar ao máximo de militantes possível. Na quinta-feira, quando se despediu do Observador em Ponte de Sor, preparava-se para dormir pouco: às 6h da manhã teria voo para os Açores, uma incursão de última hora para garantir que não deixa nenhuma federação a descoberto. Mas, mais do que falar exclusivamente aos socialistas, tenta falar para fora, para quem acredita que votaria em si como primeiro-ministro (e orgulha-se de alguns apoios mais improváveis, como o de Tony Carreira). A tentativa de se apresentar como um David que surpreende contra um Golias que passou anos a preparar-se para este momento continuará a ser posta em prática até ao último momento. No sábado à noite se verá se deu frutos.

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