Carlos Moedas vai construindo o seu caminho. Faça-lhe justiça que anunciou ao que vinha desde “a casa de partida”: logo aquando do anúncio de candidatura à Câmara Municipal de Lisboa (CML), no Instituto Superior Técnico, de forma clara e inequívoca referia (era Rui Rio Presidente do PSD) que o seu objetivo era “unir o centro-direita em Portugal”.

Carlos Moedas apresentava-se então ao eleitorado de Lisboa. Mas já anunciava que era Portugal, a meta, o objetivo, o destino.

Na tomada de posse como edil da cidade de Lisboa, a Praça do Município recuperou temporariamente imagens de um passado de má memória para muitos. Lá se encontrava – e eram notícia pela sua presença – a direita unida, destacando-se várias personalidades como o ex-Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, os antigos primeiros-ministros Francisco Pinto Balsemão, Pedro Passos Coelho e Pedro Santana Lopes, bem como o líder “morto em combate” e ainda então presidente do PSD, Rui Rio, louvando Lisboa, a sua vitória, reiterando que o Homem, o edil de tipo novo, teria um grande futuro.

Certamente que tão ilustres e experimentados dirigentes não desconheciam que a “Política” e o “Ocidente” surgiram na Grécia de Platão e Aristóteles e que era na Cidade de Delfos, onde existiria o mais famoso dos oráculos do mundo antigo, que as Pitonisas previam o futuro. O tempo tem vindo a certificar os créditos das “Pitonisas” em Portugal, que corporizaram os interesses da direita no novo autarca de Lisboa.

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Carlos Moedas também tem feito de forma trabalhada a sua parte, de forma aplicada e disciplinada. No último conclave do PSD solidificou a sua “magistratura de influência” recolhendo mais aplausos que o novo Líder do PSD, Luís Montenegro, a quem jurou fidelidade.

O tempo passou, Montenegro não descolou e no “horário nobre” da comunicação social é Lisboa e Moedas que passam cada vez mais, zurzindo o Governo e o PS, por tudo e por nada, retirando “tempo de antena” ao Líder do PSD, fazendo de Montenegro um “provisório”, sem adicionar, subtraindo, tornando-se a alternativa viva e atuante para “unir a direita em Portugal”. Carlos Moedas posiciona-se como principal challenger de Luís Montenegro, que começa a ver surgir os primeiros movimentos sérios de insatisfação, consubstanciados em sondagens várias, que revelam sempre o mesmo apagão, falta luz a Montenegro.

Com tanto “futuro” e atividade, sobretudo a atacar o Governo e “minorar” o líder do PSD, torna-se cada vez mais evidente que é difícil a Carlos Moedas governar Lisboa. Vários episódios podem, como exemplo, dar corpo a estas afirmações: as polémicas com o posicionamento do presidente da CML sobre o programa do Governo Mais Habitação, lamentando-se que tenha escolhido apoiar apenas o alojamento local, contra os interesses dos munícipes que se veem asfixiados com rendas exorbitantes e que continuam a ser despejados para a cidade ver as habitações serem convertidas em alojamentos locais ou hotéis; a cobertura de Carlos Moedas à especulação imobiliária e alojamento estudantil, depois de ter inaugurado uma residência para estudantes cujo valor dos quartos se situa entre os 695 euros e os 1.096 euros; as polémicas com a da estátua de homenagem ao general Vasco Gonçalves; o recuo numa das suas promessas eleitorais, de que o fim da Ciclovia da Almirante Reis é apenas um dos exemplos; ou mais recentemente a “oposição” ao Governo, por causa das cheias na cidade de Lisboa; ou as polémicas por causa do incêndio da Mouraria, com a morte de imigrantes e seu posicionamento sobre a imigração.

Estes episódios – sendo que apenas apontei alguns – reforçam a sensação de que a maioria dos “Novos Tempos” atravessa momentos de desorientação. O problema é que a cidade sofre por tabela a incapacidade demonstrada pela CML em responder aos problemas do dia a dia dos lisboetas, como a habitação, a recolha do lixo (que se acumula na cidade) ou a regulação do alojamento local.

Carlos Moedas tem de se preocupar mais com os problemas e desafios de Lisboa do que em procurar ser o líder da oposição no país a partir da praça do município. A ideia de que pretende ser, no futuro, primeiro-ministro de Portugal já não se lhe descola.

Mas Lisboa exige que o seu presidente de Câmara trabalhe em prol da cidade, dos fregueses, contribuindo para a resolução dos problemas do quotidiano, em efetivo diálogo com os lisboetas, projetando o futuro. Senhor Eng.º Carlos Moedas, trabalhe para Lisboa, não lhe pedimos mais.