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Os vencedores, os vencidos e a sombra da Convenção da IL

Rui Rocha ganhou e confirmou favoritismo. Blanco afirmou-se como grande promessa. Cotrim escolheu o cavalo certo. Carmona, Mayan e Ferreira da Silva derrotados. E a grande sombra que paira na IL.

Os vencedores

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Rui Rocha

O mais decisivo, numa corrida a três, não era ganhar. Era ganhar com maioria absoluta. E, chegando aos 51,7%, Rui Rocha conseguiu. Durante a campanha, percebeu que havia um profundo descontentamento no partido, por isso começou logo a apresentar propostas que na verdade eram já cedências às reivindicações dos críticos: acabar com as inerências no Conselho Nacional, dar mais poder aos núcleos, descentralizar o partido e ouvir os militantes.

Agora, terá de cumprir — e rápido, porque a oposição saiu da Convenção exibindo o mesmo grau de fúria com que entrou. Nas últimas legislativas, Rui Rocha fez uma campanha “popular” em Braga e conseguiu ser eleito deputado quando isso não era uma expectativa generalizada.

Encaixa, por isso, no perfil que João Cotrim Figueiredo traçou para o novo líder. Mas Rui Rocha não pode ser uma mera criação do seu antecessor. Com dois ex-líderes marcantes no grupo parlamentar — mais uma originalidade da IL —, terá que mostrar personalidade, pulso e força.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

João Cotrim Figueiredo

O melhor discurso de despedida do agora ex-líder é uma sondagem: neste domingo, um estudo de opinião da Aximage coloca a Iniciativa Liberal com 9,5% e, mais importante do que isso, diz que Cotrim é o líder partidário com uma melhor avaliação de desempenho — tão boa, aliás, que é o único com uma avaliação positiva.

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Além disso, Cotrim entrega o partido ao candidato que ungiu desde a primeira hora (ou mesmo antes disso, tendo em conta que combinaram a saída de um e a entrada do outro antes de qualquer uma delas ser pública).

Nas horas finais como líder, teve a infelicidade de ceder à tentação de responder aos críticos em discursos, em entrevistas e em apartes no palco. Mas o que fica para o futuro não é isso: Cotrim saiu da Convenção em ombros.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Bernardo Blanco

Na anterior Convenção da IL, em dezembro de 2021, João Cotrim Figueiredo anunciou, naquele tom que fica entre a graça e a premonição, que Bernardo Blanco seria um futuro primeiro-ministro. Neste fim de semana, aquele que é agora um dos vice-presidentes de Rui Rocha continuou a ouvir elogios.

No sábado, fez uma intervenção longa, de resposta aos críticos, e foi um dos mais aplaudidos do dia (também foi apupado, mas, neste fim de semana, quem não foi?). Com 27 anos, é um dos dirigentes mais influentes do partido, está no parlamento — e há quem já o veja como candidato a líder.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Rodrigo Saraiva

Toda a gente sabia que Rodrigo Saraiva apoiava Rui Rocha, mas, sendo líder parlamentar, manteve a sua isenção em público. Não deve ter sido fácil. Durante a campanha, Carla Castro anunciou que pretendia provocar eleições no grupo parlamentar, o que mostrou que ele era um alvo.

E, na fase final, tornou-se notícia o facto de a sua mulher trabalhar para o partido, o que fez dele o símbolo de uma espécie de familygate liberal. Rui Rocha venceu, João Cotrim Figueiredo convenceu, Rodrigo Saraiva sobreviveu. Já não é mau.

A grande sombra

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Carla Castro

Foi a votos e perdeu. Mas há derrotas e derrotas. Teve 44% enfrentando a linha oficial do partido, contra mais de metade do grupo parlamentar e frente a um adversário que tinha a bênção de Cotrim Figueiredo, o grande rosto do sucesso recente da Iniciativa Liberal – ou seja, provou que é de facto querida no aparelho partidário.

Durante a Convenção, fez um discurso contra os “caciques” e “barões” da IL, foi ovacionada e quase virou a a reunião magna. Por momentos, chegou a instalar-se a perceção de que podia mesmo suceder a Cotrim Figueiredo — ao ponto de os apoiantes de Rui Rocha duvidarem de uma vitória que era considerada mais do que provável pela equipa que o acompanhava.

Também na Convenção, evitou entrar em confronto direto com Rui Rocha e, apesar das críticas que fez, não passou o ponto de não retorno em que a fratura se tornaria inevitável. Não sai ilesa — antes pelo contrário — mas não comprometeu por completo o seu futuro político — se tivesse optado por romper de vez a corda, seria muito difícil reerguer-se.

O ressentimento criado pela sua candidatura (pelo que disse e pela equipa que escolheu) existe e não será fácil de ultrapassar internamente — Rui Rocha, Cotrim Figueiredo e demais apoiantes sentiram-se traídos pela deputada. Mas, com o peso de 44% dos votos e a simpatia natural das bases, terá sempre uma palavra a dizer. Resta saber como é que vai gerir os seus tempos e o que quer fazer com o capital político que recebeu.

Os vencidos

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

José Cardoso

Era uma terceira via sem hipóteses reais de qualquer sucesso – os 4,3% atestam isso mesmo. Falhou aquilo que mais queria – forçar a hipótese de haver uma segunda volta – e perdeu o lugar no Conselho Nacional, que era o seu grande espaço de intervenção no partido.

Apesar de tudo, em alguns momentos da Convenção, pareceu, como chegou a dizer em cima do palco, o “adulto na sala”. Não fulanizou o debate, não se meteu nas tricas internas do partido e foi certeiro em colar Carla Castro a Rui Rocha – os dois fizeram parte da mesmíssima equipa que dirigiu a IL. Não foi suficiente para se afirmar como uma figura verdadeiramente incontornável. Mas se os problemas persistirem, poderá sempre dizer que teve razão antes do tempo.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Paulo Carmona

Foi o general de Carla Castro e foi ele que teve como missão fazer a marcação cerrada à candidatura de Rui Rocha. Começou a VII Convenção da Iniciativa Liberal a pedir “pudor” a João Cotrim Figueiredo e acabou a dizer que o principal adversário seria um líder “zangado”.

Pelo meio, o número dois de Carla Castro ainda se travou de razões com Bernardo Blanco, agora vice-presidente da IL, a dizer que cheirava a “mudança”, a criticar a “carneirada” dos outros e a jurar que os membros queriam o partido de “volta”. Os liberais que votaram não lhe deram razão. Tendo sido ele o apoiante de Carla Castro a assumir a responsabilidade de assumir o combate político mais duro dificilmente terá condições para ser acolhido pelas tropas de Rui Rocha.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Tiago Mayan Gonçalves

Na convenção anterior, tinha sido ovacionado. A prestação na campanha presidencial — sobretudo o bom desempenho durante os debates com Marcelo Rebelo de Sousa e André Ventura — fez dele uma estrelinha da Iniciativa Liberal. Mas a forma como chegou a esta reunião magna foi muito diferente.

Incendiou a campanha interna quando comparou a direção de Cotrim Figueiredo ao Comité Central do PCP – frase que se colou a Carla Castro como uma segunda pele e que a obrigou a justificar-se vezes sem conta. Nas intervenções que fez durante a Convenção, manteve a toada e insistiu nas acusações de dirigismo. Quando subiu ao palco, no entanto, ensaiou um elogio a Cotrim Figueiredo e ouviu o que não queria. “Agradece ao Comité Central”, cortou o agora ex-líder. Saiu pela porta pequena.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Miguel Ferreira da Silva

Com Carlos Guimarães Pinto a autoexcluir-se do debate interno, e com Cotrim Figueiredo a escolher o lado de Rui Rocha, Miguel Ferreira da Silva, presidente-fundador do partido, não quis ficar atrás e decidiu apoiar Carla Castro.

Mas, mais do que isso, decidiu entrar num confronto direto com Cotrim, dizendo, entre outras coisas, que o agora antigo presidente do partido estava demasiado excitado. “Um bom ex-líder é um ex-líder calado”, disse em entrevista ao Observador.

As intervenções que fez no palco da Convenção estiveram longe da franqueza e da violência que usou nos ataques aos adversários – e não mereceram grande resposta. Neste duelo particular entre dois antigos presidentes, um ganhou e o outro perdeu; um foi ovacionado e o outro quase não descolou. A derrota foi inequívoca. Tenho como prémio de consolação o bom resultado que teve para o Conselho Nacional, o que vai permitir manter alguma influência.

Carlos Guimarães Pinto

Ter tentado ficar em cima do muro até pode ser compreensível – como ex-líder da IL entendeu que não devia apoiar qualquer candidatura e que tinha o dever de se manter equidistante. Não é exatamente uma excentricidade ou uma originalidade de Carlos Guimarães Pinto.

Ainda assim, a forma como se demitiu de participar na discussão sobre o futuro do partido, dizendo que “não queria desviar as atenções daquilo que era verdadeiramente importante”, deu ares de um espírito messiânico pouco recomendável. Tinha obrigação de se  envolver mais com a vida interna da Iniciativa Liberal — afinal, é o partido que permite que seja deputado.

 
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