Aos 77 minutos já ninguém lhes exigia mais. Íamos perder por poucos e quase felizes com o bom desempenho dos nossos lobos. Os comentadores televisivos atiraram a toalha ao chão e explicavam a falta de pernas nacionais, pelo desgaste causado contra a equipa de Fiji, muito mais forte fisicamente, muito mais profissional desportivamente e muito mais preparada internacionalmente. Os nossos jogadores iam saindo com cãibras, com hematomas, com ombros deslocados, com braços partidos, com rostos ensanguentados e nós, confortavelmente sentados no nosso sofá, baixávamos os olhos já satisfeitos com o brilharete. Mas num campo francês, onde tantos portugueses já suaram, os nossos bravos rapazes fizeram um pirete ao brilharete. Quem não tem pernas corre com a alma como diria mais tarde José Lima. Depois de pararem com valentia mais uma investida de Fiji, Storti pegou na bola e começou a correr. Corre Storti corre, gritávamos nós que vimos o Forrest Gump. E o Storti correu impulsionado pela força das nossas pernas que entretanto se tinham levantado do sofá. Nos décimos de segundo que durou esta eternidade, todos parámos para ver o que ocorria com tamanha correria. Num mar de camisolas brancas que fazia lembrar a espuma do mar, Storti descobriu um caminho marítimo para a linha de fundo. Bastavam mais duas passadas. Mas uma onda branca mais forte acabou mesmo por derrubá-lo e com a linha de fundo ali tão perto, era o nosso sonho que ia ao fundo. Quem nunca parou de correr foi o Marta, vindo quem sabe de Marte, pegou no sonho de todos nós e continuou a correr até à felicidade. Às mãos do Rodrigo, juntou-se o pé direito do Samuel e o pé esquerdo do Jerónimo. Três partes deste corpo estranho chamado rugby nacional que poucos vêem mas onde todos sentem. Corram a ver o futebol, corram. Porque enquanto o sangue português nos correr nas veias, novos sonhos se cumprirão.

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