Já aqui tive oportunidade de emitir as minhas dúvidas acerca da garantia de vida eterna pretensamente oferecida pela ciência de ponta… No fundo, trata-se de uma versão laicizada da vida eterna prometida pelas religiões. Ora, o regime pandémico em que estamos a viver é o actual responsável pelo desejo de viver para sempre e, daí, a permanente promessa de uma vacina…

Em compensação, o Financial Times publicou nesta quinta-feira um artigo excelente acerca daquilo que é lícito esperar, embora sem garantia, de uma vacina bem-sucedida a curto prazo, sem que todavia isso esteja garantido e, mesmo quando a vacina surgir, por fim, em quantidade para todos, não é garantido que seja duradoura. Nada mais incerto por ora. É, pois, na incerteza que teremos de viver pelo menos por um ano…

Por motivos óbvios, pouco ou nada se poderá fazer entretanto em matéria de recuperação e muito menos dessa “resiliência” que os publicitários do PS descobriram à última da hora… O volume colossal de dinheiro que a Comissão Europeia prevê despejar sobre os países mais aflitos com a crise económica desencadeada pelo coronavírus, só torna mais embaraçoso ainda, saber em que o gastar utilmente. Como era fatal, Portugal é um dos países que encabeça a lista de recipientes: qualquer coisa como um total superior a 50 mil milhões de euros nos próximos 10 anos, uma boa parte à borla!

A primeira pergunta que um governo sério faria nestas condições, é por que razão foi Portugal um dos países que mais perdeu e continua a perder devido à pandemia? Com efeito, porque nos encontramos nós, juntamente com outros países do Sul da Europa, no topo dos beneficiários deste “bodo aos pobres” para o qual nada contribuímos? Será que os economistas afectos ao Governo não percebem que Portugal perdeu durante a crise pandémica tanto mais riqueza quanto menos a acumulou nos últimos vinte anos de estagnação? Qualquer teoria do desenvolvimento económico interiorizou há muito tempo a ideia de que “o capital é feito em casa”; não vem de fora; não é dado; quando muito, emprestado! Se o enriquecimento se devesse ao “saque imperialista”, então Portugal teve séculos para o fazer…

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A prova do embaraço em que o actual Governo se encontra perante o dinheirão que vem aí, não reside apenas em ir pedir a uma pessoa de fora do sistema para lhe dar ideias… A tragédia política que vivemos hoje, é que o Governo não aprendeu nada e não sabe o que fazer de útil com o dinheiro. Tudo o que o PS aprendeu foi a comprar votos: tanto dos ricos como dos pobres, só variam os quantitativos e os métodos. O programa que o Primeiro-Ministro pediu ao Professor Costa Silva não podia deixar de se resumir a uma lista mais ou menos longa de coisas que se podiam fazer, mas sem relação umas com as outras, nem qualquer experiência da economia real, para não falar do planeamento no tempo. Por isso acabou por ser reduzido a um cardápio propagandístico e inarticulado, bem menos útil do que os PDFs sobre “A crise económica do Covid-19” de Augusto Mateus e a sua equipa!

Quanto ao resumo do Primeiro-Ministro desse “programa de recuperação” financiado pela UE (para já, cerca de 30 mil milhões de euros), não é mais do que uma peça de propaganda onde atribui muito do dinheiro àquilo que o PS acha que os portugueses mais ambicionam! Desde logo, tratando-se de uma tragédia sanitária que afectou sobretudo a crescente população idosa do país, o Governo apressou-se a atribuir, sob o título pomposo de “resiliência”, a maior fatia às… “vulnerabilidades sociais” com a “saúde” à frente. É quase ridículo anunciar 3200 milhões de euros para melhorar o sistema de saúde e o parque habitacional que o PS anda a anunciar, quando os portugueses já gastam com a saúde, entre o público e o privado, mais de 20 mil milhões, fora a habitação social, que é, de resto, ínfima!

Sobram menos de 10 mil milhões de euros para as outras oito rubricas sem articulação entre elas: 2500 milhões para o ensino profissional misturado com a agricultura e uma misteriosa “resiliência financeira”! Sob a mesma marca da tal “resiliência”, haveria um pouco mais de tudo por 1500 milhões, desde o “cadastro fundiário”, interrompido há século e meio, até às fatais “obras públicas” sem as quais o PS não vive… Resta a promessa de duas “transições” inevitáveis – a climática e a digital – com 5700 milhões por junto, dos quais um naco de 1800 milhões para a inevitável administração pública… Depois, já com juros, há-de haver mais 16 mil milhões de euros, mas não se sabe para quê… nem para quem! Quem sobreviver, verá o que se fez com esse maná!