O “rally around the flag syndrome”, ou, em Português, a síndrome da reunião à volta da bandeira, é um conceito bem conhecido em relações internacionais. Simplesmente significa que durante tempos de crise, uma nação une-se em volta do seu governo, mesmo que nem sempre concordem com as suas políticas. Por exemplo, com os ataques às torres gémeas em Setembro de 2001, George W. Bush viu a sua taxa de aprovação subir de 51% para 90% em menos de duas semanas. O governo de Costa não fugiu à teoria subindo de 53% em Agosto do ano passado para 60% em plena crise de saúde internacional, e a tendência será para continuar a crescer.
Estamos, de facto, em guerra. Em guerra contra um inimigo apenas visível através de um microscópio. Um inimigo invisível que conseguiu deixar a Europa, e o mundo, parados socialmente e economicamente. Já se adivinha uma crise económica e financeira sem precedentes. A crise de 2008 irá parecer uma brincadeira de crianças ao lado do que estará para vir. E se estamos unidos perante um governo durante uma crise de saúde pública, devemos estar unidos ao lado de um governo durante uma crise financeira. Mas não estaremos. A tal frase “se estás mal, muda-te” nunca irá fazer tanto sentido para os Portugueses. Quando o governo pedir esforços financeiros às famílias, enquanto acolhendo refugiados e oferecendo-lhes alojamento. Quando o governo subir impostos enquanto o parlamento continue a (re)financiar bancos e empresas. Quando o desemprego crescer exponencialmente, enquanto o governo continuar a empregar familiares e amigos. Será inconcebível pedir a uma sociedade democrática que continue unida. Será aqui que Ventura, Chicão e companhia irão ganhar terreno no mapa político português. Com discursos nacionalistas, encarnando Viriato, colocando o português, de Portugal, no epicentro de qualquer filosofia política ignorando o ser-humano, em prol do local onde esse ser humano nasceu.
Quando esta crise chegar, meus caros portugueses, quero pedir união. União tal como se vê agora. União em volta de um governo e em valores de entreajuda, solidariedade e compreensão. Mesmo sendo militante do Partido Socialista, pouco me importa se é o meu partido ou o Partido Social Democrata a liderar o país. Ambos querem uma sociedade aberta, democrata e próspera de valores liberais. Preocupa-me, no entanto, o surgimento de partidos de extrema-direita que se baseiam em valores extremistas, nacionalistas e não comunitários, onde o ser-humano, de outra nacionalidade e raça não tem lugar. Entendo o quão difícil é aceitar a diferença de rendimentos entre classes sociais. Entendo, como emigrante, melhor que muitos outros, o quão difícil é aceitar que, em Portugal, muitas vezes, é-se favorecido ‘cunhas’ em detrimento de qualificações e experiência. No entanto, basta olhar para o Brasil ou para os Estados Unidos para ter uma ideia do que será Portugal daqui a dez anos. Será aquilo que queremos para Portugal e para os Portugueses?
Pelos vistos, o grande custo da crise financeira que se avizinha não será um resgate bancário e corporativo, mas sim o custo para a instituição e valores democráticos portugueses que irá abalar o país durante décadas. Oxalá estarei errado.