Um vídeo publicado no Facebook está a ser instrumentalizado para colocar em causa as dificuldades que os indígenas brasileiros do povo Yanomami dizem estar a atravessar para aceder a comida. “Índios passando fome?”, questiona a mensagem deixada nas redes sociais: “Vai vendo…!”

O conteúdo ressurgiu nas redes sociais poucos dias depois de o governo brasileiro ter decretado emergência em saúde pública no território Yanomami, que tem mais de 30 mil habitantes. O Ministério da Saúde constatou que há “crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição grave, além de muitos casos de malária, infeção respiratória aguda (IRA) e outros agravos”, pode ler-se no comunicado de 21 de janeiro.

O vídeo em questão é de um indígena de outra comunidade.

As imagens publicadas dias depois, a 30 de janeiro, mostravam filas de automóveis que custam milhares de euros conduzidos por indígenas brasileiros. O autor da publicação faz uma associação indireta entre os dois eventos, sugerindo que aqueles eram indígenas Yanomami e que, se têm carros, não passarão fome. Mas essa lógica cai por terra desde logo porque as pessoas nas imagens não são Yanomami.

Originalmente, o vídeo foi publicado na aplicação Kwai — utilizada normalmente para publicar conteúdos de curta duração — por Walakolary, um internauta que pertence ao povo Enawenê-nawê. O próprio autor confirma que os carros nas imagens pertencem àquela comunidade, que vive nos territórios de Juína, em Mato Grosso. Outros vídeo com esses automóveis também foram colocados no Tik Tok.

Conclusão

É falso que as imagens no vídeo provem que, afinal, os indígenas brasileiros não estão a passar fome. Os indivíduos que surgem junto a carros parados numa estrada pertencem à comunidade Enawenê-nawê, enquanto os alertas de subnutrição referem-se ao povo Yanomami.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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