A saída do Reino Unido da União Europeia e os ajustamentos no modelo de crescimento alemão impostos pela guerra (como escrevi no artigo publicado há duas semanas), dão uma nova centralidade à França no destino da Europa nos próximos anos. Este domingo, os franceses vão às urnas escolher entre o atual Presidente Emmanuel Macron e Marine Le Pen. As sondagens apontam para uma vitória do atual presidente, com cerca de dez pontos de diferença. Mas mesmo ganhando, os desafios de um segundo (e último) mandato de Emmanuel Macron, serão enormes, para a França e para a Europa.
Apesar das tentativas, por sinal muito contestadas, de reformar alguns aspetos muito rígidos da economia francesa, permitindo à França subir sete lugares no ranking do Fórum Económico Mundial para o 15º país mais competitivo do mundo, os resultados económicos do primeiro mandato do Presidente Macron foram mistos. Foi um dos países mais afetados pela covid, com uma queda no PIB de 7,9% em 2020, pior do que os 5,9% da União Europeia. Mas a desaceleração já tinha começado antes da pandemia, com a taxa de crescimento a descer de 2,3% em 2016 para 1,8% em 2019. Antes da pandemia o défice já era superior a 3%, atualmente encontra-se em 6,5%. A dívida pública ultrapassou 110% do PIB em 2020, o que torna o país mais sensível a futuras variações nas taxas do BCE. Pela positiva, a taxa de desemprego diminuiu durante o primeiro mandato, mas ainda assim, com 7,9% é a sexta mais elevado da União Europeia.
Quando lançou em 2016 o seu movimento En Marche, Macron assumia-se como o herdeiro dos valores da direita e da esquerda moderadas, eliminando as linhas de separação políticas tradicionais em favor de uma separação entre os que queriam reformar a França e os que queriam que tudo ficasse na mesma. Mas as reformas que não foram possíveis no primeiro mandato serão seguramente mais difíceis no segundo, cujo início está marcado pela guerra e pelos seus efeitos negativos sobre nos preços e nos rendimentos disponíveis das famílias.
Perante este cenário, a insatisfação e divisões entre cidadãos dificilmente se atenuarão. A diferença face ao início do primeiro mandato de Macron é que agora o centro moderado, reformista e europeísta está essencialmente representado pelo próprio Presidente, que não se poderá recandidatar em 2027. Os partidos moderados de direita e de esquerda que se posicionavam nesse espaço quase desapareceram. A chave para entender se a França poderá ser o centro de gravidade na Europa no futuro passa por saber se haverá um sucessor credível e carismático dentro do partido de Emmanuel Macron ou se existe alguma hipótese de os partidos moderados de esquerda e de direita renascerem das cinzas.