Quer queiramos, quer não, as gerações mais novas carecem de uma informação rigorosa no que ao Holocausto diz respeito. Na verdade, e infelizmente, não me posso remeter apenas à temática do Holocausto, mas a toda uma memória histórica, num sentido lato, que urge ser salvaguardada. Mas isso dará pano para muita manga. Adiante.

A desumanidade praticada — e incutida de uma forma que ultrapassa a inteligência mais parca do comum dos mortais – nos campos de concentração, sejam eles oriundos das políticas extremistas do III Reich ou não, tem a sua expressão mais visível a sul da Polónia, bem perto da fronteira com a Alemanha: Auschwitz. Volvidos 75 anos desde a sua libertação pelo Exército Vermelho — sob alçada da tirania de um georgiano com mão pesada – o mundo carece de uma memória mais íntegra e capaz do que realmente ali se passou. Carece, sim, um memorial verídico e competente de evocar de forma perpétua aquilo que Deus – se, de facto, andar por aí – jamais conseguirá explicar às massas que agora se vão inteirando da vida. Deixar cair o período de Auschwitz no esquecimento é mais grave e mais preocupante do que o folclore dos discursos dos mais recentes movimentos/partidos neofascistas que por aí emergem, aqui e acolá.

Os que, há 75 anos, não entraram na “marcha da morte”, e que ignoraram a velha máxima nazi que falava de um trabalho que libertava – proposição que esperançava o milhão que viria a perecer ali – são cada vez menos. Estão a morrer. E, com eles, voarão as histórias que têm de ser retidas com a máxima urgência. Auschwitz é eterno. Não há uma segunda hipótese. “A Lista de Schindler”, “O Pianista”, “A Vida é Bela”, “Noite e Neblina”, “O Rapaz do Pijama às Riscas”, entre outros, são óptimas formas de salvaguardar o não esquecimento do referido período histórico, mas não chegam. Não podem chegar.

Dos testemunhos dos sobreviventes de Auschwitz, retenho um: “Eis que um dos guardas me olha, com um sorriso de crueldade que jamais esquecerei, e me diz: «Vês o fumo a sair daquela chaminé? É a tua família.»”

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