Uma publicação nas redes sociais, feita no dia 11 de março — ou seja, um dia depois das eleições legislativas deste mês –, pergunta ao Bloco de Esquerda e ao PCP se “estão satisfeitos”, alegando que estes partidos “votaram sempre contra” os últimos quatro Orçamentos do Estado propostos pelo governo socialista.

A pergunta pode ter vários sentidos: pode ter a ver com os resultados eleitorais, uma vez que a esquerda não conseguiu chegar à tão desejada maioria parlamentar que queria alcançar para manter a direita afastada do poder; ou pode ser uma referência aos acordos com o PS que parte da esquerda assumiu mesmo querer assinar. Aliás, já depois das eleições, e apesar de ter entrado em choque com o PS nos últimos anos, o Bloco de Esquerda lançou a iniciativa de se reunir com os restantes partidos de esquerda para começar a construir uma alternativa à direita, a partir da oposição.

O problema está na premissa da afirmação, embora esta esteja maioritariamente certa. Os tempos em que a esquerda toda junta aprovava os orçamentos socialistas acabaram com os acordos da geringonça, em 2019. A partir daí, os diálogos ficaram mais periclitantes e os Orçamentos do Estado passaram a estar dependentes das abstenções da esquerda. No caso do Orçamento para 2020, foi assim que aconteceu: o documento passou com as abstenções do Bloco de Esquerda, PCP, PEV, PAN e Joacine Katar Moreira.

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Entramos então nos quatro anos que esta publicação refere. É no Orçamento de 2021 que há uma imprecisão: neste caso, o PCP ainda ajudou o documento a passar, abstendo-se, ao lado de PEV, PAN e das deputadas não inscritas Cristina Rodrigues e Joacine Katar Moreira. O Bloco já então votou contra.

Quanto ao Orçamento para 2022, foi o que levou à quebra total do diálogo à esquerda: neste caso, tanto Bloco como PCP passaram a votar contra, tal como a direita, o que levou ao chumbo do documento e à queda do governo.

Nos casos de 2024 e 2023, é verdade que a esquerda, que já se assumia totalmente como oposição à maioria socialista, voltou a votar, tal como a direita, contra, mas o documento passou de qualquer forma porque o PS contava com a maioria absoluta dos deputados (e contou também com as abstenções do Livre e do PAN, em ambos os casos).

Conclusão

A afirmação está quase correta, uma vez que a esquerda passou, a partir de 2020, a votar contra a maior parte dos Orçamentos do Estado do PS. Ainda assim, há uma parte que é factualmente incorreta: num desses anos, em 2020, quando se votava o Orçamento para 2021, o PCP ainda ajudou o documento a passar, abstendo-se.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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