Vivemos tempos bizarros num país mergulhado numa profunda crise ética e moral, quiçá sem precedentes na história da nossa democracia.

Ainda que não seja apologista do arco de suspeição criado em torno da política portuguesa – ou será dos políticos? –, a verdade é que a última década nos tem deixado um triste espetáculo em torno da sociedade lusitana. Desde a política à banca, passando pelo desporto e pelo mundo das artes, muitos são os exemplos que deviam envergonhar os herdeiros dos portugueses que descobriram meio planeta, combateram nas grandes batalhas do seu tempo ou, entre tantos outros feitos, lograram uma mudança de regime sem derramar nas ruas o sangue dos seus conterrâneos.

Atualmente, substituímos os ricos debates ideológicos de verdadeiras reformas políticas por supérfluas discussões parlamentares em ambiente para-clubístico. Permutámos as ideias sobre o futuro de um país por reality shows partidários – alguns até com as cenas mais apimentadas de pugilato! E tudo isto, claro está, perante um absoluto desligar, por parte dos cidadãos, das instituições que, por presunção, os deviam representar.

Tive a honra de crescer e aprender com a definição de Homem bom: entre a estrutura mental militar e a coluna vertebral de um democrata, nunca dado a particulares euforias e com uma capacidade ímpar de assumir as suas posições sem deixar de respeitar a diferença. Um Homem com valores certos e dos quais nunca esteve disposto a abdicar, mesmo quando tal postura implicou abandonar um percurso de toda uma vida nas forças armadas. Alguém que não temia sentar-se ao lado do seu amigo, mesmo quando todos o olhavam de lado.

Numa das últimas conversas que tivemos, transmitiu-me a sua profunda desilusão pelo estado da nação, sentimento que, aparentemente, é partilhado por muitos, atendendo aos números revelados numa recente sondagem, onde mais de 80% dos portugueses se demonstraram recetivos a mudanças profundas na estruturação do nosso sistema político e onde poucas instituições conseguiram obter níveis de confiança superiores a 50%.

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Temo um dia olhar para trás e perceber que a nossa sociedade fez desaparecer o homem bom. A responsabilidade será sempre nossa, sobretudo se desistirmos de tentar mudar o curso dos acontecimentos que a ninguém aproveitam e que a todos, sem exceção, deveriam envergonhar.

P.S. Este artigo representa uma singela homenagem ao Sr. General Manuel Moreira Maia, falecido no passado dia 05.06.2023, meu avô.