Durante 24 anos o Partido Socialista governou nos Açores. Entre 1996 e 2020 os socialistas controlaram o governo regional da Região Autónoma dos Açores, primeiro com Carlos César e depois com Vasco Cordeiro. Nas eleições legislativas regionais de 2020, os açorianos decidiram finalmente libertar-se de mais de duas décadas de socialismo, criando as condições para a mudança do ciclo político e a constituição de um governo de centro-direita, composto pelo PSD, CDS-PP e PPM, e com o apoio parlamentar do Chega e da Iniciativa Liberal.

Herdando um legado muito negativo dos socialistas, marcado por um agravamento significativo da dívida pública da região, o novo governo dos Açores tem privilegiado o investimento e o crescimento económico, assente numa redução de impostos, com o objetivo de construir uma região socialmente mais coesa, no quadro de uma estabilidade parlamentar resultante dos resultados das últimas eleições. Até à semana passada, quando a Iniciativa Liberal rasgou o acordo de apoio ao Governo Regional, logo seguida pelo deputado eleito pelo Chega e que hoje é independente.

A decisão da Iniciativa Liberal nos Açores é grave e sintomática dos tempos políticos que vivemos. Por um lado, demonstra que a IL não é um parceiro estável para apoiar uma solução governativa de centro-direita. Por outro lado, denota um grau elevado de irresponsabilidade e imaturidade política porque retira, na primeira oportunidade, a maioria parlamentar ao Governo PSD/CDS-PP e faz o jogo dos socialistas. Mas, acima de tudo, esta decisão de rutura tem de ter uma leitura política a nível nacional. Se a IL se comporta assim nos Açores, como se comportará no dia em que um Governo de centro-direita liderar o país?

A resposta a esta pergunta não tranquilizará seguramente o eleitorado que anseia, com expectativa crescente, pelo período pós-Costa em Portugal. Desde logo, porque a Iniciativa Liberal não é um partido de direita em Portugal, nem os liberais são considerados um partido de direita nos diversos parlamentos da Europa, como recentemente Cotrim de Figueiredo reivindicou de uma forma lapidar.  Nada que deva chocar os mais avisados. É bom recordar que a Iniciativa Liberal se quis sentar na Assembleia da República à esquerda do PSD e bem junto do PS, replicando o posicionamento dos liberais à esquerda do PPE e junto aos Socialistas Europeus no Parlamento Europeu. E é bom não esquecer que os liberais estão coligados com os socialistas em diversos governos por essa Europa fora, designadamente na Alemanha, na Bélgica e na Dinamarca.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para além desta clarificação ideológica, que se saúda por desfazer alguns mitos que foram criados no seio do eleitorado da IL, o atual líder liberal acrescenta imprevisibilidade e instabilidade política com as suas palavras e decisões. Depois de ter sancionado a rutura, Rui Rocha garantiu que, como líder, não só não teria feito o acordo que afastou os socialistas do Governo dos Açores em 2020, como nunca o repetirá no futuro. Para bom entendedor, meia palavra basta.

Acresce que o Chega também já demonstrou que não é um fator de estabilidade, responsabilidade e maturidade política nos Açores. Desde 2021 que o Chega tenta, por todos os meios, deitar abaixo o Governo PSD/CDS-PP na região. Ao ponto de, no dia 17 de novembro daquele ano, a direção nacional do partido ter anunciado que retirava o apoio parlamentar ao Governo Regional dos Açores. As instruções não podiam ter sido mais claras. O Chega deveria deixar de suportar, já no orçamento para 2022, o executivo dos Açores. Tal só não aconteceu porque dois dias depois, a 19 de novembro de 2021, o deputado do Chega nos Açores não acatou as instruções da direção nacional, desautorizando publicamente o seu líder e obrigando-o a recuar nas suas pretensões.

Ao contrário da IL e do Chega, o CDS contribuiu para a mudança política nos Açores e continua a ser fonte de estabilidade, credibilidade e maturidade política. Ao contrário daqueles partidos, o CDS tem a experiência de já ter feito parte de 7 Governos de Portugal em coligação com o PSD, garantindo a governabilidade e a viabilidade desta solução para o nosso país. E a estabilidade, a credibilidade e a competência serão fatores decisivos que os eleitores terão necessariamente de ter em conta quando ponderarem alternativas ao atual poder socialista.

Quando nas próximas eleições legislativas se colocar a decisão sobre uma alternativa ao PS de António Costa, a lição dos Açores terá de ser relembrada. O Governo de centro-direita que, desejavelmente, resultar dessas eleições terá de ser uma solução estável, credível e duradoura. O novo ciclo político necessitará de fiabilidade e consistência para recuperar o país do atraso económico e social causado pelos sucessivos governos socialistas. E dispensará a irresponsabilidade, a imaturidade e a instabilidade de que deram provas dois dos mais jovens partidos da democracia portuguesa na crise nos Açores.