A publicação em causa refere que “mais de 2 milhões de portugueses recebem por ano 7.095 euros de ordenado” e que “mais do que isso ganha por mês o Presidente da República”. Ora, em causa estão duas afirmações distintas e com avaliações também diferentes. Mas comecemos pela primeira parte. A frase surge num post de Facebook no dia em que o Instituto Nacional de Estatísticas (INE) publicou um relatório intitulado “A taxa de risco de pobreza aumentou para 17,0% em 2022”.

O inquérito às condições de vida e rendimento foi realizado em 2023 e tinha como o base os rendimentos do ano anterior. A conclusão é clara: “17% das pessoas estavam em risco de pobreza em 2022, mais 0,6 pontos percentuais (p.p.) do que em 2021.” Assim, o INE esclarece que “a taxa de risco de pobreza correspondia, em 2022, à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos (por adulto equivalente) inferiores a 7.095 euros (591 euros por mês)”.

Desta forma, o INE conclui que “a taxa de risco de pobreza em 2022 correspondia à proporção de habitantes com rendimentos monetários líquidos anuais por adulto equivalente inferiores a 7.095 euros (591 euros por mês)” e que a “linha de pobreza relativa” corresponde a “60% da mediana (11.824 euros) da distribuição dos rendimentos monetários líquidos equivalentes, que aumentou 7,4% em relação ao ano anterior (11.014 euros)”. Em resumo, o relatório realça que, “em 2022, existiam 1.779 residentes em risco de pobreza, mais 81 mil do que no ano anterior (1.698 milhares de pessoas em 2021)”.

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Esta frase do relatório prova que, ao contrário do que diz a publicação, não há mais de dois milhões de pessoas em risco de pobreza. Há, sim, quase 1,8 milhões de cidadãos nesta situação.

Por outro lado, e olhando para a segunda parte da frase, é verdade que o Presidente da República recebe mais mensalmente do que os 7.095 euros anuais que limitam o limiar da pobreza. De acordo com dados partilhados pelo Dinheiro Vivo em julho de 2023, Marcelo Rebelo de Sousa recebe atualmente 106.820 euros brutos, o que significaria cerca de 7.630 euro por mês se o valor for dividido por 14 meses, mas está sujeito a um corte de 5% que foi criado em 2011 e que baixa o salário bruto mensal para os 7.400 euros.

Conclusão

É abusivo, tendo em conta os números reais do Instituto Nacional de Estatística (INE), afirmar que mais de dois milhões de portugueses recebem por ano 7.095 euros. O relatório do INE, divulgado no mesmo dia da publicação em análise, revela que em 2022 houve quase 1,8 milhões de residentes em risco de pobreza, que é estabelecido pela marca dos 7.095 euros em rendimentos anuais. Portanto, não é verdade que chegue aos dois milhões de cidadãos referidos na publicação. Por outro lado, e tendo em conta o resto da publicação, é verdade que o Presidente da República recebe mais do que esse valor mensalmente.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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