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… mas em algumas pessoas tem o efeito contrário: depressão, ansiedade, apatia, alterações da rotina de sono ou um permanente estado de inquietação durante o verão. |
Já ouviu falar em pessoas assim? Conhece algumas? Ou revê-se nesta descrição? Se sim, talvez sofra de depressão sazonal — ou, recorrendo ao termo clinicamente mais correto, Perturbação Afetiva Sazonal. Não é fácil chegar a um diagnóstico destes e a ideia de se poder aplicar a si teria, naturalmente, de passar por várias fases de avaliação por parte de um profissional de saúde. Mas o problema existe. E entendê-lo e aceitá-lo pode ser um alívio grande para quem, ano após ano, estação após estação, ciclicamente passa por ele. |
A Perturbação Afetiva Sazonal é o nome dado a um conjunto de sintomas comuns a outros tipos de depressão, mas que têm como característica distintiva o facto de ocorrerem mais frequentemente nas mudanças de estação do ano, quando a meteorologia muda. Não se sabendo ao certo o que a provoca, a alteração do número de horas de luz natural é, frequentemente, a hipótese mais sugerida por especialistas, face à influência que esta tem na produção de melatonina e serotonina, dois neurotransmissores cujo défice tem consequências no cansaço ou irritação. Sendo obviamente mais comum no inverno e em países com poucas horas diárias de sol, o verão em Portugal também pode trazer um sofrimento cíclico que não se deve desvalorizar. |
É essa a opinião de Alexandra Antunes, convidada da mais recente edição da série de entrevistas Sair do Labirinto (nas quais já abordamos temas como trauma, adição online, ansiedade, depressão pós-parto, burnout, Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção ou Perturbação Bipolar, entre muitos outros). A psicóloga conversou sobre este problema de saúde mental e de alguns factores que o podem desencadear — pode ver aqui a entrevista em vídeo ou ouvir aqui em formato podcast. |
Um deles, por estranho que possa parecer (ou menos comum para a maioria das pessoas) é justamente aquilo que tenta gente aprecia nas férias: a falta de rotina e de obrigações. É que a quantidade de tarefas que é preciso desenvolver no dia a dia pode ser muito securizante e transmitir uma tranquilidade que é útil para enfrentar os desafios quotidianos. Mas há mais: “Imagine que há problemas familiares e o trabalho é um escape”, diz Alexandra Antunes. ”A aproximação das férias pode ser um problema, porque aquelas duas pessoas vão passar muito mais tempo juntas e não sabem como lidar com isso. E aí não tem a ver com o clima, mas com a situação a que estão sujeitas.” |
Sintomas como ansiedade, falta de apetite, irritabilidade, perda de interesse em actividades que noutras alturas dão prazer, tristeza, ansiedade, sensação de vazio ou dificuldade em adormecer ou acordar são habitualmente associados a depressão. Mas quando são cíclicas e estão associadas a uma determinada altura do ano em particular, aí podemos falar de depressão sazonal. |
Não é fácil diagnosticar esta patologia, justamente pela dificuldade em relacioná-la com uma altura do ano em específico, mas a psicóloga refere que, quando se chega a uma conclusão, esta é habitualmente acompanhada por uma sensação de alívio. “Imagine o que é saber, finalmente, porque se sente sempre desta ou daquela maneira numa determinada altura do ano.” E, tendo um tratamento semelhante ao de outra depressão causada por outra razão, de uma coisa a psicóloga tem a certeza: não adianta dizer a alguém que se está a sentir deprimido no verão “sai mas é de casa porque o dia está bonito”. Não só não vai resultar como pode ter o efeito adverso. Em vez disso, sugere Alexandra Antunes, o ideal é perguntar à pessoa se precisa de ajuda ou se quer conversar. |
O eterno mito de que o verão, o calor e os dias longos curam a tristeza toda não se aplica aqui. Pelo contrário. |
E por falar em mitos… Já conhece a nova rubrica do Mental? Chama-se justamente O “Médico dos Malucos” e Outros Mitos sobre Saúde Mental e, tal como o nome indica, tentará desfazer alguns equívocos e falsas verdades sobre psiquiatria e saúde mental. |
Todos os meses, a subdiretora Sara Antunes de Oliveira e o psiquiatra Gustavo Jesus falarão sobre ideias que é preciso desfazer para garantir que a informação atualizada, baseada na ciência, chega ao maior número possível de pessoas. Sem ideias pré-concebidas e sem estigma. O primeiro episódio está disponível AQUI e é precisamente sobre o estigma em torno da profissão de psiquiatra, o que faz ainda com que muitos doentes resistam a procurar ajuda. Em breve lançaremos um novo episódio, sobre outro mito. |
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