Na abertura do debate do Estado da Nação, António Costa congratulou-se pelo facto de a economia ter tido um crescimento real (a preços constantes, excluindo inflação) de 9% nesta legislatura. Se a economia crescer 1,9% em 2019, como continua a prever o Governo, o crescimento acumulado ficará próximo desse valor “arredondado”.

Porém, ficará ligeiramente abaixo se a economia crescer este ano menos do que o Governo prevê. E há várias entidades nacionais e internacionais, cuja pontaria várias vezes foi questionada pelo executivo de António Costa, que apontam para uma taxa de crescimento mais baixa.

Ainda esta quarta-feira, a Comissão Europeia manteve-se firme na sua projeção de que o crescimento não irá além dos 1,7% este ano. E o Banco de Portugal também tem a mesma projeção: 1,7%.

A OCDE, por seu lado, aponta para 1,8% — e, se assim for, o crescimento real será, de facto, de 8,9% em termos reais (se for 1,7% o valor já se aproxima de 8,8%).

Ainda assim, a diferença não é substancial para que se considere a análise do primeiro-ministro “esticada”.

E crescimento à conta de quê? E que compara como?

As declarações de António Costa que são mais questionáveis ou, no mínimo, debatíveis, quando o primeiro-ministro fala sobre as bases do crescimento e, por outro lado, quando fala sobre a comparação das taxas de crescimento em Portugal com outros países.

“É um crescimento fortemente sustentado no investimento empresarial apoiado na elevada execução do PT2020 mas, também, no aumento das exportações”, referiu António Costa. Ora, os principais contributos para o crescimento económico na legislatura são, é certo, as exportações – mas o outro maior contributo é o do consumo privado, porque o investimento contribuiu cerca de 60% daquela que foi a contribuição do consumo privado.

António Costa acrescentou que em 2017 se retomou a convergência com “a média da União Europeia”, que prosseguiu em 2018 e 2019. Esta também é uma análise correta (embora 2019 ainda vá apenas a meio) já que a economia portuguesa cresceu 1,9% em 2016, 2,8% em 2017 e 2,1% em 2018. Nestes dois últimos anos referidos, 2017 e 2018, a economia europeia cresceu menos: 2,5% e 1,9%, respetivamente.

Se a economia europeia crescer 1,3% este ano, como apontam algumas previsões, um crescimento de 1,9% (previsto pelo governo) ou, mesmo, 1,7% (como prevê a Comissão Europeia), este será mais um ano em que Portugal estará a crescer acima da média.

Mas, para o PSD, esta é uma comparação que não faz sentido, porque a média de crescimento europeu está a ser muito afetada pelo crescimento menos veloz das maiores economias europeias, como a Alemanha, França e Itália.

Daí que António Leitão Amaro, deputado do PSD, tenha lamentado que “Portugal cresce menos do que todos os países com quem compete, com quem se compara”. Em 2018, por exemplo, o crescimento de 2,1% em Portugal compara com os 2,5% em Espanha. E compara com os 2,9% da República Checa, com os 5,1% da Polónia e os 6,8% da Irlanda.

Mais países? Hungria cresceu 4,9% no ano passado, mais de duas vezes o crescimento de Portugal, a Estónia cresceu 3,9%, Letónia 4,8% e Lituânia 3,4%. A lista continua…  “Nós já somos quase dos últimos e temos 22 países à nossa frente”, lamentou António Leitão Amaro.

O deputado do PSD acrescentou outro indicador — a queda do Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Ora, apesar de a economia ter acelerado (até 2017), a riqueza gerada por habitante caiu no último ano em que há dados. Segundo dados divulgados no final de 2018 pelo INE e pelo Eurostat, o Produto Interno Bruto (PIB) per capita, expresso em paridade de poder de compra, recuou em 2017 para 76,6% da média da União Europeia.

Foi uma redução de 0,8 pontos percentuais em relação ao ano anterior e é o quarto mais baixo da UE, algo por que Leitão Amaro censurou o Governo — na opinião do social-democrata, é fruto do “vosso caminho errado, a vossa falta de reforma que conseguiram terríveis proezas como: o regresso do maldito défice externo, a queda da produtividade e a queda da poupança”.

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