Sem meias-palavras, que não cultivo, assumo desde já que desconfio por princípio de greves na Administração Pública. Porque são, por regra, greves de sectores mais protegidos (os grevistas não correm o risco de perderem os seus empregos, por exemplo, se as suas reivindicações forem irrealistas), tal como são greves contra os contribuintes, que no fim pagarão a factura, assim como afectam geralmente mais os mais fracos e mais pobres, os que mais dependem dos serviços públicos. Não é por acaso que, em Portugal, a esmagadora maioria das greves são ou na Administração Pública ou em empresas públicas.
Faço esta introdução por uma razão simples: à partida não tenho nenhuma razão para simpatizar com a greve dos enfermeiros. Posso perceber algumas reivindicações, até concordar com elas, discordar de outras (e discordar mesmo radicalmente, como sucede com a reivindicação de reforma aos 57 anos), mas não é esse o ponto deste artigo. Tenho é todas as razões para simpatizar com o seu sentimento de que estão a ser tratados como enteados por um poder político por não terem padrinhos na geringonça.
Por isso mesmo o que hoje me interessa é verificar como a nossa esquerda, começando no governo de Costa e acabando no Bloco, passando pelo inevitável PCP, voltou a mostrar a intolerância de sempre: quem não é dos nossos, quem não está connosco, só merece ser tratado à pedrada – sobretudo se se atreverem a serem sindicador fora da tutela da CGTP e UGT e falarem em nome dos trabalhadores. Nesse exercício de flagelação vale tudo, em mais uma demonstração de que, em Portugal, a cultura democrática é um verniz fino que estala à primeira contrariedade.
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