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Luís Montenegro e Rui Rocha almoçaram juntos para dar sinal de união entre PSD e IL
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Luís Montenegro e Rui Rocha almoçaram juntos para dar sinal de união entre PSD e IL

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Luís Montenegro e Rui Rocha almoçaram juntos para dar sinal de união entre PSD e IL

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

PSD e IL dão alternativa a Marcelo e isolam Chega

Montenegro e Rocha deram sinal a Marcelo: se ou quando quiser dissolver Assembleia, centro-direita está pronto para governar sem Ventura. PSD e IL têm pontes para day-after e aceleram convergência.

Um almoço com direito a fotografia que é muito mais do que um almoço e uma fotografia. Menos de 24 horas depois de António Costa ter afrontado diretamente Marcelo Rebelo de Sousa, abrindo uma crise institucional sem precedentes, Luís Montenegro e Rui Rocha fizeram questão de almoçar juntos, posar para a fotografia e, mais relevante ainda, publicitar esse encontro nos jornais. O objetivo foi um: dar um sinal a Marcelo Rebelo de Sousa de que os dois estão prontos para assumir responsabilidades governativas e deixar claro que o Chega está (literal e figurativamente) fora da mesa das negociações. Para já, pelo menos.

Entre os dois partidos não existe, nem vai existir, qualquer articulação formal até às eleições — independentemente de serem ou não antecipadas. Muito menos qualquer tipo de coligação pré-eleitoral. Mas existe a convicção de que é importante manter todos os canais abertos e a perceção de que o ambiente entre os dois partidos mudou definitivamente. O desgaste do Governo, refletido nas sondagens, acelerou o processo de convergência e a certeza de que é preciso abrir todas as portas para o dia seguinte às eleições. O almoço e a fotografia de Luís Montenegro e Rui Rocha serviram para isso mesmo: o centro-direita está a organizar-se para chegar ao poder.

Fontes dos dois partidos garantem ao Observador que a foto e o almoço não foram uma encenação, embora o momento escolhido para o efeito e a divulgação da imagem não sejam inocentes — um dia depois da declaração de Costa, horas depois da conferência de imprensa de Montenegro e no mesmo dia em que Rui Rocha dava uma entrevista à SIC e celebrava os cem primeiros dias à frente do partido. Existe, mesmo assim, a constatação de que o futuro político do país pode passar de facto por um governo de centro-direita com PSD e IL.  Isto não significa que os dois partidos tenham abdicado de concorrer entre si. Mas, nesta fase da maratona eleitoral, convém mostrar que o cimento do adversário comum – o PS – é muito mais sólido do que as diferenças que os separam.

No futuro, quando chegarem as eleições, Montenegro fará o derradeiro apelo ao voto útil à direita, mesmo que isso passe por tentar esvaziar a Iniciativa Liberal. Rocha fará igualmente o seu próprio caminho sabendo que os liberais não podem passar a imagem de que são muletas dispensáveis do PSD – sob pena de serem as principais vítimas de uma eventual vitória dos sociais-democratas. Se se mantiverem politicamente relevantes, logo decidirão o preço do apoio ao PSD — sendo que, entre liberais, dá-se a garantia de que o partido está preparado para entrar nesse eventual governo.

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“Tem de ser uma relação de iguais, sabemos que não temos o peso eleitoral que o PSD tem, mas, em termos de vontade, competência e responsabilidade somos partidos iguais. A relação tem de ser trabalhada nessa perspetiva. Estamos a falar de pares. Queremos ir separados, temos ideias e caderno de encargos próprios e sabemos que o PSD sem a IL nunca fará as reformas que o país precisa”, sublinha um destacado dirigente liberal ao Observador.

LUSA

IL pressiona PSD a cortar com Chega

Seja como for, a exclusão de André Ventura – há meses a pedir um encontro com o PSD para discutir eventuais soluções de governo à direita – reforça a narrativa que Montenegro se tem esforçado por vender e aquela que é a posição de sempre de Rui Rocha: o Chega não entra nas contas. Se o líder social-democrata acelerou o processo de demarcação em relação a Ventura (sem nunca fechar definitivamente a porta), Rocha sempre disse que recusará fazer parte de qualquer solução com o PSD (governo ou ‘geringonça’ parlamentar) que inclua o Chega.

No futuro, esse poderá ser um obstáculo à união de facto entre os dois partidos – basta ver que o PSD continua com dificuldades a dizer ‘com o Chega, jamais’ e em manter uma posição inequívoca em relação a futuras alianças. Ainda recentemente, em entrevista ao jornal Público e à Rádio Renascença, Miguel Pinto Luz, vice-presidente do partido, desafiado a dizer se Montenegro se referia diretamente ao Chega, resistiu em classificar aquele partido como partido “racista ou xenófobo”, contornando a linha vermelha teoricamente traçada pelo líder do PSD.

A Iniciativa Liberal teme essa ambiguidade latente. “Temos tentado pressionar o PSD ao máximo para marcarem o corte com o Chega — não por oportunismo, mas porque há muito eleitorado que não vota no PSD por receio de uma coligação com o Chega (como aconteceu com Rui Rio nas legislativas de 2022). É do próprio interesse do PSD fazer essa demarcação”, comenta o mesmo dirigente liberal. “O eleitorado que vota no Chega deve ser ouvido; o Chega deve ser acantonado.”

A entrevista de Luís Montenegro a Maria João Avillez, na CNN, ajudou a motivar a Iniciativa Liberal. O líder do PSD foi mais longe do que alguma vez tinha ido nas críticas ao Chega — mesmo que nunca o tenha nomeado. Depois dessa posição assumida pelo presidente social-democrata, os liberais sentiram conforto para dar um “sinal claro para fora” de que há uma proximidade entre os dois partidos. “Existem excelentes relações entre as lideranças, os órgãos do partidos e os deputados. É um caminho natural que está a ser feito. Mas um sinal não quer dizer que tudo está certo e fechado; a IL é um parceiro exigente“, antecipa fonte da IL.

Para todos os efeitos, o PSD tudo fará para poder dispensar alegremente o apoio do Chega em qualquer futura solução de poder à direita. E, para Luís Montenegro, há três palavrinhas mágicas: condições de governabilidade. Tradução: que não exista uma maioria de esquerda capaz de derrubar um eventual governo liderado pelo PSD. Ora, isso pressupõe que o Chega seja forçado a viabilizar uma solução de direita, incluindo orçamentos, mesmo não tendo lugar à mesa das negociações – cenário que Ventura já recusou em vários momentos e em de forma bastante clara. Isso, para já, são outros quinhentos.

Existe a convicção de que é importante manter todas as portas abertas e a perceção de que o ambiente entre os dois partidos mudou definitivamente. O desgaste do Governo, refletido nas sondagens, acelerou o processo de convergência entre os dois partidos e a certeza de que é preciso manter todas as portas abertas para o dia seguinte às eleições. O almoço e a fotografia de Montenegro e Rui Rocha serviu para isso mesmo: o centro-direita está a organizar-se para chegar ao poder.

Marcelo tem luz verde, mas o momento não é o ideal

Ao contrário de Rui Rocha (e de André Ventura), Luís Montenegro tem resistido em pedir eleições antecipadas. Seja no plano formal – o PSD recusa apresentar uma moção de censura ao Governo por entender que seria um “frete” ao PS –, seja no plano discursivo. Horas antes do referido almoço com o líder da IL, o presidente social-democrata deu uma conferência de imprensa onde deixou claro isso mesmo: “Não será por minha causa que haverá eleições antecipadas. Não as pedimos. Não somos nós que queremos lançar o país para uma situação de instabilidade.”

A contenção de Montenegro tem duas razões de ser. Em primeiro lugar, o PSD, além de não poder fazer nada de objetivo para provocar uma ida às urnas, não quer ficar com o ónus de pedir eleições antecipadas – algo que, à luz de todas as sondagens, é altamente impopular. Alimentar a ideia de que António Costa está a provocar uma crise, a atirar o país para umas eleições que os portugueses não parecem desejar, serve os propósitos de Luís Montenegro, que precisa de consolidar a imagem de líder da oposição responsável e capaz de oferecer uma verdadeira alternativa ao país.

Em segundo lugar, este não é, nem nunca foi, o calendário dos sociais-democratas. Tal como escrevia o Observador ainda em janeiro deste ano, no núcleo duro do PSD, existe a convicção de que este é o tempo de o PS assumir responsabilidades e de lidar com as consequências das decisões que tomou. O precipitar do fim de ciclo seria um um revés porque é preciso que a perceção de que a crise é da responsabilidade dos socialistas se instale verdadeiramente antes de tentar herdar o poder – sob pena de se repetir a experiência da troika e os danos reputacionais que daí resultaram para o PSD.

Para os sociais-democratas, se há lição que se pode retirar do que foi a passagem de testemunho entre José Sócrates e Pedro Passos Coelho é a de que o PS é pródigo em criar na opinião pública a ideia de que não tem qualquer responsabilidade nas crises em que o país mergulha. No passado, isso já fez mossa no PSD; importa impedir a todo o custo que isso volte a acontecer. Olhando para todos os indicadores (políticos, económicos e sociais), a oposição, à direita e à esquerda, acredita-se que os próximos meses vão acentuar a degradação do Governo socialista. “O PS está a apodrecer aos bocadinhos”, defende fonte do PSD. Impera, portanto, a lógica bonapartista: não serão os sociais-democratas a interromper o adversário quando está a cometer erros sucessivos.

Mesmo com estas contas, que vão sendo efetivamente feitas, Montenegro aproveitou a dita conferência de imprensa para deixar completamente nas mãos de Marcelo a chave para o dilema. “Não recusaremos eleições antecipadas. Não sendo a nossa opção, o país pode contar com a nossa alternativa. Respeitarei qualquer que for a decisão do Presidente da República. O que lhe queremos assegurar é que há uma alternativa política a este Governo caótico”, sublinhou o líder do PSD.

Independentemente da decisão de Marcelo Rebelo de Sousa sobre o futuro de António Costa, cozer em lume brando ou fritar de vez o primeiro-ministro, Montenegro e Rui Rocha deram o sinal que o Presidente pedia – à direita, há margem e vontade para entendimentos sem Chega. Marcelo tem agora todas as cartas na mesa, menos uma e a mais decisiva: a aritmética parlamentar que vai resultar de uma futura eleição.

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