Espanha foi a votos no passado fim de semana. Há um partido vencedor, o Partido Popular, que reforçou a sua votação, o número de deputados e afirmou-se como o maior partido político em Espanha. E depois há um conjunto de partidos derrotados. O PSOE perdeu as eleições, passando de primeira para segunda força política e ficou a uma distância de 14 deputados do PP. O Vox perdeu quase metade da sua bancada parlamentar, sendo o partido mais castigado nestas eleições. O Sumar, um ajuntamento frágil de pequenos partidos de extrema-esquerda, perdeu votos e deputados face ao IU-Podemos. E finalmente os partidos nacionalistas/independentistas tem a mais baixa votação agregada das últimas décadas.

E, no entanto, a situação política em Espanha é tudo menos clara. O vencedor PP corre o sério risco de ser bloqueado pela esquerda, extrema-esquerda e partidos independentista e nem sequer chegar a ser investido nas cortes para governar. Ao invés, os derrotados PSOE, Sumar e independentistas tentarão forjar um novo governo frankenstein, versão espanhola da nossa geringonça, desrespeitando a vontade de mudança dos eleitores espanhóis. Ainda para mais, com a possibilidade cada vez mais real de um potencial governo dos derrotados de esquerda depender do voto de um partido independentista catalão, cujo líder anda fugido à justiça e sobre o qual incide um mandado de captura internacional. Sinais dos tempos estranhos que vivemos.

De estas eleições espanholas é possível retirar várias ilações. Não obstante o PP ter sido o partido mais votado, vários erros foram cometidos durante a campanha eleitoral que prejudicaram fortemente as suas aspirações. Em particular, a decisão do líder do PP de não participar no último e decisivo debate televisivo terá muito provavelmente comprometido a possibilidade de governar Espanha nos próximos quatro anos, designadamente com maioria absoluta e sem precisar de outros apoios. Em democracia, faltar a um debate tem custos. A política tem horror ao vazio e a falta de comparência prejudica quem não está, desencorajando os seus apoiantes. Faltou o centro-direita na parte final da campanha. Quem ganhou com essa ausência foi a esquerda e a extrema-esquerda.

Por outro lado, a esquerda espanhola, não obstante toda a retórica política, não hesitará em coligar-se com a extrema-esquerda, partidos herdeiros da ETA e independentistas catalães fugidos à justiça para se manter no poder e afastar o PP do governo. Ao assumir este cenário como possível, e até desejável, o PSOE manifesta a sua hipocrisia em todo o seu esplendor. Poder a todo o custo, mesmo que para isso tenha de pactuar com criminosos de sangue condenados por mais de 800 assassinatos em tempos de democracia, mas também com inimigos expressos de Espanha que só desejam a sua destruição enquanto reino unitário composto por comunidades autónomas.

A suceder este cenário, a Espanha mergulhará uma vez mais em terrenos perigosos, que aumentam incerteza a um mundo cada vez mais imprevisível. A governação dos países precisa de previsibilidade, de competência e de resultados. Foi sempre assim e cada vez é mais assim, principalmente num mundo mais instável e em guerra. É difícil vislumbrar previsibilidade política num cenário em que a estabilidade do governo de Espanha dependa de experimentalismos e, simultaneamente, da boa vontade de tão díspares e antagónicos apoios. Daí que novas eleições, a realizarem-se ainda este ano, surjam como uma oportunidade acrescida para clarificar a situação política.

Resta-nos a esperança que Portugal aprenda com as lições destas eleições espanholas. Desde logo que a esquerda não é de fiar e que, em qualquer circunstância, estará disponível para se juntar com a extrema-esquerda anti-Nato e anti-UE para formar governo. Depois, que só um centro-direita unido, competente e que não cometa erros é capaz de ganhar eleições e dar esperança a um novo ciclo para o país. Finalmente, que o país dispensaria bem ver o líder do Chega a ovacionar, em Madrid, o líder do Vox, Santiago Abascal, que insiste em desenhar o mapa da península ibérica sem Portugal. Por uma questão de bom senso. Mas acima de tudo, por uma questão de patriotismo.

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