Durante o mês de fevereiro, Portugal assistiu a 29 debates televisivos entre os candidatos a primeiro-ministro, tivemos mais de 60 horas de comentários nas televisões e dezenas de páginas escritas sobre estes mesmos debates nos media e nas redes sociais, que envolveram inúmeros, respeitados e reconhecidos comentadores. Muito se disse e escreveu sobre o País e o estado do mesmo. No mesmo período, aconteceram grandes manifestações de agricultores em 16 estados da União Europeia, incluindo Portugal, que se traduziram numa prova de força deste sector como não há memória. Apesar destes acontecimentos, em tantas horas de discussão e comentários, não se ouviu, nem leu, uma única palavra sobre a Agricultura ou o mundo rural, o que demonstra a relevância que o sector tem hoje na sociedade e na política nacional. Está na altura de reverter esta situação e de demonstrar a importância deste setor para o país e para a economia.

Apesar de a maioria dos protestos terem na sua génese a Política Agrícola Comum e em especial as decisões e imposições vindas de Bruxelas, a nível Nacional temos muito por fazer e está na mão do próximo governo fazê-lo. Dada a urgência deste tópico, e por considerar que a agricultura é um setor fundamental,  a SEDES, Associação para o Desenvolvimento Económico e Social, através do Observatório da Agricultura, desenvolveu o “Policy Paper” – Reflexões e políticas para uma agricultura sustentável e competitiva.

No documento foram identificados seis grandes temas e a sua análise individual permite concluir que, não obstante o esforço de sistematização, há pontos absolutamente transversais que, se não forem endereçados, colocam graves entraves à criação de valor no setor agrícola e florestal. Um dos tópicos mais urgentes a tratar é a necessidade imperiosa de o reconhecer como setor fundamental para o país, tanto a nível económico, como a nível social e ambiental. É urgente reintegrar Agricultura e Florestas e atribuir-lhes a devida importância política. Da mesma forma, é absolutamente relevante legitimar o setor agroflorestal como parte da solução (e não como parte do problema) da questão ambiental. É urgente, também, agir sobre o tema da água, recurso indispensável à vida, fator crítico de competitividade e de resiliência dos sistemas e, por isso, tão importante que esteja na discussão política, a fim de se encontrarem soluções para esta que é uma das grandes preocupações das próximas gerações. E finalmente, é urgente investir na criação de infraestruturas de transporte e telecomunicações, fomentar o aumento da escala (seja das explorações, seja da produção), apostar na desburocratização e na melhoria do serviço público – o estado deverá ser parceiro e não apenas uma entidade de controlo – e em estratégias de comunicação eficazes, atualizar e melhorar a imagem que o próprio país tem do setor, e implementar novas formas de ensinar, mais inovadoras e mais centradas nas reais necessidades do país. O endereçamento destas questões permitirá, não só fazer evoluir o setor primário por si só, mas também servir de motor de desenvolvimento de muitas outras áreas da economia, contribuindo para um maior equilíbrio territorial, bem-estar social, melhor ambiente, e, melhor Portugal.

A importância deste sector terá de ser reconhecida e valorizada, e estas medidas são urgentes implementar.

Só com um sector primário forte, sustentável, competitivo e com actividade em todo o território se pode ter um Portugal melhor, preparado para o futuro e, como é o grande objetivo da SEDES, conseguir duplicar o PIB em 20 anos.

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