O diagnóstico de um tumor maligno é sempre causa de grande ansiedade e angústia – e o da tiroide não foge à norma. No entanto, é muito bom poder informar que a grande maioria destes tumores tem um excelente prognóstico, não alterando de forma significativa a esperança de vida.

A prevalência de nódulos da tiroide é muito alta, sobretudo nas mulheres, aumentando com a idade. A grande maioria destes nódulos são benignos e não carecem, regra geral, de qualquer tratamento. Um dos principais objetivos do médico que avalia as pessoas com nódulos da tiroide é o de identificar aqueles que, sendo malignos, requerem uma abordagem especial.

O exame que melhor nos orienta no diagnóstico é a chamada citologia aspirativa, realizada através da punção do nódulo, recorrendo a uma agulha muito fina, com o objetivo de recolher uma amostra de células para avaliação ao microscópio. Importa, no entanto, realçar que este exame tem indicações específicas, sendo muito frequente um nódulo não ter indicação para citologia aspirativa, atendendo ao seu baixo risco de malignidade.

A cirurgia tem um papel central no tratamento do carcinoma da tiroide e numa percentagem significativa dos casos é curativa. Até há poucos anos, todas as pessoas com um nódulo da tiroide, com citologia aspirativa maligna, eram submetidas a uma operação cirúrgica que, no mínimo, removia a totalidade da tiroide, tecnicamente designada por tiroidectomia total. Atualmente, atendendo ao excelente prognóstico de muitos destes tumores, aceita-se que, nalguns casos, só seja removida metade da tiroide, ou lobo, onde está localizado o nódulo maligno, cirurgia designada por hemitiroidectomia. Trata-se de uma intervenção com menos riscos e que, regra geral, não torna as pessoas dependentes da toma de medicamentos para toda a vida.

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Quando o diagnóstico é um dos tipos mais comuns de tumor maligno da tiroide, com origem na célula folicular, responsável pela produção das hormonas T4 e T3, pode ser necessário realizar um tratamento complementar com iodo radioativo (Iodo-131) após a cirurgia. Optamos por efetuar este tratamento, por exemplo, quando existe algum risco de reativação (recidiva) do tumor. Trata-se de uma forma de radioterapia. Atendendo à perspetiva de exposição à radiação, é comum que a proposta desta terapêutica seja causadora de alguma preocupação. É, na realidade, um tratamento muito bem tolerado. Obriga, no entanto, a um internamento numa estrutura especificamente preparada para este fim, na generalidade dos casos com o único objetivo de proteger a comunidade da exposição desnecessária à radiação.

Outro dos pilares do tratamento do carcinoma da tiroide, com origem na célula folicular, é a toma da hormona da tiroide (levotiroxina), sob a forma de comprimido, numa dosagem ligeiramente superior à habitualmente utilizada no tratamento do hipotiroidismo. Desta forma, esta medicação, em casos selecionados, ajuda a controlar a multiplicação das células malignas.

Os carcinomas avançados da tiroide, com invasão das estruturas do pescoço ou com disseminação à distância (metástases), envolvendo, por exemplo, o pulmão ou o osso, são muito pouco frequentes. Nos últimos anos, têm surgido uma série de medicamentos que permitem, de forma eficaz, controlar a sua progressão, quando não existe indicação ou resposta ao tratamento com Iodo-131.

Uma questão frequentemente colocada nas consultas de oncologia da tiroide relaciona-se com a necessidade de rastrear os familiares de uma pessoa com carcinoma da tiroide. Na generalidade dos casos, esta avaliação não está recomendada. Uma das exceções é o carcinoma medular, com origem numa célula especial, produtora de calcitonina, que representa menos de 5% dos tumores malignos da tiroide e que, em cerca de 25% dos casos, é familiar. O seu diagnóstico deve motivar a realização de um estudo genético. Se for identificada uma mutação no gene associado a este tipo de tumor, os familiares mais próximos devem ser objeto de avaliação.

Pela sua especificidade, o tratamento dos tumores malignos da tiroide deve ser realizado em centros com experiência, com o envolvimento de médicos especialistas em Endocrinologia e Cirurgia, com diferenciação em Oncologia tiroideia.

Nesta altura complexa em que vivemos, considere não atrasar exames ou consultas que podem fazer a diferença para toda a sua vida. A sua saúde também depende de si.