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ECB chief Lagarde visits container terminal
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Christine Lagarde fotografada durante uma visita a um porto logístico em Hamburgo, na Alemanha.

dpa/picture alliance via Getty I

Christine Lagarde fotografada durante uma visita a um porto logístico em Hamburgo, na Alemanha.

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Juros. Bancos centrais levantam o pé do acelerador mas garantem que inflação ainda é inimigo público n.º 1

BCE, Reserva Federal e Banco de Inglaterra. Os três vão esta semana anunciar aumentos dos juros a um ritmo mais lento do que nos últimos meses. Analistas recomendam cuidado ao BCE na subida dos juros.

Três dos bancos centrais mais poderosos do mundo vão anunciar, nos próximos dias, novas subidas das taxas de juro. Os aumentos devem, porém, ser menos expressivos do que as subidas de 75 pontos base que acabaram por se tornar banais nos últimos meses. Depois do aperto monetário que foi dos mais bruscos da história recente, a Reserva Federal dos EUA, BCE e Banco de Inglaterra vão agora levantar o pé do acelerador – mas garantem que isso não significa complacência no combate à inflação, que continua a ser o inimigo público número 1.

“Qualquer decisão que não seja um aumento de 50 pontos base seria uma grande surpresa”, afirma Christopher Rieger, líder da estratégia em taxas de juro do alemão Commerzbank, em antecipação à última reunião do Conselho do BCE em 2022, que acontece esta quinta-feira. “Embora vários membros do Conselho do BCE não tenham descartado a hipótese de mais um aumento de 75 pontos base, mesmo os governadores mais hawkish [mais avessos à inflação e como tal mais apologistas de uma política agressiva] parecem estar disponíveis a aceitar apenas 50 pontos”, acrescenta o especialista.

Para o Banco Central Europeu (BCE), a confirmar-se a subida de meio ponto percentual nas taxas de juro, isso levará para 2% a taxa dos depósitos – que continua a ser a principal ferramenta de política monetária do BCE. Quanto à chamada “taxa diretora”, que define os custos cobrados aos bancos nos leilões de liquidez do BCE, esta poderá subir para 2,5%, regressando aos níveis de finais de 2008.

Há menos de cinco meses, em finais de julho, as mesmas taxas estavam em -0,5% e 0%, respetivamente, o que mostra a rapidez com que os bancos centrais – neste caso, o BCE – apertaram a política monetária como tratamento de choque contra a inflação elevada. Nesta fase, depois do caminho que já se percorreu, até Mário Centeno já veio defender uma subida mais “moderada” do que os 75 pontos que foram o resultado das últimas duas reuniões do Conselho do BCE.

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"Se olharmos hoje para as taxas de futuros, daquilo que são as decisões esperadas pelo BCE, nós temos para dezembro um aumento mais reduzido do que aquilo que aconteceu nas últimas duas reuniões. Ou seja, os mercados esperam esse aumento mais reduzido (...) abaixo de 75 pontos-base e eu acho que estamos em condições de o promover."
Mário Centeno, governador do Banco de Portugal, à Rádio Renascença

Subidas vão continuar. Analistas veem juros nos 3% em 2023

Taxas de juro perto de 2% são aquilo que já foi definido por vários responsáveis do BCE como um patamar de juros sensivelmente “neutral” – ou seja, um nível em que a política monetária nem está a estimular nem a restringir a atividade económica. É nesse nível que a zona euro deverá entrar em 2023, mas a expectativa dos economistas é que, no início do novo ano, as subidas de juros devem continuar – o que pressupõe que as taxas de juro vão mesmo passar para território “restritivo”.

Após o previsível aumento de 50 pontos base desta quinta-feira, a expectativa dos analistas é que a 2 de fevereiro venha outra subida de meio ponto percentual, para 2,5%; depois, nas duas reuniões posteriores do Conselho do BCE, a 16 de março e 4 de maio, duas subidas de 25 pontos base, levando a taxa de juro (dos depósitos) para 3%.

“A nossa expectativa é que o BCE deverá aumentar a taxa de juro dos depósitos para um pico de 3%, no próximo ano, e deixá-la nesse nível até à segunda metade de 2024”, antecipa Andrew Kenningham, economista-chefe da consultora Capital Economics para a Europa. Mesmo que a zona euro entre numa recessão (ligeira) no início de 2023, o BCE estará disponível para continuar a subir os juros à entrada em 2023 – isso ficou bem claro nas atas da última reunião do BCE, sublinha o especialista.

“Depois de subestimar a tendência inflacionista que começou em 2017, o BCE parece agora estar a sobrestimar as pressões inflacionistas que irão persistir depois de ultrapassarmos este pico nos preços da energia e dos alimentos.”
Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank

E recessão é algo que o BCE não descarta – embora se diga que, a existir, será moderada e curta. Os dados económicos mais recentes dão alguma confiança de que, pelo menos, não se irá cumprir o “cenário mais adverso” admitido pelo BCE em setembro: uma quebra de 0,9% no PIB da zona euro em 2023. Os dados sobre a atividade industrial têm saído relativamente animadores e os preços da energia (sobretudo o gás natural) não estão nos níveis temidos pelo BCE quando estimou esse cenário adverso em setembro.

Porém, mesmo evitando-se esse cenário, uma recessão continua a ser vista como provável pelos economistas de vários bancos de investimento. A expectativa mais consensual é de crescimentos negativos (trimestrais) no último trimestre de 2022 e no primeiro trimestre de 2023 – cumprindo, assim, a definição de uma recessão técnica. Depois, porém, a previsão mediana dos economistas é que é possível um regresso aos crescimentos positivos a partir do segundo trimestre. Só assim se garantirá que 2023 possa ser um ano de crescimento positivo – embora pareçam otimistas os 0,9% apontados em setembro pelo BCE.

Dados económicos não têm sido tão "negros" quanto temido pelo BCE no seu "cenário adverso".

Bancos preveem recessão “superficial” e deixam aviso ao BCE

A expectativa do Goldman Sachs, por exemplo, é que o BCE esta quinta-feira irá rever em baixa a sua estimativa de crescimento para a zona euro para 0,2% em 2023, embora a projeção do próprio banco de investimento seja de uma contração de 0,1% na economia europeia no próximo ano. Também estará nas mãos do BCE garantir que não será pior do que isso.

Cabe ao BCE fazer com que a recessão não seja mais dura do que aquilo que precisa de ser”, avisa o alemão Holger Schmieding, economista-chefe do Berenberg Bank, numa nota recente. “Depois de subestimar a tendência inflacionista que começou em 2017, o BCE parece agora estar a sobrestimar as pressões inflacionistas que irão persistir depois de ultrapassarmos este pico nos preços da energia e dos alimentos”, diz o economista.

Holger Schmieding reconhece que o BCE, nesta fase, “preferirá errar pelo excesso” de aperto monetário, sabendo-se que se a inflação se descontrolar – “o que ainda não está a acontecer” – os custos de combater essa situação serão depois ainda maiores. “Porém, uma recessão desnecessariamente profunda ou longa também é algo que comporta riscos”, diz o economista.

Por exemplo, qual será o impacto sobre os riscos geopolíticos e sobre os preços da energia se uma recessão profunda na Europa contribuir para que aconteça aquilo que Vladimir Putin quer, isto é, um enfraquecimento da disponibilidade dos europeus para apoiar incondicionalmente a Ucrânia?”, pergunta Holger Schmieding.

Com os bancos de investimento a anteciparem que o BCE vai continuar a subir as taxas de juro no início do próximo ano, levando-as para níveis restritivos da atividade económica, Holger Schmieding avisa que será melhor não esticar tanto a corda: “Assim que as taxas de juro atinjam um nível mais ou menos neutral, o BCE deveria focar-se em garantir que não irá tornar o inverno que se avizinha, que será recessionário e desinflacionista, ainda pior do que inevitavelmente será”.

epa10292453 Russian President Vladimir Putin attends a meeting with Tver region governor Igor Rudenya (not pictured), during a working trip in the region, Russia, 07 November 2022.  EPA/SERGEI SAVOSTYANOV / KREMLIN POOL / SPUTNIK / POOL MANDATORY CREDIT

"Qual será o impacto se uma recessão profunda na Europa contribuir para que aconteça aquilo que Putin quer, isto é, um enfraquecimento do apoio dos europeus à Ucrânia", pergunta um economista.

SERGEI SAVOSTYANOV / KREMLIN POOL / SPUTNIK / POOL/EPA

Fed também reduz o ritmo das subidas de juros

A reunião do BCE acontece, como é habitual, na quinta-feira. Mas no dia anterior, ao final do dia na Europa, reúne-se o Comité de Operações no Mercado Aberto (FOMC, na sigla original) da Reserva Federal (Fed), que é o equivalente ao conselho do BCE – e a expectativa dos analistas também é de um aumento de 50 pontos base nas taxas de juro dos EUA.

Ao contrário do que acontece na zona euro, nos EUA não só já se chegou ao nível “neutral” de taxas como já se entrou num patamar restritivo da atividade: a fed funds rate já está num intervalo entre 3,75% e 4% e esta quarta-feira pode subir para 4,5% (topo do intervalo).

O presidente da Reserva Federal, Jay Powell, já sinalizou este abrandamento da subida dos juros – passar de 75 pontos base para 50 pontos em cada reunião – e tem colocado o ênfase não no ritmo de subidas mas, sim, no patamar de juros que a Reserva Federal acredita que será o “pico”, isto é, o valor que ao ser atingido levará o banco central mais poderoso do mundo a fazer uma pausa para dar tempo à economia para reagir ao novo nível de taxas de juro.

epa10282169 Chair of the Federal Reserve Jerome Powell holds a news conference following the Federal Open Market Committee meeting, in Washington, DC, USA, 02 November 2022. The Federal Reserve raised its benchmark interest rate by three-quarters of a point for a fourth straight time.  EPA/MICHAEL REYNOLDS

Jay Powell, presidente da Reserva Federal, tem avisado que não irá interromper a subida das taxas de juro até que a inflação dê sinais de inverter.

MICHAEL REYNOLDS/EPA

A perspetiva atual da generalidade dos analistas é que esse pico já não estará distante mas, depois da subida de 50 pontos base desta quarta-feira, ainda pode haver mais um par de subidas de juros – que poderá ser de 25 pontos base cada um, nos primeiros meses do ano.

“Vários membros do FOMC já reiteraram a promessa de que irão manter as taxas de juro no pico pelo menos até ao início de 2024“, diz Paolo Zanghiei, economista da Generali Investments, em nota de antecipação da reunião da Fed desta quarta-feira. Porém, afirma o economista, “esse compromisso vai ser severamente testado à medida que se agravar a situação económica” – por outras palavras, alguns analistas apostam que a Reserva Federal acabará por descer as taxas de juro mais cedo do que se prevê.

“A nossa expectativa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA aumente apenas 0,3% no próximo ano, com trimestres negativos no segundo e no terceiro trimestres”, diz a Generali Investments. “Tendo em conta esta nossa expectativa, parece-nos demasiado rosada a previsão da Reserva Federal de uma taxa de desemprego de apenas 4,4% no final de 2023”, afirma a gestora, acrescentando: “neste contexto, para tentar evitar uma aterragem brusca na economia, a Fed irá ver-se obrigada a cortar as taxas de juro mais cedo do que está a planear neste momento”.

Banco de Inglaterra também deve subir os juros em "só" 50 pontos

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Na quinta-feira, o mesmo dia da reunião do Conselho do BCE, também o Banco de Inglaterra deve subir os juros em “só” 50 pontos, uma desaceleração em relação à ultima decisão.

“Não podemos excluir por completo uma repetição do aumento de 75 pontos-base, esta quinta-feira, e de facto os últimos dados económicos que saíram recentemente reforçam uma visão mais hawkish por parte do banco central”, diz o ING.

Porém, depois dos meses turbulentos recentes – que levaram à demissão da primeira-ministra Liz Truss – “tendo em conta que os mercados estão a descontar uma subida de 50 pontos, temos muitas dúvidas de que o banco central irá querer abanar o barco nesta altura”.

Para já, porém, a expectativa é que Jay Powell esta quarta-feira volte a garantir que a Reserva Federal não irá deixar de subir as taxas de juro – a um ritmo mais ou menos veloz – enquanto a inflação não der mais sinais de inverter. O líder do banco central norte-americano quer evitar cometer o erro assumido de Paul Volcker que cedeu à pressão para interromper cedo demais a subida dos juros, acabando depois por ter de as subir mais ainda para, finalmente, conseguir controlar a inflação elevada.

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