Rui Rio está disponível para liderar uma futura maioria de direita se esta vier a surgir no quadro de futuras eleições legislativas — mesmo que o PSD seja a segunda força mais votada. A convicção que existe no núcleo duro do líder social-democrata é de que António Costa escolheu um lado — o da esquerda — e que já não existem condições políticas para influenciar a governação socialista. Consciente de que a tendência registada nas sucessivas sondagens dá como improvável uma vitória do PSD sobre os socialistas a curto e médio prazo, o quartel-general de Rio já vai olhando para todas as opções — e repetir o que António Costa fez em 2015 não está, de todo, excluído.

“Há um antes e um depois dos Açores. A campanha infame que o PS fez contra nós… A relação política entre Rui Rio e António Costa mudou. O PS está em pré-campanha eleitoral e nós vamos estar prontos para isso”, diz ao Observador um alto dirigente social-democrata. “E ninguém deve esquecer: quanto mais pressionado se sente Rui Rio, mais o seu sentido político fica apurado.”

De outra forma, vão cenarizando os homens de Rui Rio, o PS seria eternizado no poder. Em 2018, quando enfrentou Pedro Santana Lopes pela liderança do PSD, Rio chegou a dizer, preto no branco, que jamais faria ao PS o que António Costa fez a Pedro Passos Coelho. Daí para cá, o líder social-democrata afirmou, por diversas vezes, que, na impossibilidade de ganhar, o grande objetivo do PSD teria de ser afastar Bloco de Esquerda e PCP da esfera do poder. A disponibilidade para negociar com o PS chegou a valer-lhe acusações de “muleta de Costa” para cima. No entanto, para a direção do PSD, é já por demais evidente que António Costa preferiu dinamitar qualquer ponte com o PSD a tentar desenhar ao centro reformas indispensáveis para o país. E Rui Rio foi obrigado a ajustar a estratégia. A disponibilidade para ser primeiro-ministro mesmo sem ganhar eleições não é uma incoerência face a posições anteriores; é uma evolução. E uma resposta ao mundo novo construído por António Costa.

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